Depois de alguns
meses de seca extrema, com os rios a minguarem os seus caudais e as barragens a
descer a níveis preocupantes, o território continental português foi servido por
chuvas abundantes nos últimos dias. As barragens que no verão estavam praticamente
vazias começaram a encher-se e, no norte e no centro, já estão com um nível de
enchimento médio ou acima da média. Porém, esta é a face positiva de uma moeda
que, na outra face, tem revelado aspectos catastróficos, sobretudo na região de
Lisboa e em alguns municípios do Oeste e do Alentejo.
A intensidade das
chuvas e a subida do nível das águas apanhou a população e as autoridades
desprevenidas, como se não fosse uma situação que ciclicamente acontece. A água
entrou em habitações e lojas, inundou ruas e bloqueou viaturas na área
metropolitana de Lisboa, nomeadamente em Lisboa, Oeiras, Loures, Odivelas e
Cascais, provocando avultados prejuízos que ainda estão por avaliar. Hoje o Diário de Notícias publica, com destaque de primeira página, uma fotografia de uma rua de Algés, em que se vê um bote de borracha da Marinha...
Já se
estima que tenham sido afectados mais de cem mil pequenos negócios e mais de quatrocentos
mil postos de trabalho. A televisão não se cansou de mostrar tudo o que as
inundações fizeram, bem como as explicações dadas por tantos especialistas.
A primeira justificação
avançada para explicar esta tragédia provocada pela meteorologia são as
alterações climáticas, mas o excesso de chuva só explica uma parte do que
aconteceu. O problema é, como toda a gente sabe, a falta de escoamento nas
áreas urbanas, o entupimento de condutas, os excessos de impermeabilização urbana, a obstrução das
ribeiras naturais e a construção desregrada em zonas de cheia, entre muitas outras
razões. O falecido arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles explicou isso inúmeras
vezes e parece que ninguém lhe deu ouvidos. Os decisores políticos parecem
preocupar-se apenas com a navegação à vista de costa até às próximas eleições, para segurarem os seus lugares.
Não ouviram quem deveriam ter ouvido e ignoraram este problema, porque o que é necessário fazer será sempre
uma obra sem visibilidade e que não dá votos. Irresponsavelmente, desculpam-se
com as alterações climáticas.