quinta-feira, 4 de maio de 2023

Forte ventania sobre Belém e São Bento

Nas últimas horas ocorreram diversos episódios na política portuguesa cuja interpretação tem sido feita por agentes políticos, muitos jornalistas e dezenas de comentadores, com os mais diversos pontos de vista. Depois de muitos meses de alegre e muito cooperante actividade, com dezenas de reuniões e de muitos elogios mútuos, o Presidente da República e o Primeiro-Ministro exibiram publicamente a sua discordância sobre a situação do Governo e a sua composição.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa conhecem-se há cerca de cinquenta anos, tanto na actividade académica, como na vida política, tendo perfis políticos muito próximos. Tal como acontecera com os anteriores Presidentes da República, desde há cerca de sete anos que estas duas personalidades se reúnem em Belém todas as quintas-feiras. Foram centenas de encontros, em que algumas vezes terão estado em desacordo, mas que souberam ultrapassar com discrição e reserva. E o povo gostava desta aliança, até porque os tempos eram difíceis. Porém, o peculiar costume de Marcelo Rebelo de Sousa de trazer para a comunicação social alguns assuntos que deveriam ser reservados e de lembrar com demasiada frequência os seus poderes, ou seja, aquilo a que por vezes se tem chamado a ausência de uma “gestão cuidadosa da palavra e do silêncio”, fez estalar alguma tensão entre os detentores desses dois órgãos de soberania.
Na presente conjuntura política, Marcelo Rebelo de Sousa fez saber na praça pública que não aceitava a continuação de um certo ministro no governo e António Costa reagiu a essa “ameaça” ou vontade presidencial, tendo decidido manter o referido ministro no seu governo, até porque é um direito que lhe assiste em exclusivo. Aparentemente, ficou o caldo entornado. Veremos.
Nada vai ser como dantes. Hoje, na habitual reunião das quintas-feiras, eles lá se encontrarão em Belém, desejavelmente para se acalmarem, como o país exige.

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