domingo, 15 de setembro de 2013

Síria: um bom passo em frente

Ao fim de três dias de negociações em Genebra, o secretário de Estado norte-americano John Kerry e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergei Lavrov, chegaram a acordo sobre um plano que, para já, evita um ataque americano à Síria. Não foram feitas declarações sobre quem utilizou armas químicas, a revelar que terão sido usadas pelos dois lados do conflito, porque nas guerras modernas todos combatem sem regras nem princípios humanitários. O governo sírio tem agora uma semana para entregar todo o seu arsenal químico aos inspectores da ONU e deverá ser destruído até meados de 2014. Um passo em frente, mas apenas um passo.
O regime de Bashar al-Assad está satisfeito com o acordo alcançado, a França e a China são alguns dos países que também o aplaudiram, enquanto o Presidente Obama encontrou uma saída para a sua precipitada intenção de lançar os Tomahawk sobre a Síria, contra os sentimentos da opinião pública americana. Porém, o sentimento entre os apoiantes dos rebeldes é de desilusão e, nessas condições, é preciso esperar para ver como vão correr as coisas. Os negociadores frisaram que a solução para o problema sírio tem de passar pela diplomacia e não por uma solução militar e esse reconhecimento é um elemento importante para desenvolver os passos necessários no sentido da paz. Kerry e Lavrov voltarão a encontrar-se no fim do mês com o objectivo de avaliar os resultados já alcançados e para retomar os esforços comuns com vista à realização de uma conferência sobre a paz, que ponha termo a uma guerra civil que já fez mais de 100 mil mortos em dois anos e meio.
A fotografia destacada na edição de hoje do jornal Ouest France, "vale mais do que mil palavras", ao mostrar a evidente boa disposição entre Kerry e Lavrov e é muito animadora quanto ao futuro da Síria e da brutal guerra civil que a destrói. Então, é caso para perguntar, porque se demorou tanto tempo a perceber que a solução é diplomática e não militar e não se evitou a destruição de um país?

R.I.P. Kiyoshi Kobayashi

A Federação Portuguesa de Judo anunciou a morte de Kiyoshi Kobayashi que, aos 88 anos de idade, faleceu no Japão.
Se Wenceslau de Morais foi o português que adoptou o Japão, Kobayashi foi o japonês que adoptou Portugal. Assisti algumas vezes às suas aulas, mas nunca foi meu treinador, nem nunca tivemos qualquer contacto. No entanto, muitos dos meus amigos conviveram e aprenderam com ele, elogiando-lhe sempre a sua correcção de atitude, a sua educação e o seu bom trato. Nascido a 9 de Abril de 1925, o mestre Kiyoshi Kobayashi integrou um grupo japonês que fez um périplo mundial para divulgar as artes marciais e a cultura nipónica, tendo visitado os Estados Unidos, o Médio Oriente e a Europa. Em 1958 chegou a Portugal com o objectivo de dedicar dois anos ao ensino do judo, mas acabou por ficar meio século. Nessa altura o judo era praticamente desconhecido em Portugal e o seu trabalho e a sua dedicação foram contributos importantíssimos para a sua divulgação, fazendo com que se tornasse numa das modalidades com mais praticantes em Portugal e que, inclusive, tivesse proporcionado uma medalha ao nosso país em 2000 nos Jogos Olímpicos de Sydney. O mestre Kiyoshi Kobayashi foi seleccionador e treinador da selecção nacional, tendo liderado as equipas nacionais nas mais importantes competições internacionais. Tinha uma das mais altas graduações de judo, o nono dan – em dez possíveis no cinturão negro – que lhe foi atribuído pela Federação Internacional em 1999 e tem sido, justamente, considerado o “pai do judo português”.
Apesar de ser médico de profissão, o mestre Kiyoshi Kobayashi dedicou-se principalmente ao ensino do judo, tendo colaborado com diversas escolas e ensinado milhares de praticantes. E há uma lenda a respeito de mestre Kiyoshi Kobayashi que vai ficar connosco: aos 19 anos de idade, durante a II Guerra Mundial, fez parte dos esquadrões kamikaze e terá cumprido e sobrevivido a duas missões. Tinha regressado ao Japão há três anos.

Gente com muito pouca vergonha

Em Abril de 2011, enquanto candidato eleitoral, o actual primeiro-ministro afirmou que fez as contas e que estava em condições de garantir que não seria preciso cortar salários nem fazer despedimentos para consolidar as finanças públicas portuguesas. E disse textualmente que "nós calculámos e estimámos e eu posso garantir-vos: não será necessário em Portugal cortar mais salários nem despedir gente para poder cumprir um programa de saneamento financeiro".
Mentiu descaradamente para ganhar as eleições. Depois, veio a pressão da troika e dos especuladores financeiros nacionais e internacionais, tendo o chamado processo de ajustamento sido transformado num doloroso processo de destruição da nossa economia, com desemprego, empobrecimento, aumento da dívida, saída para o estrangeiro e uma crescente perda de confiança no futuro. Apesar destes resultados catastróficos, a saga continua com a insensibilidade social de sempre, com a mesma descarada protecção à banca e com a habitual humilhação imposta pelos credores. Não aprenderam a lição do passado e, quando na televisão vemos a cumplicidade de sorrisos entre portas e albuquerques, perdemos a última réstia de esperança. Até o pudor se acabou. Em vez de reformarem o Estado, darem bons exemplos, acabarem com o exército de assessores com que ocuparam o aparelho de Estado, renegociarem a dívida, cortar nos privilégios da banca e dos “campeões nacionais”, decidem atacar os mesmos de sempre – os funcionários públicos e os pensionistas. Cortam os salários e as pensões e vão fazer despedimentos! Com crueldade. Há sempre uns irrevogáveis sem dignidade prontos para tudo apoiar e também há uns rosalinos disponíveis para fazer estes trabalhos, porque o incompetente e desorientado passos nem coragem tem para aparecer. Realmente, é gente sem vergonha nenhuma!