segunda-feira, 11 de março de 2024

Uma vitória frágil, um país partido

Com absoluta normalidade democrática realizaram-se ontem as eleições para a Assembleia da República, de que resultará o futuro XXIV Governo Constitucional de Portugal. Embora ainda não estejam apurados os votos dos círculos eleitorais da Europa e de Fora da Europa que elegem quatro deputados, os resultados apurados nos 308 concelhos e 3092 freguesias continentais e insulares indiciam a vitória da Aliança Democrática (AD) e o segundo lugar para o Partido Socialista (PS), separados apenas por alguns milhares de votos, que representam menos de um por cento dos cerca de três milhões e meio de votos que ambos receberam. Estão já assegurados 79 deputados para a AD e 77 deputados para o PS, o que significa que, no limite e em termos teóricos, o PS ainda pode vir a ter mais deputados do que a AD. Os deputados destas duas forças políticas representam cerca de 70% do total de deputados e, depois de alguns anos de governos do PS, a alternância democrática funcionou e agora será a AD a governar, embora não se saiba se só, ou se acompanhada. O novo governo não tem maioria parlamentar e terá que fazer negociações e concessões, mas também não se sabe a quem, se à esquerda ou à sua direita, com a qual repetidamente recusou alianças.
Os tempos não vão ser fáceis para quem muito prometeu e vai ter as corporações à porta a cobrar essas mesmas promessas. A herança que vai receber é relativamente confortável em termos económicos e financeiros, mas há muitas questões pendentes e sensíveis a aguardar resposta, como o Serviço Nacional de Saúde ou o Novo Aeroporto de Lisboa. O que parece não haver dúvidas é que não se justificava a decisão presidencial de convocar eleições e que os próximos tempos vão ser muito instáveis, o que naturalmente não se deseja, pois já basta a enorme turbulência internacional em que vivemos. A capa da edição de hoje do Jornal de Notícias destaca a percentagem de votos da AD (29,52%), do PS (28,66%) e do partido que mais corporiza o protesto (18,08%), escrevendo, simplesmente: “uma vitória frágil, um país partido”.