No próximo
domingo vai realizar-se um insólito referendo na Venezuela, no qual cerca de
vinte milhões de venezuelanos irão responder a uma pergunta considerada
provocadora: “Debería el gobierno obtener un cheque en blanco para invadir a la
vecina Guyana para arrebatarle tres cuartas partes de su territorio”?
Este referendo
tem como objectivo a rejeição de uma decisão judicial de 1899 que estabeleceu a
fronteira da Venezuela com a Guiana, que é uma antiga colónia da Grã-Bretanha e
dos Países Baixos. Em causa está a disputa do território de Esequibo que tem
cerca de 160 mil km quadrados e é contíguo à Venezuela, onde foram
descobertas grandes reservas de petróleo em 2015 e onde há poucas semanas houve
novas descobertas.
O assunto não é
novo pois vem do século XIX e tem estado sob mediação da ONU, mas quando o
regime de Nicolas Maduro viu o governo da Guiana a fazer concessões a
companhias petrolíferas, reagiu e tem ameaçado com uma acção militar para ocupar o Esequibo. Nessas circunstâncias, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) pediu à
Venezuela para se abster de qualquer iniciativa que altere a actual situação, mas
a Venezuela não lhe reconhece competência para resolver este diferendo. Muito
atento, o Brasil enviou o seu assessor presidencial Celso Amorim a Caracas e, no
Dubai, onde ambos se encontram, o presidente Lula da Silva vai encontrar-se com
Mohamed Irgan Ali, o seu homólogo da Guiana.
A imprensa
internacional veicula as mais diferentes opiniões sobre este referendo. Uns
dizem tratar-se de uma manobra política de Maduro para excitar o nacionalismo
venezuelano e reanimar a sua popularidade, outros defendem que Maduro nada fará
para não agravar o seu isolamento internacional, mas outros afirmam que a
ameaça de uma intervenção militar é real e que até a oposição venezuelana a apoia. O facto
é que o governo da Guiana já avisou Maduro “que no subestime el derecho del
país a defender-se”. Entretanto, o regime de Maduro lançou uma agressiva
campanha nos meios de comunicação em que é constantemente repetida a mensagem
“El Esequibo es nuestro”, ao mesmo tempo que o jornal El Universal alinha nessa
campanha e escreve "Toda Venezuela en defensa del Esequibo”.
Até parece a
campanha de 1982, quando a Junta Militar Argentina chefiada pelo general
Leopoldo Galtieri usou o nacionalismo e a campanha “Malvinas argentinas” para a
fazer uma guerra contra a Grã-Bretanha de que saiu derrotada…