terça-feira, 14 de julho de 2015

O triste fim da solidariedade europeia

Depois de muitas semanas de encontros e desencontros, surgiu uma hipótese de acordo quanto ao futuro da Grécia depois de uma maratona de muitas horas de negociações, mas poucos podem acreditar na sua viabilidade. O jornal espanhol ABC retrata hoje a Grécia representada por um frágil barquinho de papel que se afundará com a mais ligeira brisa. A Grécia foi derrotada pelos abutres, humilhada pelos falcões e vai continuar sujeita à mesma austeridade que a tem destruído social e economicamente.
A solidariedade europeia acabou e, lentamente, a Grécia vai apagar-se, mas vai levar consigo o projecto europeu. O fanatismo e a ignorância dos negociadores foi longe demais. Usaram a Contabilidade em vez da História e da Geopolítica. Não ouviram Joseph Stiglitz nem Paul Krugman, ambos distinguidos com o prémio Nobel da Economia. Tiveram uma visão contabilística em vez de uma visão política e cultural. Uma pré-tragédia.
Sabemos que a situação era muito complexa e que o passado despesista do país e as irrealistas promessas eleitorais dos governantes gregos não ajudavam a boas soluções, mas faltou coragem política para encontrar uma outra resposta. O acordo a que se chegou (graças ao valioso contributo lusitano saído do cérebro do nosso Passos!!!), nada resolve e é muito perigoso. Os gregos vão reagir e a instabilidade vai instalar-se naquela área geoestratégica, onde convergem interesses dos mais diversos. Tal como no futebol, tudo pode acontecer a partir da confusão que se vai instalar devido ao desespero de milhões de gregos. Ali bem perto estão acantonados os fundamentalismos e, do outro lado do mar, há muitos milhares de refugiados àvidos de fazer a travessia. É caso para perguntar como foi possível que se chegasse a esta situação e saber quem são os responsáveis por ela. Talvez o ex-comissário Barroso nos possa explicar... Agora, perante o cenário catastrófico que se avizinha, em vez de serem ressarcidos dos créditos concedidos à Grécia para beneficiar cadeias de intermediários corruptos, é bem possível que os credores venham a suportar ventos tempestuosos vindos do Mediterrâneo Oriental mas, então, nem Wolfgang Schäuble, nem Dijsselbloem, nem Lagarde, estarão nos lugares de onde dirigiram esta sinistra operação. E no meio disto tudo, temos o Peter Kazimír, vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças da Eslováquia, a  afirmar que “a Grécia teve de ser punida devido à primavera grega”. Palavras para quê?