segunda-feira, 16 de outubro de 2023

O novo jornalismo e o valor das palavras

A selecção francesa de râguebi perdeu ontem por 29-28 com a equipa sul-africana e foi eliminada na Rugby World Cup. Quando um país inteiro esperava que a sua equipa pudesse conquistar pela primeira vez o título mundial e sonhava festejá-lo em directo e ao vivo no dia 28 de Outubro no Stade de France, em Paris, esta derrota foi demasiado dura para os franceses. Nas suas edições nacionais ou regionais de hoje, toda a imprensa destaca a derrota dos blues e o jornal Midi Libre que se publica em Montpellier, destaca essa notícia com o título “si cruel”. Porém, o fim do sonho francês teve repercussão generalizada em toda a imprensa francesa que hoje utiliza títulos como “tellement cruel”, “terrible désillusion”, “le rêve brisé”, “point final”, “à pleurer” ou “une cruelle défaite”, ignorando tudo o que se passa no mundo, incluindo o noticiário do Médio Oriente, a crise da Ucrânia, os problemas dos refugiados, as alterações climáticas ou até o desgoverno em que se move a União Europeia que, pela mão de Ursula von der Leyen, se tornou um peão irrelevante e sem voz na política internacional.
Numa altura em que o mundo ainda está chocado com a barbaridade do que está a acontecer no Médio Oriente, não deixa de ser curioso que a palavra cruel que tem servido para classificar as acções do Hamas, também sirva para classificar uma derrota num simples jogo de râguebi.
As palavras devem ter um significado preciso, mas o novo jornalismo tende cada vez mais a usá-las de uma forma desproporcionada, ou até inverdadeira, para satisfazer as emoções dos seus leitores e não para relatar factos com verdade e objectividade.