Adicionar legenda |
Há mais de dois
mil anos o imperador Júlio César decidiu divorciar-se da sua esposa Pompéia,
não porque ela lhe tivesse sido infiel, mas apenas porque esse rumor correu em
Roma. Foi no contexto desse divórcio que Júlio César disse que “à mulher de
César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”. Passaram-se séculos e
aquela frase e o seu significado chegaram até aos nossos dias, sendo utilizada
em situações muito diversas, sobretudo de ordem política.
Vem esta evocação
a propósito da dúvida agora surgida a respeito do jovem deputado Pedro Passos
Coelho (PPC) que em tempos se esqueceu dos seus deveres parlamentares e terá
recebido importâncias a que não tinha direito. A questão é simples: ou PPC
tinha regime de exclusividade e não podia ter recebido quantias da ordem dos
150 mil euros por actividades exteriores ao Parlamento que não declarou ao
fisco, ou PPC não tinha regime de exclusividade e, nesse caso, não tinha
direito ao subsídio de reintegração de cerca de 30 mil euros que requereu à
Assembleia da República e lhe foi concedido.
Estes factos
terão ocorrido entre 1995 e 1999 e, a ter acontecido qualquer ilicitude de
natureza criminal, já terá prescrito. Porém, o deputado PPC chegou a
primeiro-ministro e, nessa função, a ausência de responsabilidade criminal não
elimina a responsabilidade política. A ser verdade o que a imprensa vem
revelando, não podemos deixar de condenar quem tem actuado como uma espécie de
justiceiro e tem dirigido uma política de cortes cegos contra funcionários
públicos e pensionistas e, afinal, tem tantos telhados de vidro.
Lamentavelmente, em vez de procurar esclarecer o que se passou, refugia-se em
frases vazias e na falta de memória, ameaçando bater com a porta. Assim, aumenta o
nosso interesse em saber a verdade, até porque em política não vale tudo. À
mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta.