A questão da
Catalunha que está a mobilizar os constitucionalistas e os independentistas para as
eleições de 21 de Dezembro, tem uma dimensão política que prevalece sobre todas
as outras, mas também tem uma importante dimensão económica. Porém, nos
últimos dias revelou-se uma dimensão cultural ou patrimonial que está a
interessar a Espanha e que é hoje tratada no diário catalão elPeriódico.
O Real Monasterio
de Santa Maria de Sigena ou Sijena remonta ao século XII e fica situado nas
proximidades de Huesca na comunidade autónoma de Aragão, cuja capital é
Saragoça. Nele professaram rainhas e princesas, solteiras ou viúvas, pelo que
ao longo dos séculos o mosteiro acumulou preciosidades e riquezas de
incalculável valor histórico e artístico. Porém, em 1983 as monjas residentes
venderam 97 obras de arte religiosa do mosteiro à Generalitat da Catalunha, o
que levou as autoridades de Aragão a exigir a devolução imediata dessas
obras com mais de três séculos, porque “são parte da história e do património artístico de Aragão”.
O caso chegou aos
tribunais. Houve sentença favorável a Aragão em Abril de 2015 e, em Julho de 2016 foram devolvidos 51 objectos que estavam expostos
no Museu Diocesano de Lleida, mas o assunto não ficou arrumado. O
Departamento de Cultura da Generalitat da Catalunha recusou-se a devolver 44
obras, algumas delas do século XV e únicas no mundo, com o argumento de que a
decisão judicial tomada em 1ª instância iria ser revogada na instância superior
e que, além disso, porque o transporte das peças era muito arriscado devido a serem muito frágeis.
Até
que com a aplicação do artigo 155 da Constitução, que suspendeu a autonomia
catalã, o ministro Iñigo Méndez de Vigo passou a acumular o cargo de ministro da Cultura do governo espanhol com a
responsabilidade pela cultura catalã, tendo determinado que se proceda imediatamente ao
cumprimento da sentença judicial, isto é, que o Museu de Lleida devolva as
referidas 44 peças ao mosteiro de Sijena. Significa que o famoso 155, para além dos problemas políticos que resolve ou adia, também resolve outro tipo de problemas.
Para os independentistas esta decisão do ministro foi provocatória e pode ser mais uma pequena acha para a fogueira catalã.