terça-feira, 22 de outubro de 2019

A mundialização do protesto e da revolta

O nosso mundo está em ebulição e há focos de contestação por todo o nosso planeta, que está mais instável e mais perigoso do que nunca, como escreve na sua edição de hoje o jornal Le Parisien.
De facto, o protesto violento e o vandalismo estão a acontecer do Chile ao Líbano, de Hong Kong à Catalunha, mas também na Argélia, no Reino Unido, na Venezuela, no Iémen e na fronteira entre a Turquia e a Síria, além de outros locais.
Há trinta anos também aconteceu mais ou menos o mesmo fenómeno de contestação, quando o vento da liberdade soprou na praça de Tian'anmen, fez cair o muro de Berlim e acabou com a cortina de ferro que Stalin tinha criado em torno da URSS. Porém, passados esses trinta anos, quando o mundo está a atingir níveis de prosperidade muito elevados, as ondas de contestação e a violência que lhe está associada são surpreendentes.
Hoje, perante as imagens que nos chegam de todas as longitudes, vemos que o mundo está realmente em ebulição, proliferando as revoltas populares nascidas dos mais diferentes pretextos e que provocam a instabilidade, a incerteza e o caos. As pessoas não compreendem o que realmente se passa e assustam-se com uma situação que começa a ficar fora do controlo das autoridades nacionais. O jornal Le Parisien indica e caracteriza os 16 países em que actualmente há conflitos sociais, políticos ou militares e procura algumas respostas. Embora os pretextos para a revolta sejam diversos, uns mais compreensíveis que outros, parecem ser a velocidade de circulação da informação e a difusão de imagens icónicas, que geram o contágio do protesto em diferentes pontos do mundo e a adopção das praxis de violência e de vandalismo, tornando a mundialização da revolta muito mais rápida.

O desconcertante paradoxo venezuelano

Há cerca de seis meses reinava o caos e a incerteza na Venezuela, com meio mundo a hostilizar o regime de Nicolas Maduro e com a população envolvida em grandes manifestações, ora contra o governo venezuelano, ora a favor do regime chavista. A situação económica do país era gravíssima, com carências de bens de primeira necessidade e com uma inflação descontrolada. Donald Trump e alguns dos seus aliados sul-americanos aproveitaram a debilidade venezuelana e ensaiaram um golpe para afastar Maduro do poder, tendo apostado no ambicioso Juan Guaidó, o jovem presidente da Assembleia Nacional que, aos 35 anos de idade, se imaginou como o novo Simon Bolivar dos tempos modernos. A estratégia adoptada passou por intensas campanhas de manipulação da opinião pública nos mass media internacionais e pela intoxicação repetida de fake news, além de outras acções complememtares como foi a encenação mediática das fugas em massa para o Brasil e a ajuda humanitária através da fronteira com a Colômbia, a que aderiu a nossa pouco esclarecida RTP. A gente de Guaidó esperava a deserção maciça para o seu lado dos aparelhos militar e judicial, mas isso não aconteceu e a contestação perdeu fôlego, enquanto o Donald Trump se cansou de ter tido mais um insucesso nas suas políticas de destabilização nos países que não partilham do seu ideário. Durante alguns meses, a Venezuela foi esquecida e a imprensa mundial retirou-a da sua agenda. Até que, provavelmente inspirado pelo que se passa na Catalunha e no Chile, Juan Guaidó reapareceu para convocar uma grande manifestação para o dia 16 de Novembro que, disse, será o “começo de uma revolta popular sem precedentes na Venezuela”. Se não é uma ameaça de insurreição, parece. Mas esperemos para ver.
Porém, o PIB venezuelano caiu 26,8% no 1º trimestre do ano e, tal como hoje anuncia o jornal El Universal, a inflação acumulada no corrente ano já atingiu 4.679,5%! Com estes desempenhos económicos, tanto a Venezuela como o Maduro e o Guaidó são um terrível e desconcertante paradoxo.