sábado, 2 de dezembro de 2023

As ambições geo-económicas da Venezuela

No próximo domingo vai realizar-se um insólito referendo na Venezuela, no qual cerca de vinte milhões de venezuelanos irão responder a uma pergunta considerada provocadora: “Debería el gobierno obtener un cheque en blanco para invadir a la vecina Guyana para arrebatarle tres cuartas partes de su territorio”?
Este referendo tem como objectivo a rejeição de uma decisão judicial de 1899 que estabeleceu a fronteira da Venezuela com a Guiana, que é uma antiga colónia da Grã-Bretanha e dos Países Baixos. Em causa está a disputa do território de Esequibo que tem cerca de 160 mil km quadrados e é contíguo à Venezuela, onde foram descobertas grandes reservas de petróleo em 2015 e onde há poucas semanas houve novas descobertas.
O assunto não é novo pois vem do século XIX e tem estado sob mediação da ONU, mas quando o regime de Nicolas Maduro viu o governo da Guiana a fazer concessões a companhias petrolíferas, reagiu e tem ameaçado com uma acção militar para ocupar o Esequibo. Nessas circunstâncias, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) pediu à Venezuela para se abster de qualquer iniciativa que altere a actual situação, mas a Venezuela não lhe reconhece competência para resolver este diferendo. Muito atento, o Brasil enviou o seu assessor presidencial Celso Amorim a Caracas e, no Dubai, onde ambos se encontram, o presidente Lula da Silva vai encontrar-se com Mohamed Irgan Ali, o seu homólogo da Guiana.
A imprensa internacional veicula as mais diferentes opiniões sobre este referendo. Uns dizem tratar-se de uma manobra política de Maduro para excitar o nacionalismo venezuelano e reanimar a sua popularidade, outros defendem que Maduro nada fará para não agravar o seu isolamento internacional, mas outros afirmam que a ameaça de uma intervenção militar é real e que até a oposição venezuelana a apoia. O facto é que o governo da Guiana já avisou Maduro “que no subestime el derecho del país a defender-se”. Entretanto, o regime de Maduro lançou uma agressiva campanha nos meios de comunicação em que é constantemente repetida a mensagem “El Esequibo es nuestro”, ao mesmo tempo que o jornal El Universal alinha nessa campanha e escreve "Toda Venezuela en defensa del Esequibo”.
Até parece a campanha de 1982, quando a Junta Militar Argentina chefiada pelo general Leopoldo Galtieri usou o nacionalismo e a campanha “Malvinas argentinas” para a fazer uma guerra contra a Grã-Bretanha de que saiu derrotada…

COP28: de que é que eles estão à espera?

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 é a 28ª conferência promovida pelas Nações Unidas para pressionar os governos a adoptar políticas que limitem o aumento da temperatura global do nosso planeta e para que se adaptem aos impactos que aparecem associados às alterações climáticas. A conferência é conhecida como a COP28, realiza-se no Dubai até ao dia 12 de Dezembro e nela estão presentes delegados de quase duzentos países, incluindo alguns dos líderes mundiais e o primeiro-ministro António Costa. O anfitrião e presidente da COP28 é o sultão Ahmed Al Jaber dos Emirados Árabes Unidos.
O primeiro dia dos trabalhos foi marcado pelo discurso de abertura de António Guterres, o homem que fez da luta contra as alterações climáticas o seu maior desafio e que recentemente visitou a Antártida e o Nepal, verificando pessoalmente o degelo da calote polar e a fusão de glaciares, cujos efeitos “estão à vista de todos” nos deslizamentos de terras, nas inundações e na subida do nível dos mares. Disse Guterres que “os sinais vitais da Terra estão a falhar: emissões recorde, incêndios ferozes, secas mortais e o ano mais quente de sempre. Estamos a milhas dos objetivos do Acordo de Paris – e a minutos da meia-noite para o limite de 1,5 graus. Mas não é demasiado tarde. É possível evitar o colapso e o incêndio do planeta. Dispomos das tecnologias necessárias para evitar o pior do caos climático – se agirmos agora”. Guterres não está sozinho e um dos seus aliados é Lula da Silva que declarou que “o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”. 
Entretanto, o jornal londrino The Independent perguntava na sua edição de ontem “de que é que estão à espera?” Porém, um pequeno sinal positivo aconteceu no início da cimeira, pois foi acordada a constituição de um fundo de “perdas e danos” para apoiar os países mais pobres afectados pelos efeitos das alterações climáticas a ser gerido pelo Banco Mundial, que mobilizou 420 milhões de dólares. Foi apenas um sinal...