O
que se está a passar no Egipto é preocupante e recorda-nos a onda de violência
que, de forma mais ou menos intensa, se tem verificado em diversos países do
norte de África e do Médio Oriente. Julgou-se que era a Primavera Árabe e a
libertação de regimes autocráticos, mas estamos perante o dilema do islamismo radical ou da ditadura militar. Afinal, a convulsão do mundo islâmico é
mais profunda porque estamos perante situações bem diversas quanto às
motivações e quanto aos desenvolvimentos, como
mostram as quedas de Sadam Hussein e de Muammar Kadaffi, a
guerra para afastar Bashar al-Assad, a instabilidade revolucionária na Tunísia
ou a agitação popular na Turquia.
No caso do
Egipto, após a destituição de Hosni Mubarak realizaram-se eleições presidenciais
e foi eleito Mohamed Morsi. Parecia um caso bem sucedido da Primavera Árabe
mas, descontentes por não estarem a ser
seguidas as orientações democráticas ou por estarem a perder privilégios, os
militares egípcios prenderam Morsi e tomaram o poder no passado dia 3 de Julho.
Desde então, muitos milhares de adeptos da Irmandade Muçulmana de que Morsi era
dirigente, ocuparam as ruas do Cairo a denunciar o golpe militar e a exigir que
o presidente eleito seja libertado e reocupe o seu lugar presidencial. O ponto mais
alto da reacção a esse protesto aconteceu no dia 14 de Agosto, quando tanques e
helicópteros armados atacaram os
manifestantes e causaram cerca de cinco centenas de mortes e mais de três mil
feridos. A violência continuou e propagou-se a outras cidades egípcias, num
verdadeiro clima de pré-guerra civil. A situação é complexa para 85 milhões de
egípcios que em grande parte vivem na pobreza e são analfabetos, mas que aspiram
a uma vida melhor e mais digna.
A
comunidade internacional tem que fazer qualquer coisa para rapidamente estabelecer
o diálogo entre as partes para assegurar a paz entre os egípcios, sem cair no
erro de se aliar a uma parte como ,
de certa forma, fez no Iraque, na Líbia ou na Síria.