A edição de hoje
do Jornal
de Angola destaca a visita do primeiro-ministro português a esse grande
país a que nos ligam demasiadas memórias históricas e em cujo mercado actuam
mil empresas portuguesas. As relações entre Portugal e Angola, mas também entre
todos os nove países da CPLP, são muito importantes porque assentam num íntimo conhecimento
histórico, em afinidades culturais e numa língua comum.
No Livro do Desassossego, que é considerado
pela crítica como uma obra-prima ou uma verdadeira obra de arte da literatura
portuguesa, “composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade
de Lisboa, por Fernando Pessoa”, publicado pela primeira vez em 1982, quase
meio século após a sua morte acontecida em Lisboa no dia 30 de novembro de
1935, o poeta escreveu:
“Não tenho sentimento nenhum político ou social.
Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a
língua portuguesa”.
Essa frase
escrita há quase cem anos é uma âncora emocional para milhões de pessoas que se
exprimem em português. Durante os séculos da sua expansão marítima os
portugueses fixaram-se em muitas das terras que encontraram em todos os
continentes e, desse processo histórico muito complexo e nem sempre respeitador
das culturas locais, resultaram algumas fricções mas também um rico processo de
aculturação, cujo principal vector foi a língua portuguesa. Com o movimento do 25
de Abril de 1974, foram criadas as condições de pacificação, de cooperação e de
solidariedade entre Portugal e os países nascidos da sua era colonial, com base
nas suas relações históricas e na língua comum. Actualmente,
segundo anuncia o Instituto Camões, cerca de 260 milhões de pessoas falam o
português, que é a quarta língua materna mais falada do mundo, depois do mandarim,
do inglês e do espanhol, enquanto nove países da CPLP e Macau têm o português
como língua oficial.
A visita a Angola
de Luís Montenegro é um passo dado no sentido certo e estimula a necessária
onda de cooperação entre os dois países.