Alexis Tsipras e o Syrisa ganharam as
eleições legislativas, por vontade dos gregos e contra o desejo repetidamente expresso
pelos dirigentes alemães e pelos burocratas de Bruxelas, que continuam a apoiar
essa entidade abstracta e agiota a que se convencionou chamar “mercados”. Com o seu voto
democrático, os gregos provocaram um tsunami
político numa Europa cada vez mais inquieta e sem soluções para os seus graves
problemas económicos, mas sobretudo para a sua profunda crise social. Os gregos
votaram contra uma austeridade humilhante que lhes tem sido imposta pela ganância
dos credores e desafiaram a troika e
as autoridades de Bruxelas mas, sobretudo, enfrentaram Angela Merkel e o seu
autoritarismo. Depois de Hollande e Renzi terem frustrado as esperanças
francesas e italianas relativamente à adopção de novas políticas que não
submetessem os povos à ditadura financeira dos mercados, Alexis Tsipras surge
como a figura que desafia a poderosa Angela Merkel e as políticas de
austeridade que têm sido impostas à Grécia, mas também a outros países, entre
os quais Portugal.
Os tempos que se aproximam vão ser muito difíceis e muito
incertos e todos os cenários estão em aberto, desde a consolidação de uma nova
via para o futuro da Europa com novas políticas e novos actores, até à implosão
do velho continente e uma completa tragédia na Grécia e não só. O tempo dos diktats alemães parece ter-se esgotado. É
preciso muita prudência em Atenas, em Berlim e em Bruxelas para negociar com
dignidade. É preciso que em Lisboa se olhe para Atenas com muita atenção e que se
aprenda com o exemplo daqueles dirigentes insubmissos e patriotas. Os eleitorados
europeus já estão fartos desta receita de
austeridade e não suportam mais a má governação, a incerteza, o desemprego, o aumento da
pobreza, a ausência de crescimento, a ruptura social, a falta de esperança e a arrogância da troika e dos seus aliados.
Há dias o franco suiço desligou-se do
euro e alguns observadores viram nessa decisão um mau prenúncio. Da mesma forma,
embora tardiamente e perante a eminência de uma deflacção incontrolada, o BCE
decidiu fazer qualquer coisa, para que
tudo não fique na mesma. Ontem, os gregos deram um passo nesse mesmo sentido.