segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Djokovic é uma estrela do ténis mundial

O tenista sérvio Novak Djokovic triunfou ontem pela décima vez no Australian Open e com este triunfo totalizou 22 vitórias em provas do Grand Slam ou majors, isto é, os quatro mais importantes torneios anuais do ténis – Australian Open, French Open (Roland Garros), Wimbledon e US Open. Através da televisão pudemos ver alguns milhares de australianos de origem sérvia a apoiar o seu ídolo no Melbourne Park, bem como a forte emoção que tomou conta do tenista de Belgrado após a vitória.
O ténis mundial tem sido dominado desde o início do século XXI por Roger Federer, o suiço de 41 anos de idade que venceu 20 provas do Grand Slam, por Rafael Nadal, o espanhol de 36 anos de idade que triunfou em 22 provas do mesmo Grand Slam e por Novak Djokovic de 35 anos de idade que, com este triunfo igualou Rafael Nadal no número de vitórias em provas do Grand Slam. Com este resultado, Djokovic recuperou a liderança do ranking ATP, o que também constitui um feito notável. Os dois maiores rivais do tenista sérvio felicitaram-no pelo seu êxito, a mostrar o elevado fair play que domina o ténis enquanto modalidade desportiva. Note-se que, de acordo com números que circulam, o total dos prize moneys conquistados por estes três tenistas ultrapassam os 400 milhões de dólares.
A repercussão deste notável feito desportivo foi noticiada em alguns jornais mundiais, mas aqui destacamos a forma exuberante como o Sportski žurnal (Спортском Журналу), o principal jornal desportivo de Belgrado, noticiou o feito do maior atleta sérvio da actualidade.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Ainda as sequelas da guerra das Falklands

O diário chileno Las Últimas Noticias divulgou na sua edição de ontem, com destaque de primeira página, uma curiosa história que envolveu um navio-patrulha da Royal Navy, que integra em permanência a força naval britânica estacionada nas ilhas Malvinas ou Falklands. Trata-se do HMS Forth (P 222), um navio da classe River, que desloca 2.000 toneladas, tem 90 metros de comprimento e uma guarnição de 50 elementos. O navio costuma visitar o porto chileno de Punta Arenas para reabastecimento e para realizar alguns trabalhos de manutenção, mas no passado mês de Novembro, em que se previa a sua participação na Exponaval de 2022 que se realizou na cidade chilena de Valparaiso, as autoridades chilenas não autorizaram a visita do navio britânico para não melindrar os seus vizinhos argentinos. Segundo revela o jornal, tudo resultou de excesso de zelo de alguns funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros e esta decisão foi muito criticada, porque ao procurarem agradar à Argentina, acabaram por ofender o Reino Unido, que até esteve representado em Valparaiso pelo subchefe da Royal Navy.
De facto, a Marinha chilena tem uma relação bicentenária com a Royal Navy e o almirante escocês Lord Cochrane é um dos seus heróis nacionais, pelo papel que teve na luta pela independência chilena e, depois, na ajuda que deu à independência do Brasil, isto é, “la marina de Chile es hija de la marina británica y se ha mantenido en ese papel durante los ultimos 200 años”.
Certamente que a República do Chile já apresentou desculpas ao Reino Unido por este seu lapso histórico e diplomático, mas é curioso verificar que, quarenta anos depois da guerra das Falklands ou Malvinas, continuam os ressentimentos argentinos em relação à presença britânica naquelas ilhas.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Os Leopard como instrumento da escalada

A mais recente edição da revista Der Spiegel destaca na capa a imagem de um tanque Leopard e o seu conteúdo tem como assunto principal a decisão alemã de fornecer catorze desses tanques à Ucrânia. O título escolhido é uma interrogação muito pertinente:
“Agora a Ucrânia pode vencer?”, enquanto o subtítulo refere “Como o Leopard está a mudar a guerra – e o que o Ocidente está a arriscar no processo”.
A revista tratou de conhecer a opinião dos alemães quanto a esta decisão e, segundo uma pesquisa de opinião, a entrega dos tanques teve a aprovação da maioria da população alemã, embora o mesmo não aconteça em relação a uma eventual cedência de caças, que parece ser a nova exigência ucraniana. Refere a revista que “com a entrega de tanques Leopard, a guerra ucraniana está entrando em uma nova e perigosa fase”, perguntando “se o chanceler Scholz está à altura da tarefa”.
Dos diferentes artigos inseridos na revista parecem ressaltar três ideias principais: a “vontade ocidental de ganhar a guerra”, “o medo da escalada” e a enorme pressão dos “belicistas”.
Naturalmente “o Ocidente quer que Kiev vença esta guerra e isso é mostrado pelas entregas de tanques de batalha”. No que respeita à escalada, é salientado que a Rússia já considerou que “foi cruzada uma linha vermelha”, esperando-se a sua reacção no terreno. Quanto às pressões dos belicistas, a revista anuncia que “os fabricantes alemães de armas estão enfrentando um negócio de biliões de dólares”.
É certo que às dúvidas de Olaf Scholz e à sua decisão demorada e difícil, se juntou Joe Biden ao anunciar a entrega de 31 tanques Abrams, embora esclarecendo que se trata de ajudar a Ucrânia a defender o seu território, isto é, “não é uma ameaça ofensiva à Rússia”.
Mesmo com a nossa tradução pouco rigorosa, estas parecem ser as linhas principais da edição do Der Spiegel.

O turismo chinês está de regresso a Macau

A epidemia do covid-19 afectou severamente o turismo de Macau, mas com o fim das quarentenas e das restrições pandémicas impostas pelas autoridades chinesas, muitos milhares de pessoas das regiões vizinhas de Macau voltaram àquela região autónoma especial da República Popular da China. Na sua edição de hoje, o jornal ponto final publica uma fotografia das ruínas de São Paulo, um dos mais expressivos ex-libris da cidade e um dos maiores testemunhos da herança cultural portuguesa, escrevendo que “turistas, sem medo da pandemia, voltam a encher as ruas de Macau”. O jornal fez uma pequena reportagem sobre este enorme afluxo de turistas que aproveitaram os feriados do Ano Novo Lunar e que, mais do que o interesse pelos casinos, vieram à procura da boa comida, da paisagem da cidade e… do ouro. O ouro é um símbolo de sorte para os chineses, que compram ouro no primeiro dia do ano para terem sorte no resto do ano, acontecendo que o ouro de Macau se tornou uma imagem de marca muito apreciada, sobretudo pela falta de confiança no ouro do interior da China.
Depois de três anos de crise, os comerciantes da baixa de Macau estão optimistas, apesar do volume de turistas ainda estar a cerca de 50% do que havia no período equivalente anterior à pandemia. Refira-se que, segundo os números divulgados pelos Serviços de Turismo, no ano de 2022 a cidade recebeu 5,7 milhões de turistas, um número bem longe dos valores de 2019, quando Macau recebeu 40 milhões de turistas, quase sessenta vezes a população da cidade.
O turismo é realmente muito importante para a economia macaense, como também é importante a carga emocional de vermos as ruínas de São Paulo na capa do jornal ponto final.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

As festas do 74º Republic Day na Índia

A República da Índia é uma união de estados que fica situada na Ásia do Sul e que está organizada como uma democracia parlamentar. É constituída por 28 estados (um dos quais é o estado de Goa) e por oito territórios da União (um dos quais é o Union Territory of Dadra, Nagar-Haveli, Daman & Diu). É o segundo país mais populoso do mundo, a sexta maior economia e o sétimo país mais extenso do planeta. As suas línguas nacionais são o inglês e o hindi, mas a maioria dos seus 28 estados tem a sua língua reconhecida constitucionalmente. Por isso, é costume dizer-se que a Índia tem cerca de 30 línguas e 447 idiomas, havendo referências à existência de 1.652 dialectos. Em termos religiosos, cerca de 80% da população pratica o hinduísmo, havendo cerca de 15% de islamistas, 2,5% de cristãos e várias outras religiões como o sikhismo, o budismo e o jainismo.
Em princípios do século XIX os ingleses conseguiram dominar a península do Industão e criaram o Raj Britânico, mas no dia 15 de Agosto de 1947 cederam aos movimentos independentistas e concederam a independência à sua “jóia da coroa”, de que resultaram a República da Índia, o Paquistão, o Myanmar, o Bangladesh e o Ceilão, depois chamado Sri Lanka.
Não haverá no mundo nenhum país com tantos contrastes como a República da Índia, sobretudo devido às grandes desigualdades sociais, ao abismo entre a riqueza e a pobreza, bem como às enormes diferenças religiosas, linguísticas e culturais.
Por isso, o dia 15 de Agosto (Independence Day) e o dia 26 de Janeiro (Republic Day) são aproveitados para organizar grandes paradas militares para estimular o sentido de unidade nacional entre os indianos. Hoje celebrou-se o Republic Day com uma grande parada em Nova Delhi e em muitas outras cidades indianas e, como de costume, os jornais indianos publicaram muitos anúncios comerciais, por vezes em primeira página, a saudar a Índia pelo 74º aniversário da República. Um deles foi o The New Indian Express.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A Ucrânia, as armas e a perigosa escalada

Depois de algumas semanas em que o tema foi amplamente discutido, a Alemanha cedeu às pressões da Ucrânia e da NATO, tendo decidido enviar 14 dos seus blindados Leopard 2A4 para as forças ucranianas, ao mesmo tempo que autorizou que os diferentes países que possuem aquela arma a possam reexportar para a Ucrânia, havendo informações de que vários países, a começar pela Polónia, vão ceder uma parte da sua frota para a defesa da Ucrânia. O jornal El Correo que se publica na Biscaia, destaca na sua edição de hoje um carro de combate Leopard 2A4.
Poucas horas depois, o presidente Joe Biden informou que os Estados Unidos iriam fornecer 31 blindados M1 Abrams, enquanto o Reino Unido já anunciara o fornecimento de 12 tanques Challenger 2. Tal como tem acontecido com os mísseis, também a indústria alemã do armamento agradece esta súbita procura dos seus produtos, que muito anima os seus negócios.
É a escalada e a escalada é muito perigosa! A seguir aos tanques, pedirão aviões e mísseis de longo alcance e, depois, exigirão homens. Jens Stoltenberg, o secretário-geral da NATO, já se comporta como o líder de uma das partes da guerra e, tal como Zelensky, exige que os países da NATO se envolvam ainda mais no conflito. Do lado russo já são várias as declarações feitas por responsáveis do círculo de Putin, de que os Abrams e os Leopard "serão destruídos". Com tantos tanques, a Ucrânia irá procurar expulsar os russos do seu território, enquanto os russos procurarão aguentar as suas posições.
O crescente empenhamento de meios militares no terreno vem confirmar a teoria do neokeynesianismo militar e o paradigma de Paul Samuelson – canhões ou manteiga. Lamentavelmente poucos parecem defender o povo ucraniano que sofre e morre por causas a que é alheio. Afinal quem quer o fim da guerra? Prevalece a ideia de que a paz não é possível por agora. Ambos os contendores afirmam que vão ganhar, mas todos perdemos com esta guerra.

sábado, 21 de janeiro de 2023

A guerra na Ucrânia sem sinais de trégua

A guerra na Ucrânia está quase a perfazer um ano e os cenários de morte e de destruição são impressionantes. A dimensão da catástrofe humanitária é aterradora e não há sinais de que alguém procure o cessar-fogo, as negociações e a paz. Pelo contrário, a linguagem da guerra é cada vez mais agressiva, com cada uma das partes a pretender destruir o adversário. O povo ucraniano sofre e acaba por ser a vítima do confronto de interesses que não serão os seus.
Ninguém imaginava que a vontade ucraniana de se juntar à União Europeia e à NATO, pudesse levar à intervenção da Rússia e a um confronto que, cada vez mais, tem envolvimentos internacionais e que é demasiado perigoso para o futuro do nosso planeta. 
Muitos procuram o confronto e poucos procuram o consenso. Na sua edição de ontem, o diário holandês Trouw que se publica em Amesterdão, destaca o conflito em curso e ilustra a sua primeira página com um mapa da Ucrânia, mostrando as silhuetas do tanque inglês Challenger 2 e do tanque alemão Leopard 2A4, parecendo sugerir que serão esses tanques que poderão resolver a situação militar a favor da Ucrânia. O título da notícia salienta que o Ocidente vai aumentar o seu apoio em armamento na esperança de desequilibrar a situação que, desde há várias semanas, parece ser estável na frente de combate. Porém, as silhuetas dos tanques podem sugerir aos leitores que eles serão a chave para a vitória ucraniana, mas essa sugestão é enganadora, porque o poder militar depende de vontades, de estratégias, de qualificações e de um mix de armamento, que envolve muitos outros meios como os aviões, os mísseis, a artilharia e os drones, entre outros. Os ucranianos “exigem” tanques modernos para derrotar os russos, mas isso pode significar uma escalada no conflito que muitos dos seus aliados e amigos não querem. A Ucrânia vem denunciando a “indecisão geral” dos seus aliados quanto ao fornecimento de tanques, sobretudo os famosos Leopard 2A4 alemães, mas muitos especialistas afirmam que aquela guerra não tem solução militar, embora haja demasiados políticos que não os ouvem.

Tamborradas de San Sebastián/Donostia

As festas populares que se realizam em algumas localidades espanholas incluem desfiles de tambores e bombos conhecidos por tamborradas, que já foram classificadas pela Unesco como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
As tamborradas de San Sebastián ou Donostia nasceram no século XIX, realizam-se no dia 20 de Janeiro quando se celebra o Dia de San Sebastián e constituem uma festa popular marcante na identidade cultural basca. São um espectáculo musical de grande impacto, em que participam mais de uma centena de sociedades ou grupos, habitualmente formados por mais de uma centena de tamborileros, cujos trajes se inspiram nos uniformes das tropas napoleónicas que ocuparam a cidade.
A festa inicia-se à meia-noite do dia 19 de Janeiro com a cerimónia do içar da bandeira na praça da Constituição e, a partir daí, os tamborileros, que serão sempre cerca de vinte mil, percorrem toda a cidade ordenadamente durante 24 horas, sempre em ambiente muito festivo e com as “emociones donostiarras a flor de piel”. A festa termina onde começou, isto é, na praça da Constituição com a cerimónia da “arriada de bandera”. Desde há vários anos que as tamborradas passaram a integrar mulheres e crianças. As tamborradas das crianças, nas quais ontem participaram cerca de cinco mil alunos das escolas básicas vestindo uniformes militares como se fossem pequenos "napoleões", constituem sempre uma das facetas mais apreciadas das festas. A edição de hoje de El Diario Vasco destaca exactamente uma imagem dos jovens tamborileros da cidade de Donostia ou San Sebastián.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Dever de informar e direito ao bom nome

Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia, anunciou ontem que no início do próximo mês de Fevereiro abandonará o cargo que ocupa desde 2017. Nessa altura tinha apenas 37 anos de idade e nunca no mundo houvera uma mulher tão jovem a chefiar um governo. Na sua actividade ultrapassou algumas crises que afectaram a Nova Zelândia, como a erupção do vulcão Whakaari e o massacre da mesquita de Christchurch, o que a tornou muito popular, tanto no plano internacional como no plano interno. 
Ontem, na sua declaração, Jacinda Ardern alegou cansaço no exercício das suas funções e afirmou que “sou humana" e que "os políticos são humanos”, o que significa que a sua demissão mostra como é difícil o equilíbrio entre a vida pública e a vida familiar. Essa dificuldade, terá sido acentuada com as crescentes campanhas de difamação e os ataques pessoais, com os abusos da imprensa e com as ameaças de grupos radicais. “É um dia triste para a política, porque um líder excepcional se cansou da constante difamação”, disse a líder do partido maori da Nova Zelândia. A notícia encheu a primeira página da edição de hoje do jornal australiano The Camberra Times e obriga-nos a reflectir sobre o que se passa em Portugal. 
De facto, nas últimas semanas a comunicação social tem publicado diversas notícias, verdadeiras ou falsas, que levantam insinuações ou suspeitas sobre o comportamento institucional e sobre a gestão pública de agentes políticos a vários níveis. Naturalmente, a comunicação social deve ser livre e independente para defender a verdade e o sistema democrático, mas tem que ser responsável. A ética jornalística deve estar acima do protagonismo dos jornalistas, do sensacionalismo mediático e das instâncias editoriais, porque algumas campanhas de difamação e ataques pessoais ultrapassam largamente o dever de informar e colidem com o direito ao bom nome de muitos agentes políticos. Há o risco de muitos agentes políticos portugueses se cansarem como aconteceu com a Jacinda Ardern. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Evocando a figura de Amílcar Cabral

Assinalam-se amanhã 50 anos sobre o dia 20 de Janeiro de 1973, data em que Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri. Natural de Bafatá, uma cidade localizada no interior da então Guiné Portuguesa, Cabral passou a sua infância e adolescência em Cabo Verde e licenciou-se em Agronomia em Lisboa. Era engenheiro agrónomo dos Serviços de Agricultura da Guiné Portuguesa quando em 1956 fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), cujo desígnio era a autodeterminação e a independência da Guiné e de Cabo Verde. A partir de 1963 e depois de repetidas propostas de negociações que o governo português sempre recusou, passou a dirigir a luta armada de libertação nacional contra o poder colonial e pela independência, com grande apoio internacional. Apesar da dureza da guerra que se travou nas matas, nas bolanhas e nos rios da Guiné, em nenhum momento Amílcar Cabral confundiu o sistema colonial com o povo português, pelo qual afirmava grande afecto, bem como a sua admiração pela língua portuguesa. O seu prestígio tornou-o num respeitado líder entre todos os movimentos independentistas que lutaram contra os domínios coloniais no terceiro quartel do século XX.
As portas da paz na Guiné estiveram abertas em 1972, quando o governador António de Spínola se encontrou com o presidente senegalês Léopold Senghor em Cap Skirring e Amílcar Cabral propôs encontrar-se com Spínola em território português, eventualmente em Bissau, mas as autoridades de Lisboa recusaram essas negociações. Pouco tempo depois o líder guineense foi assassinado em Conacri, mas nunca se soube “quem mandou matar Amílcar Cabral”.
O antigo ministro Manuel Pereira Crespo disse em 1977 que Cabral “era um homem de muito valor, sem preconceitos raciais e muito chegado aos portugueses, entre os quais tinha bons amigos” e, em 2018, Adriano Moreira escreveu que “talvez Cabral tenha sido o mais luso-tropicalista dos chefes do movimento revolucionário, com um notável uso da língua portuguesa e uma invocação constante dos valores que são os da Carta da ONU”. Em 2022 foi Marcelo Rebelo de Sousa que, “em nome de Portugal”, o condecorou a título póstumo com o Grande Colar da Ordem da Liberdade.
Eu fui um admirador de Amílcar Cabral, embora como combatente estivesse do outro lado e foi em Bissau que em 1973 soube da sua morte.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

O noroeste da Península com frio e neve

O norte e o noroeste da península Ibérica estão sob uma grande instabilidade meteorológica e a passar por uma intensa vaga de frio polar e por situações de temporal. O jornal La Voz de Galicia escreve hoje em título que “la nieve corta carreteras y la intensa lluvia desborda varios rios en Galicia”, enquanto a imprensa do País Basco, da Cantábria e das Astúrias destaca os nevões, os temporais e as inundações que estão a afectar essas regiões. No território português e em especial no nordeste transmontano e na Beira interior, também há estradas cortadas e escolas encerradas devido aos nevões que cobrem muitas povoações.
É o mau tempo! É um sinal dos tempos de inverno e do efeito da depressão Fien, que chegou há dois dias e que ainda vai agravar as condições meteorológicas nos próximos dias, com muito frio, chuva, neve e agitação marítima. Não se trata de nenhuma situação excepcional. Porém, as televisões têm mostrado as imagens do casario e das árvores cobertas de neve em várias localidades dos distritos de Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda, o que está a ser uma boa oportunidade para a intervenção dos correspondentes locais dos diferentes canais televisivos, quase todos referindo "o deslumbramento da paisagem coberta de branco".
Porém, o que esta situação confirma é que a generalidade do país não está preparada para suportar esta onda de frio, nem as temperaturas negativas que se anunciam para muitas regiões. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A maré bolsonarista perde força no Brasil

Foi no dia 8 de Janeiro que, em directo pela televisão, assistimos às manifestações bolsonaristas que avançaram sobre Brasília e que vandalizaram o espaço público onde se localizam os três edifícios monumentais que representam os três poderes da República Federativa do Brasil. Tratou-se de um acto organizado por fanáticos que atentaram contra o regime democrático brasileiro e que provocaram danos irrecuperáveis no património histórico-cultural brasileiro. A cidade que foi criada pela imaginação do urbanista Lúcio Costa e do arquitecto Oscar Niemeyer e que veio a ser inscrita em 1987 na lista de bens do Património Mundial da Unesco, passou pelo dia mais dramático da sua história.
A última edição da revista veja, que é a revista de maior circulação do Brasil, trata dos acontecimentos de 8 de Janeiro e escolheu para manchete com destaque da sua primeira página as palavras vândalos, criminosos, terroristas e golpistas.
Parece, portanto, que a sociedade brasileira está atenta e activa em defesa da democracia, condenando o bolsonarismo golpista e os seus cabecilhas, quer através das autoridades judiciais, quer através da imprensa e da opinião pública. Sucedem-se as notícias nesse sentido, como por exemplo a detenção do ex-ministro da Justiça Anderson Torres que foi ordenada pelo STF e o pedido feito pela PGR para a condenação de 39 radicais acusados da invasão do Senado. Jair Bolsonaro que continua nos Estados Unidos, também é alvo de investigação como possível autor intelectual e instigador dos actos de vandalismo e de um eventual golpe de estado.
Entretanto, o presidente Lula também está atento e porque houve desconfiança no comportamento de militares/polícias que guardavam edifícios oficiais, eventualmente em cumplicidade com os golpistas, decidiu dispensar mais de cinco dezenas deles.
O Brasil está a mostrar-se suficientemente democrático e resiliente para ultrapassar por agora a crise gerada pela derrota de Jair Bolsonaro que, visivelmente, perde apoios internos, porque internacionais nunca os teve.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Navegar é preciso, viver não é preciso

O diário A Voz de Cádiz destacou na sua edição de ontem a partida do navio-escola Juan Sebastián de Elcano da Armada Espanhola para o seu 95º cruzeiro de instrução, com uma fotografia ocupando toda a sua primeira página, a mostrar o interesse que a imprensa gaditana dedica àquele navio.
A bordo deste quase centenário navio seguem 180 tripulantes e 74 guardas-marinhas para uma viagem de seis meses em que atravessarão o oceano Atlântico duas vezes e contornarão a América do Sul. Serão 18 mil milhas de navegação com escalas em Santa Cruz de Tenerife nas ilhas Canárias, Rio de Janeiro (Brasil), Buenos Aires (Argentina), Punta Arenas (Chile), El Callao (Perú), Cartagena de Indias (Colombia), Puerto Limón (Costa Rica), Pensacola e Nova Iorque (Estados Unidos), terminando em Marin na Galiza, isto é, dez portos de sete países. Será a 16ª vez que o Elcano passará do Atlântico para o Pacífico. O jornal destaca a missão do navio como “embajador e navegante” e a importância desta viagem de seis meses para a formação dos futuros oficiais da Marinha espanhola “como personas y como marinos”.
As viagens de instrução são um elemento essencial para a formação marinheira dos oficiais de todas as Marinhas e completa a aprendizagem técnico-profissional de natureza académica. Em Portugal é o navio-escola Sagres que cumpre essa missão de embaixador e de escola de marinheiros, mas o que aqui se salienta é que, ao contrário do que faz A Voz de Cádiz, não há memória de que alguma vez um jornal português tivesse destacado a largada do navio-escola Sagres para as suas viagens de instrução.
Como escreveu Caetano Veloso na sua canção-poema Os Argonautas, “navegar é preciso, viver não é preciso”...

sábado, 14 de janeiro de 2023

23 World Men’s Handball Championship

A selecção nacional de andebol derrotou hoje a equipa da Coreia do Sul por 32-24 num jogo disputado na cidade sueca de Kristianstad, integrado na fase final do 28º Campeonato do Mundo de Andebol. Esta prova é organizada pela Federação Internacional de Andebol e  está a decorrer desde o dia 11 de Janeiro em várias cidades da Polónia (Cracóvia, Gdansk, Katowice e Pilock) e da Suécia (Estocolmo, Malmö, Gotemburgo, Jönköping e Kristianstad). Há dois dias a equipa portuguesa perdera por 30-26 com a Islândia e, na próxima segunda-feira, vai defrontar a Hungria. Nesse dia ficarão apuradas as 24 equipas que disputarão a main round e que serão divididas por quatro grupos, com seis equipas em cada um, que a partir do dia 18 de Janeiro disputarão o quadro final desta competição. Espera-se, naturalmente, que a equipa portuguesa se encontre entre essas 24 equipas que, em princípio, são as melhores do mundo.
O andebol português tem feito grandes progressos a nível internacional e pode afirmar-se que, nos últimos anos, se posicionou como uma das grandes equipas mundiais. Em 1997 tinha participado pela primeira vez numa fase final do Campeonato do Mundo e ficou em 19º lugar, mas depois voltou a ter presença em 2001 (16º lugar), em 2003 (12º lugar) e em 2021 (10º lugar). Esta evolução permite que possamos aspirar a uma boa classificação no 2023 World Men’s Handball Championship que actualmente está a decorrer, o que seria mais um resultado a mostrar que em Portugal há alegrias desportivas para além do futebol.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

A crise brasileira e os pecados do Jair

Três dias depois dos graves acontecimentos ocorridos em Brasília, que configuraram uma tentativa de golpe de estado apoiada em actos de terror e vandalismo nos assaltos às sedes dos três Poderes, com graves danos à estrutura dos edifícios e à memória histórica brasileira, o Datafolha - instituto brasileiro independente de pesquisa de opinião - tratou de interrogar a população a respeito do que se passara. A primeira conclusão do estudo baseado numa amostra de 1.214 entrevistas, que foi publicado pelo diário O Globo e por outros jornais brasileiros, é que os actos golpistas são condenados por 93% dos brasileiros e que apenas 3% dos entrevistados disseram apoiar a invasão do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Congresso. O estudo também verificou que 77% dos entrevistados acham que os envolvidos naquelas acções serão responsabilizados e que 42% esperam uma pena dura.
A sondagem também procurou conhecer a opinião sobre a forma como foi enfrentada a situação, havendo 82% que aprovaram a intervenção federal, 60% que defendem o afastamento do governador de Brasília e 64% que consideram que o governo de Lula da Silva conseguirá controlar as próximas e previsíveis acções dos golpistas afectos a Jair Bolsonaro.
Bolsonaro e os seus apoiantes mais radicais procuraram imitar a destabilização que Donald Trump inspirara no assalto ao Capitólio, mas apenas conseguiram desmobilizar muitos dos seus apoiantes que condenam o vandalismo exibido. De resto, um dos dados mais interessantes do estudo do Datafolha é a verificação de que 55% dos entrevistados aponta responsabilidades directas a Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe.
As autoridades brasileiras estão agora mais atentas e já estão a investigar, mas tudo aponta para a culpa directa ou indirecta de Jair Bolsonaro e do seu trumpismo populista e anti-democrático.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O Canadá reforça a sua capacidade militar

O Canadá é um grande país da América do Norte com cerca de 40 milhões de habitantes e é o segundo maior país do mundo em superfície, só ultrapassado pela extensa Federação Russa. É uma federação constituída por dez províncias e três territórios, organizada como uma democracia parlamentar integrada numa monarquia constitucional cujo monarca reinante é Carlos III. Este delega as suas competências no governador-geral do Canadá que, por sua vez, é escolhido pelo primeiro-ministro canadiano, o que significa que o sistema político canadiano tem vários formalismos constitucionais, mas que o poder político assenta de facto no primeiro-ministro. Em termos de posicionamento militar, o Canadá é um dos doze países que em 1949 criaram a NATO.
Desde 2015 que o seu primeiro-ministro é Justin Trudeau, o líder do Partido Liberal, que sempre tem mantido os seus compromissos com a NATO. Quando das eleições que o levaram ao poder, Trudeau prometeu que os liberais nunca comprariam aviões F-35, porque “seria um pesadelo para os contribuintes canadianos”. Porém, a imprensa canadiana, incluindo o jornal Toronto Star, anunciou ontem que o governo federal de Justin Trudeau concluiu um acordo com a multinacional americana Lockheed Martin para a aquisição de 88 caças F-35 pelo valor de 19 mil milhões de dólares canadianos (cerca de 14 mil milhões de dólares americanos). Os primeiros aviões serão entregues em 2026 e a nova frota ficará toda operacional entre 2032 e 2034. Segundo a agência Reuters, o governo federal canadiano fez um “grande reviravolta” ao anunciar aquele negócio “que antes ridicularizava como um pesadelo desnecessário para os contribuintes”. Ganhou a Lockheed Martin e perdeu a McDonnell Douglas que até agora equipava as Forças Armadas do Canadá como os CF-18 Hornet. Necessidade militar? Consequência da guerra na Ucrânia? Duelo entre os tubarões fabricantes de armamento? Cedência aos interesses do vizinho americano?
Assim vai o rearmamento do mundo. As lutas contra a pobreza, a fome e a desigualdade ficam para depois.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

A Democracia derrotou o bolsonarismo

Ontem, em directo pela televisão, assistimos aos graves acontecimentos que ocorreram em Brasília, sobretudo na Praça dos Três Poderes, o espaço público onde se localizam os três edifícios monumentais que representam os três poderes da República Federativa do Brasil: o Palácio do Planalto (poder executivo), o Congresso Nacional (poder legislativo) e o Supremo Tribunal Federal (poder judicial). Alguns milhares de fanáticos que continuam a não aceitar os resultados eleitorais e a rejeitar a democracia brasileira, assaltaram aqueles símbolos do poder democrático e, sob a inspiração ou sob a direcção do ex-presidente Jair Bolsonaro, que continua ausente nos Estados Unidos, vandalizaram aqueles edifícios e o património que guardavam. Toda a imprena brasileira denuncia esta tentativa de golpe bolsonarista e uma parte dela classifica o que se passou como terrorismo. A passividade da polícia estadual foi notória, deixando bem clara a cumplicidade do governo do Distrito Federal com o vandalismo bolsonarista. O presidente Lula da Silva, que se encontrava na cidade de S. Paulo, decretou rapidamente a intervenção da polícia federal e, depois de algumas horas em que os “vândalos fascistas” ocuparam e saquearam as sedes dos três poderes, a normalidade começou a ser reposta. Haverá cerca de quatro centenas de detidos e o governador do Distrito Federal foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal. O protesto bolsonarista que visava a criação de um estado geral de desordem e era uma evidente tentativa para estimular a intervenção das Forças Armadas, não resultou. Naturalmente, a instabilidade vai continuar a perturbar a sociedade brasileira, mas estes acontecimentos vieram mostrar que o bolsonarismo e as suas práticas “não passarão”, como salientava a manchete do jornal A Tarde de Salvador. O repúdio pelo vandalismo bolsonarista foi unânime na imprensa internacional que o destacou nas suas primeiras páginas, como aconteceu com o jornal espanhol El País.

domingo, 8 de janeiro de 2023

A corajosa luta das mulheres iranianas

O jornal italiano La Stampa que se publica em Turim, teve a iniciativa de promover uma petição pública que recolheu 300.000 assinaturas para pressionar o governo do Irão a poupar a vida de Fahimeh Karimi, mas também para pedir o fim das prisões injustas, das torturas e das sentenças de morte daqueles que, desde há mais de cem dias, se manifestam pacificamente no Irão para mudar o regime dos aiatolás. Foi o director do jornal que, em frente da embaixada da República Islâmica do Irão em Roma e acompanhado por muitos activistas e cidadãos empenhados na defesa dos direitos humanos, depositou oito caixas com as assinaturas recolhidas junto da porta da embaixada iraniana.
Esta iniciativa surgiu como um acto de solidariedade para com as mulheres iranianas e como homenagem à memória de Mahsa Amini, uma jovem mulher curda iraniana de 22 anos de idade, que foi presa em Teerão pela Patrulha de Orientação da República Islâmica do Irão, que zela pelo cumprimento da lei islâmica. O motivo da prisão foi o uso “indevido” do seu hijab e Mahsa Amini veio a morrer no dia 16 de setembro de 2022, por não ter colocado correctamente o véu com que as autoridades islâmicas obrigam todas as mulheres a cobrir a cabeça. Durante três dias foi agredida e não resistiu, tornando-se um símbolo da violência contra as mulheres na República Islâmica do Irão. 
Desde então, o popular slogan curdo Mulher, Vida, Liberdade (em italiano Donna, vita, libertà) que é usado pelos movimentos independentistas curdos e pelos manifestantes que em todo o mundo defendem os direitos das mulheres islâmicas, também passou a simbolizar os movimentos de solidariedade para com a corajosa luta das mulheres iranianas pelos seus direitos. Daí que tivesse sido repetido pelos manifestantes em Roma e tivesse feito manchete na edição do diário La Stampa, cuja capa é ilustrada com o rosto de uma mulher iraniana.

Russos e ucranianos num veleiro pela paz

A edição de hoje do jornal Paris-Normandie, um diário regional francês que se publica em Rouen, a sede do departamento do Sena Marítimo e capital da Normandia, dedica a sua manchete e uma desenvolvida reportagem ao festival Armada 2023, um encontro de veleiros que se realiza regularmente no seu porto.
Esse festival realiza-se entre os dias 8 e 18 de junho de 2023 e é um ex-libris cultural da cidade de Rouen, que se localiza na margem direita do rio Sena a cerca de 120 quilómetros da foz. A organização espera que cerca de cinquenta grandes veleiros internacionais tomem parte no Armada 2023 e o jornal anuncia os nomes de alguns dos que já confirmaram a sua presença, como o Dar Mlodziezy, um navio-escola polaco que é o único grande-veleiro (tall ship) que desde 1989 sempre participou no festival, o brasileiro Cisne Branco, o mexicano Cuauhtemoc e outros.
A grande novidade é a ausência dos gigantes russos – o Mir e o Sedov – por causa da guerra na Ucrânia, mas a fragata russa Shtandart estará presente. Este navio foi construído em 1999 por iniciativa de uma organização privada russa - a Shtandart Project - e é uma réplica do navio-almirante da frota do czar Pedro o Grande, que tinha sido construído em 1703 para a frota do Báltico. Desde o início da guerra na Ucrânia, a fragata Shtandart que tem três mastros e 32,70 metros de comprimento, não regressou a São Petersburgo, o seu porto de registo. O navio tem uma tripulação russo-ucraniana e, desde então içou as bandeiras de ambos os países, no sentido de transmitir uma mensagem de paz nos portos que o têm abrigado.
Um belo exemplo das íntimas relações históricas entre a Rússia e a Ucrânia que, muitos políticos e muitos interesses, agora querem quebrar.   

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

O cessar-fogo na Ucrânia foi só hipótese

Vladimir Putin ordenou às suas tropas que, por ocasião do Natal ortodoxo, respeitem um cessar-fogo a partir do meio-dia de sexta-feira (dia 6), até à meia-noite de sábado (dia 7), isto é, durante 36 horas. Tanto a Ucrânia como a União Europeia desvalorizaram esta iniciativa russa e acusaram Putin de hipocrisia, pois não será outra coisa que não seja uma manobra para ganhar tempo para o reagrupamento das suas tropas e de uma iniciativa que visa restaurar a sua afectada reputação internacional.
Em diferente sentido se pronunciou o Papa Francisco e António Guterres que consideraram positiva a declaração do cessar-fogo, “se não houver pessoas a morrer nestes dois dias”, mas acrescentando que serão importantes verdadeiras negociações para um cessar-fogo definitivo na Ucrânia. Porém, poucas horas antes do previsto período de cessar-fogo, que tinha um valor simbólico e podia ser um ponto de partida para futuras negociações, a Ucrânia rejeitou a proposta russa. O facto é que prosseguiram os duelos de artilharia na região de Bakhmut e a Rússia tratou de acusar a Ucrânia por atacar Donetsk.
Na sua edição de hoje, o jornal francês Le Télégramme noticia este ensaio de cessar-fogo que afinal parece não estar a ser cumprido, interrogando-se sobre o que virá depois. De facto, as duas partes mostram desconfiança entre si, anunciam o reforço de armamento e armas ainda mais potentes, incluindo novos carros de combate franceses e alemães e mísseis hipersónicos russos.
A escalada do conflito é evidente e preocupante. A destruição no território ucraniano e a perda de vidas já são catastróficas. Os efeitos sobre a qualidade de vida dos europeus são cada vez mais notórios. O cessar-fogo e a paz que são tão desejáveis, parecem estar a ficar mais longe. 
É mesmo um mau princípio de ano.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Angola evoca os mártires da repressão

Na sua edição de ontem o Jornal de Angola evocou, com destaque de primeira página, os episódios ocorridos em Janeiro de 1961 na Baixa do Cassange que, para muitos historiadores, representam o início da contestação ao sistema colonial português e da guerra colonial. A República Popular de Angola considera que aqueles acontecimentos foram inspiradores da luta pela independência nacional e assinala-o no dia 4 de Janeiro de cada ano, como o Dia dos Mártires da Repressão Colonial.
Nos primeiros dias de Janeiro de 1961, os trabalhadores agrícolas das plantações algodoeiras luso-belgas da Companhia Geral dos Algodões de Angola (Cotonang), na Baixa do Cassange, um extenso território localizado entre os distritos de Malange e da Lunda, decidiram fazer um protesto contra as suas condições de trabalho, tendo-se armado de catanas e canhangulos e desafiado as autoridades coloniais portuguesas, destruindo plantações, casas, viaturas, máquinas e pontes. A reacção dos colonos brancos ao serviço da Cotonang teve apoio militar terrestre e aéreo e foi muito violenta, tendo ficado registada na História como o massacre da Baixa do Cassange.
A averiguação sobre o que realmente se passou nunca foi completamente esclarecida pela investigação histórica e, neste como em outros episódios semelhantes ocorridos nos territórios coloniais portugueses, há sempre duas versões quase sempre contraditórias, sobretudo em relação ao número de mortos. Porém, a sublevação da Baixa do Cassange terá provocado entre duzentos a trezentos mortos e mais de uma centena de feridos entre os trabalhadores em protesto, que foram tratados no Hospital de Malange. Pouco depois, no dia 4 de Fevereiro, houve o assalto às prisões de Luanda e a luta pela independência de Angola nunca mais parou até ao dia 11 de Novembro de 1975.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Ronaldo e a atração pelos dólares sauditas

O futebolista Cristiano Ronaldo conseguiu aos 37 anos de idade fazer o maior contrato alguma vez feito no mundo do futebol e esse facto é notícia porque se trata do português mais famoso que alguma vez existiu num país com quase nove séculos de História. Porém, à decisão de ir jogar para a Arábia Saudita não é alheio o enorme cheque que acompanha a assinatura do contrato com o Al-Nassr que, segundo tem sido divulgado, será de 500 milhões de euros por dois anos e meio, isto é, até Junho de 2025. Serão, portanto, cerca de 200 milhões de euros por ano o que fazem da sua remuneração a mais alta de sempre de um futebolista.
O Al-Nassr é o quinto clube na carreira de Cristiano Ronaldo, depois de ter jogado com as camisolas do Sporting, do Manchester United, do Real Madrid e da Juventus, tendo ganho cinco Taças dos Campeões Europeus e muitos outros troféus.
Ontem o jogador foi apresentado em Riade no estádio do seu novo clube, tendo chegado na companhia da mulher e de quatro dos seus cinco filhos, tendo sido recebido em delírio por cerca de 25 mil adeptos.
Num relato excitadíssimo, um jornalista português dizia ontem que Cristiano Ronaldo iria aparecer hoje nas primeiras páginas dos jornais de todo o mundo. Enganou-se. Exceptuando os jornais portugueses, apenas um jornal mexicano e um outro jornal dos Emirados destacou a apresentação de Cristiano Ronaldo em Riade como notícia de primeira página.
Provavelmente, a imprensa internacional considerou esta transferência de Cristiano Ronaldo, mais como uma operação de marketing internacional do que uma contratação futebolística, pois estará alinhada com as Nações Unidas que consideram que na Arábia Saudita, “os abusos dos direitos humanos estão descontrolados e incluem torturas, detenções arbitrárias e execuções”. É neste mundo que Ronaldo vai viver, embora anestesiado pelos dólares sauditas.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Eficiência na busca e salvamento marítimo

O Açoriano Oriental, um jornal fundado em 1835 na cidade de Ponta Delgada e que é o mais antigo jornal português, destaca na sua edição de hoje que a “Marinha salvou 163 vidas no mar dos Açores em 2022”. A mesma notícia revela que os Maritime Rescue Coordination Centre (MRCC) ou Centros de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo geridos pela Marinha Portuguesa, no ano de 2022 intervieram em 458 acções de busca e salvamento marítimo e que foram salvas 516 vidas.
A análise regional destes resultados mostra que o MRCC Lisboa interveio em 291 ocorrências e salvou 332 pessoas, que o MRCC Delgada actuou em 144 incidentes e salvou 163 pessoas e que o MRCC Funchal interveio em 23 acções e salvou 21 pessoas.
No caso do MRCC Delgada nunca tinham sido salvas tantas vidas, tendo sido superados os 142 salvamentos registados em 2018. A área de intervenção do MRCC Delgada estende-se muito para além do arquipélago dos Açores, uma vez que dos 5,8 milhões de km2 de busca e salvamento nacional (63 vezes maior que o território nacional), a área de responsabilidade açoriana tem 5,2 milhões de km2, sendo a maior região de busca e salvamento da Europa e a segunda maior do Atlântico Norte.
Os MRCC são operados por militares da Marinha num regime de trabalho de 24 horas por dia e 7 dias por semana, que assim garantem a coordenação de todas as acções de busca e salvamento nas respectivas áreas de responsabilidade. Segundo revela a notícia, a taxa de sucesso deste serviço situa-se, em média, acima de 90%, distinguindo-se como um valor de referência a nível mundial.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Brasil: novo Presidente e nova esperança

Depois da sua vitória nas eleições presidenciais de 30 de outubro de 2022 e de muita contestação promovida pelo candidato derrotado, Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse ontem em Brasília como o 39º Presidente da República Federativa do Brasil. Uma onda de esperança e de alegria percorre um país que o ex-presidente Jair Bolsonaro instrumentalizou e radicalizou na linha do que fizera Donald Trump nos Estados Unidos. Porém, ninguém ignora que o Brasil é um país muito dividido e que o novo presidente está perante o desafio de unir a sociedade brasileira, de vencer a pobreza e a desigualdade e de restituir o prestígio internacional ao país. “Não existem dois Brasis. Somos apenas um país e uma grande nação”, disse.
O cerimonial da posse do novo presidente teve diversos actos protocolares e dois discursos, um deles de cunho institucional no Congresso perante as autoridades nacionais e, um outro no Parlatório do Palácio da Alvorada, que foi dirigido à multidão, ambos muito críticos quanto ao passado recente do Brasil, mas ambos muito emocionais, muito pragmáticos e cheios de esperança.
Segundo a tradição brasileira, a faixa presidencial que simboliza o poder deveria ter sido entregue a Lula da Silva por Jair Bolsonaro, mas este recusou-se a cumprir o ritual democrático da transmissão do poder no alto da rampa de acesso ao Palácio do Planalto e ausentou-se para a Florida, onde se instalou num resort pertencente a Donald Trump. Ficou no ar a incerteza sobre quem entregaria a faixa presidencial a Lula da Silva, mas a atitude de Bolsonaro acabou por originar uma das mais extraordinárias cerimónias da história republicana brasileira, pois Lula da Silva recebeu a faixa presidencial “directamente” do povo brasileiro, através de oito pessoas representando a sua diversidade: um cacique indígena de 90 anos de idade, um metalúrgico, uma cozinheira, um professor, uma criança negra, um artesão, um influenciador digital com paralisia cerebral e uma mulher catadora de materiais recicláveis do lixo urbano para serem reciclados. Foi esta mulher chamada Aline Sousa, negra, com 33 anos de idade e mãe de sete filhos que colocou a faixa presidencial a Lula da Silva.
O jornal O Estado de S.Paulo ilustra a tomada de posse de Lula da Silva com uma fotografia alusiva à entrega da faixa presidencial. Agora, aqui desejamos que o Brasil seja próspero, pacífico e feliz.

domingo, 1 de janeiro de 2023

2023: os desafios que o mundo nos reserva

Na noite passada entramos no novo ano de 2023 e, apesar de haver alguns grandes acontecimentos a justificar as manchetes da imprensa internacional, vários jornais destacaram hoje a entrada do novo ano como tema de primeira página. Um desses jornais é o diário La Croix, um jornal francês politicamente independente mas que reflecte as posições da Igreja Católica.
Na sua edição de hoje, em vez de fazer o habitual balanço do ano que findou, o jornal decidiu interrogar diversos especialistas e fazer uma análise prospectiva sobre “o que o mundo nos reserva em 2023” nos domínios da economia, da defesa, da energia, da saúde ou do ambiente. Das análises recolhidas pelo jornal resultou a selecção de algumas das grandes questões mundiais que preocupam toda a gente, que o jornal refere na sua primeira página, designadamente a guerra na Ucrânia, a ultrapassagem da China pela India, a crise energética global, a persistente onda inflacionária e a preservação da floresta amazónica. Curiosamente, nas questões seleccionadas não estão referidas pelos especialistas, nem a tensão no estreito de Taiwan, nem as rivalidades Israel-Irão-Arábia Saudita, nem as alterações climáticas e os seus efeitos, nem a pobreza extrema que afecta áreas importantes do mundo.
O novo ano de 2023 surge num quadro de muitos desafios internos e internacionais, cheios de incerteza e de alguma tensão. Naturalmente que aqui se deseja o fim da guerra na Ucrânia e a paz no mundo, o sucesso no combate à inflação e â crise energética e, numa outra perspectiva, que o mundo se preocupe com a pobreza, a fome e a desigualdade, isto é, que todos procuremos um mundo melhor.