terça-feira, 12 de novembro de 2019

A Bolívia também entrou na onda da crise


Nos últimos dias a agenda da imprensa sul-americana tem sido ocupada, não pela Venezuela ou pelo Chile, mas pela Bolívia, onde Evo Morales exercia a presidência desde 2006 e, aparentemente, com grande apoio popular.
Acontece que se realizaram eleições gerais no passado dia 20 de Outubro, tendo sido anunciada a vitória de Evo Morales para mais um mandato presidencial. A oposição boliviana denunciou de imediato que houve grossa fraude eleitoral e contestou aquele resultado, pedindo uma nova votação que fosse fiscalizada pela comunidade internacional, ao mesmo tempo que veio protestar para as ruas. As contestações do nosso tempo começam sempre por um pretexto mais ou menos justo, mas a seguir vem a reivindicação por uma vida melhor e por menos desigualdade social, por vezes de forma violenta. Antigamente, este tipo de contestação só acontecia nos regimes totalitários, mas agora também está a acontecer nas democracias. 
Na Bolívia, um enorme país mas apenas com 10 milhões de habitantes, a contestação subiu de tom e, como tem sido habitual um pouco por todo o mundo, os grupos radicais depressa passaram a tomar conta dos protestos que se tornaram violentos. O governo boliviano até avisou que estava a caminho um golpe de estado, sobretudo depois de alguns quartéis da Polícia, incluindo na cidade de La Paz, terem decidido não reprimir as manifestações. Entretanto, a Organização dos Estados Americanos declarou que as eleições foram fraudulentas e, no mesmo dia, Evo Morales convocou novas eleições. Já era tarde. Os chefes militares pediram a Evo Morales que abandonasse o seu cargo para que a paz voltasse ao país e ele renunciou pouco depois. O primeiro presidente de origem indígena da Bolívia aceitou a oferta do México e seguiu para o exílio.
Só os próximos dias nos ajudarão a compreender o que se passou, mas a realidade é que, por motivos aparentemente bem diferentes, sopram ventos muito frescos na Bolívia, no Chile e na Venezuela.