Nas últimas horas
ocorreram diversos episódios na política portuguesa cuja interpretação tem sido
feita por agentes políticos, muitos jornalistas e dezenas de comentadores, com os mais
diversos pontos de vista. Depois de muitos meses de alegre e muito cooperante actividade,
com dezenas de reuniões e de muitos elogios mútuos, o Presidente da República e
o Primeiro-Ministro exibiram publicamente a sua discordância sobre a situação
do Governo e a sua composição.
Marcelo Rebelo de
Sousa e António Costa conhecem-se há cerca de cinquenta anos, tanto na
actividade académica, como na vida política, tendo perfis políticos muito
próximos. Tal como acontecera com os anteriores Presidentes da República, desde
há cerca de sete anos que estas duas personalidades se reúnem em Belém todas
as quintas-feiras. Foram centenas de encontros, em que algumas vezes terão
estado em desacordo, mas que souberam ultrapassar com discrição e reserva. E o
povo gostava desta aliança, até porque os tempos eram difíceis. Porém, o
peculiar costume de Marcelo Rebelo de Sousa de trazer para a comunicação social
alguns assuntos que deveriam ser reservados e de lembrar com demasiada frequência
os seus poderes, ou seja, aquilo a que por vezes se tem chamado a ausência de
uma “gestão cuidadosa da palavra e do silêncio”, fez estalar alguma tensão
entre os detentores desses dois órgãos de soberania.
Na presente
conjuntura política, Marcelo Rebelo de Sousa fez saber na praça pública que não
aceitava a continuação de um certo ministro no governo e António Costa reagiu a essa
“ameaça” ou vontade presidencial, tendo decidido manter o referido ministro no
seu governo, até porque é um direito que lhe assiste em exclusivo. Aparentemente, ficou o caldo entornado. Veremos.
Nada vai ser como
dantes. Hoje, na habitual reunião das quintas-feiras, eles lá se encontrarão
em Belém, desejavelmente para se acalmarem, como o país exige.