segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Grécia: para que tudo não fique na mesma

Alexis Tsipras e o Syrisa ganharam as eleições legislativas, por vontade dos gregos e contra o desejo repetidamente expresso pelos dirigentes alemães e pelos burocratas de Bruxelas, que continuam a apoiar essa entidade abstracta e agiota a que se convencionou chamar “mercados”. Com o seu voto democrático, os gregos provocaram um tsunami político numa Europa cada vez mais inquieta e sem soluções para os seus graves problemas económicos, mas sobretudo para a sua profunda crise social. Os gregos votaram contra uma austeridade humilhante que lhes tem sido imposta pela ganância dos credores e desafiaram a troika e as autoridades de Bruxelas mas, sobretudo, enfrentaram Angela Merkel e o seu autoritarismo. Depois de Hollande e Renzi terem frustrado as esperanças francesas e italianas relativamente à adopção de novas políticas que não submetessem os povos à ditadura financeira dos mercados, Alexis Tsipras surge como a figura que desafia a poderosa Angela Merkel e as políticas de austeridade que têm sido impostas à Grécia, mas também a outros países, entre os quais Portugal.
Os tempos que se aproximam vão ser muito difíceis e muito incertos e todos os cenários estão em aberto, desde a consolidação de uma nova via para o futuro da Europa com novas políticas e novos actores, até à implosão do velho continente e uma completa tragédia na Grécia e não só. O tempo dos diktats alemães parece ter-se esgotado. É preciso muita prudência em Atenas, em Berlim e em Bruxelas para negociar com dignidade. É preciso que em Lisboa se olhe para Atenas com muita atenção e que se aprenda com o exemplo daqueles dirigentes insubmissos e patriotas. Os eleitorados europeus  já estão fartos desta receita de austeridade e não suportam mais a má governação, a incerteza, o desemprego, o aumento da pobreza, a ausência de crescimento, a ruptura social, a falta de esperança e a arrogância da troika e dos seus aliados.
Há dias o franco suiço desligou-se do euro e alguns observadores viram nessa decisão um mau prenúncio. Da mesma forma, embora tardiamente e perante a eminência de uma deflacção incontrolada, o BCE decidiu fazer qualquer coisa, para que tudo não fique na mesma. Ontem, os gregos deram um passo nesse mesmo sentido.