terça-feira, 22 de outubro de 2019

O desconcertante paradoxo venezuelano

Há cerca de seis meses reinava o caos e a incerteza na Venezuela, com meio mundo a hostilizar o regime de Nicolas Maduro e com a população envolvida em grandes manifestações, ora contra o governo venezuelano, ora a favor do regime chavista. A situação económica do país era gravíssima, com carências de bens de primeira necessidade e com uma inflação descontrolada. Donald Trump e alguns dos seus aliados sul-americanos aproveitaram a debilidade venezuelana e ensaiaram um golpe para afastar Maduro do poder, tendo apostado no ambicioso Juan Guaidó, o jovem presidente da Assembleia Nacional que, aos 35 anos de idade, se imaginou como o novo Simon Bolivar dos tempos modernos. A estratégia adoptada passou por intensas campanhas de manipulação da opinião pública nos mass media internacionais e pela intoxicação repetida de fake news, além de outras acções complememtares como foi a encenação mediática das fugas em massa para o Brasil e a ajuda humanitária através da fronteira com a Colômbia, a que aderiu a nossa pouco esclarecida RTP. A gente de Guaidó esperava a deserção maciça para o seu lado dos aparelhos militar e judicial, mas isso não aconteceu e a contestação perdeu fôlego, enquanto o Donald Trump se cansou de ter tido mais um insucesso nas suas políticas de destabilização nos países que não partilham do seu ideário. Durante alguns meses, a Venezuela foi esquecida e a imprensa mundial retirou-a da sua agenda. Até que, provavelmente inspirado pelo que se passa na Catalunha e no Chile, Juan Guaidó reapareceu para convocar uma grande manifestação para o dia 16 de Novembro que, disse, será o “começo de uma revolta popular sem precedentes na Venezuela”. Se não é uma ameaça de insurreição, parece. Mas esperemos para ver.
Porém, o PIB venezuelano caiu 26,8% no 1º trimestre do ano e, tal como hoje anuncia o jornal El Universal, a inflação acumulada no corrente ano já atingiu 4.679,5%! Com estes desempenhos económicos, tanto a Venezuela como o Maduro e o Guaidó são um terrível e desconcertante paradoxo.

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