A edição de ontem
do jornal espanhol elEconomista.es inclui na sua primeira página um mapa da
Ucrânia, em que a parte ocidental está colorida com as cores nacionais azul e amarelo, enquanto a parte oriental apresenta dois tons de castanho que parecem ser as
cores das repúblicas rebeldes. Aparentemente a linha que separa as duas partes
é o rio Dnieper e a legenda que acompanha o mapa refere que “Putin quiere partir
Ucrania por el eje entre Kiev y Odesa”. O mapa sugere
várias coisas aos não especialistas em geopolítica, como a partilha da Alemanha em 1945 ou a divisão da Checoslováquia em 1993.
Quando a guerra
na Ucrânia já vai no seu 13º dia, pouco sabemos sobre o que realmente se passa
em termos operacionais e das perdas e ganhos de cada uma das partes, embora
saibamos que há mais de dois milhões de refugiados e uma enorme destruição que
está a ser provocada nas cidades. Todos já perceberam, tanto nos teatros da
guerra como fora deles, que não haverá vencedores. Todos já perceberam que há
muitos ucranianos que culturalmente querem ligar-se à Europa e muitos outros que querem
ligar-se à Rússia. Todos já percebemos que as principais cidades estão a ser destruídas. O sofrimento do povo e a tragédia são indescritíveis. O cessar-fogo é absolutamente necessário, mas a paz e a concórdia
entre os ucranianos não parece ser possível durante muitos anos.
Nessas condições
tem muito interesse um artigo escrito em 2014 pelo antigo secretário de Estado
americano Henry Kissinger no jornal The
Washington Post com o título “To settle the Ukraine crisis, start at the
end” (edição de 5 de março de 2014).
Desse artigo
destaco as seguintes passagens:
-
Com demasiada frequência, a questão ucraniana é apresentada como um confronto:
se a Ucrânia se junta ao Oriente ou ao Ocidente. Mas para que a Ucrânia
sobreviva e prospere, não deve ser o posto avançado de nenhum dos lados contra
o outro – deve funcionar como uma ponte entre eles.
-
O oeste é em grande parte católico; o leste em grande parte ortodoxo
russo. O oeste fala ucraniano; o leste fala principalmente
russo. Qualquer tentativa de uma ala da Ucrânia de dominar a outra – como
tem sido o padrão – levaria eventualmente à guerra civil ou à ruptura
- Devemos buscar a
reconciliação, não a dominação de uma facção.
- Internacionalmente, devem seguir
uma postura comparável à da Finlândia. Essa nação não deixa dúvidas sobre
sua feroz independência e coopera com o Ocidente na maioria dos campos, mas
evita cuidadosamente a hostilidade institucional em relação à Rússia.
Kissinger dixit. Há muita gente a procurar o
cessar-fogo e a paz: turcos, chineses e israelitas, bem como algumas
personalidades internacionais com Macron na primeira fila. Talvez lhes seja útil lerem o texto de Kissinger
que está disponível na internet.