domingo, 3 de julho de 2022

A Airbus e os seus "contratos do século"

Os portugueses gostam da França, apesar das invasões napoleónicas de 1808-1811, mas há que reconhecer que os franceses são demasiado chauvinistas e que, para eles, la France está sempre acima de todas as coisas. Por isso, os sucessos aeronáuticos da Airbus SE, até porque comparam com a sua rival americana Boeing, estão sempre a ser anunciados pela imprensa francesa.
Ontem, o jornal La Dépêche du Midi que se publica em Toulouse, a cidade onde se localizam as principais fábricas da Airbus SE e as linhas de montagem finais dos aviões A320, A330, A350 e A380, noticiou que quatro companhias aéreas chinesas tinham encomendado 292 aviões A320neo por 37 mil milhões de dólares e classificou este contrato como “la commande du siècle”, ou “le contrat du siècle”. A mesma notícia indica que nos primeiros cinco meses do corrente ano a Airbus já produziu 237 aviões, o que corresponde a uma produção média mensal de cerca de 50 unidades. A notícia é deveras curiosa, pois os “contrat du siècle” são frequentemente anunciados pela imprensa francesa, como verificamos numa breve pesquisa feita na internet.
Em 2021 tinha sido anunciado que o grupo Air France-KLM encomendara 100 aviões A320neo para equipar as frotas da KLM e da Transavia e mals 60 unidades suplementares, o que foi classificado pela imprensa francesa como o “contrat du siècle”. Em 2019, no salão aeronáutico do Dubai, a companhia indiana IndiGo encomendou 255 A321neo por cerca de 30 mil milhões de euros e esta encomenda recebeu a classificação de “contrat pharaonique”. Em 2017 tinha sido anunciado um “contrat historique” e “la commande du siècle” quando foi anunciado que um fundo de investimento americano encomendara 430 aviões A320 e A321 por 42 mil milhões de euros. Em 2013 a companhia indonésia Lion Air encomendou 234 aviões da família A320 por 18,4 mil milhões de euros e, nessa altura, o ministro Arnaud Montebourg afirmou que era o “contrat du siècle”.
Como se vê, a Airbus é um sucesso tecnológico e comercial, mas a chauvinista imprensa francesa não se cansa de anunciar sucessivos “contrats du siècle”-