Com absoluta
normalidade democrática realizaram-se ontem as eleições para a Assembleia da
República, de que resultará o futuro XXIV Governo Constitucional de Portugal.
Embora ainda não estejam apurados os votos dos círculos eleitorais da Europa e
de Fora da Europa que elegem quatro deputados, os resultados apurados nos 308
concelhos e 3092 freguesias continentais e insulares indiciam a vitória da
Aliança Democrática (AD) e o segundo lugar para o Partido Socialista (PS),
separados apenas por alguns milhares de votos, que representam menos de um por
cento dos cerca de três milhões e meio de votos que ambos receberam. Estão já assegurados
79 deputados para a AD e 77 deputados para o PS, o que significa que, no limite
e em termos teóricos, o PS ainda pode vir a ter mais deputados do que a AD. Os
deputados destas duas forças políticas representam cerca de 70% do total de
deputados e, depois de alguns anos de governos do PS, a alternância democrática
funcionou e agora será a AD a governar, embora não se saiba se só, ou se
acompanhada. O novo governo não tem maioria parlamentar e terá que fazer
negociações e concessões, mas também não se sabe a quem, se à esquerda ou à sua
direita, com a qual repetidamente recusou alianças.
Os tempos não vão
ser fáceis para quem muito prometeu e vai ter as corporações à porta a cobrar
essas mesmas promessas. A herança que vai receber é relativamente confortável
em termos económicos e financeiros, mas há muitas questões pendentes e
sensíveis a aguardar resposta, como o Serviço Nacional de Saúde ou o Novo
Aeroporto de Lisboa. O que parece não haver dúvidas é que não se justificava a
decisão presidencial de convocar eleições e que os próximos tempos vão ser
muito instáveis, o que naturalmente não se deseja, pois já basta a enorme turbulência
internacional em que vivemos. A capa da edição de hoje do Jornal de Notícias
destaca a percentagem de votos da AD (29,52%), do PS (28,66%) e do partido que mais corporiza o protesto (18,08%), escrevendo,
simplesmente: “uma vitória frágil, um país partido”.