quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Quem muito aparece... muito aborrece

Um homem tão inteligente como ele, tão culto e tão cosmopolita, parece que ainda não percebeu que o ditado popular que diz que “quem não aparece esquece” não se lhe aplica e, que, inversamente, o que se lhe aplica é uma frase parecida que diz que “quem muito aparece, muito aborrece”. Exactamente assim. 
O homem tem uma ânsia de aparecer, de ser visto, de ser ouvido e de encher as televisões, que está a tornar-se insuportável. Convive com o sensacionalismo das televisões que se especializaram nos julgamentos públicos e comporta-se como um comentador televisivo. Vai a toda a parte para ser visto e ser filmado. Fala de tudo e tantas vezes de forma inoportuna, esquecendo-se que não lhe compete governar, nem interferir na governação. Faz-se anunciar para que os microfones dos estagiários e as câmaras televisivas, bem como o fotógrafo oficial de Belém, o possam rodear como ele tanto gosta. Fazendo uso da sua boa resistência física vai a Cabo Verde e fala. Vai a Luanda e comenta. Segue para Estrasburgo e não se cansa de falar. Tacticamente, o governo deixa-o falar. As nossas televisões agradecem-lhe, porque enchem os seus espaços noticiosos com a cara e a voz do venerando chefe do Estado, cujas imagens repetem até à exaustão, a rivalizar com o tempo gasto com os treinadores de futebol.
Quando os jovens estagiários se lhe dirigem com um “Oh presidente” não reage, como se o mais alto magistrado da Nação não devesse ter direito a outro tratamento mais adequado. Mas é disso que ele gosta e, por isso, até se deixa entrevistar por esse jornal de referência que é o Tal&Qual, que na sua edição anterior entrevistara o banqueiro João Rendeiro, enquanto se deixa fotografar com um copo de cerveja na mão, o que ele julga que o aproxima do povo. Porém, os tempos são difíceis e não é necessário exibir tanto porreirismo. 
Talvez seja necessário algum distanciamento...

Cuba continua presa a Fidel e ao passado

Perfazem-se hoje 65 anos sobre o dia em que um grupo de oitenta e dois exilados cubanos, onde se incluíam quatro estrangeiros, desembarcou próximo da praia de los Colorados, na costa oriental da ilha de Cuba, sob o comando de um jovem advogado de trinta anos de idade chamado Fidel Castro Ruz.
Hoje o jornal Granma, o órgão oficial do comité central do Partido Comunista de Cuba, evoca esse histórico desembarque e recorda Fidel, escrevendo que está “invicto en el cariño de su pueblo”, o que bem sabemos que não será assim.
O seu grupo viajara desde o pequeno porto mexicano de Tuxpan a bordo do pequeno iate Granma e, após uma viagem de sete dias, “aqueles 82 aprendizes de guerrilheiros”, muitos deles enjoados, desembarcaram em condições muito precárias e progrediram por pântanos e mangais, vendo-se obrigados a abandonar muito do seu material, o que levou a que se dissesse que não foi um desembarque, mas um naufrágio. Dois dias depois o grupo foi cercado pelo exército cubano em Alegria del Pio e a catástrofe aconteceu, pois o grupo teve 25 mortos, 22 capturados e 19 desaparecidos. Os dezasseis sobreviventes, onde se incluíam Fidel, o seu irmão Raúl e o médico argentino Ernesto “Che” Guevara dispersaram e só voltaram a reencontrar-se no dia 18 de Dezembro de 1956 em Purial de Vicana, já na sierra Maestra.
Seguiram-se dois anos de guerrilha que levaram o ditador Fulgencio Batista ao exílio e à entrada vitoriosa do exército rebelde em Havana no dia 1 de Janeiro de 1959.
A campanha vitoriosa dirigida por Fidel Castro inspirou outras guerrilhas e movimentos de libertação pelo mundo, enquanto Ernesto “Che” Guevara se tornou um ícone para a geração que depois da 2ª Guerra Mundial procurava a revolução e um mundo melhor.
Porém, tudo isso aconteceu no século XX e hoje Cuba desespera pela entrada no século XXI.