Quando esta manhã
vi a capa do Correio da Manhã tive a sensação de ter levado um valente soco
no estômago, pois não imaginava que o deslumbramento e o fascínio novo-riquista
de algumas pessoas e entidades continuasse a ofender os princípios básicos de
uma sociedade coesa e solidária como aquela a que aspiram e merecem os portugueses, sobretudo em tempos de recessão e de dificuldades.
Num país em que a
taxa de risco de pobreza aumentou
em 2012 para 18,7%, ou seja, afectava quase dois milhões de portugueses e que é
a mais elevada desde 2005; num país que é o mais desigual no seio da zona euro e em que essa desigualdade se
acentuou com o aumento da carga fiscal, o corte nas pensões, o desemprego e a
diminuição das prestações sociais; num país em que os jovens perdem a esperança
e o entusiasmo e emigram aos milhares; num país em que se envelhece com
ansiedade e medo pelas incertezas do futuro; num país em que já se anunciam
novos cortes que serão de dois mil milhões de euros; num país em que as funções
da saúde, da educação e da segurança social são esvaziadas todos os dias de
conteúdos e de sentido social; num país que envelhece e cujo interior se
desertifica; num país cujo Presidente diz que temos à nossa espera mais vinte anos de disciplina
orçamental e supervisão externa; num país em que a governação está entregue a
gente inexperiente e ambiciosa que mente descaradamente e sem vergonha...
Pois é neste país
que o Banco de Portugal, que é a autoridade monetária e que deveria ser exemplar
na parcimónia com a despesa e um referencial de contenção, decidiu comprar 17 automóveis topo
de gama por 634 mil euros, entre o início de 2013 e Fevereiro deste ano, com a
marca alemã BMW a dominar as preferências dos beneficiados e a dar uma “ajuda”
aos alemães no (des)equilíbrio das nossas contas externas. É o regresso de um feudalismo dos
tempos modernos com a recuperação das relações de vassalagem, em que os servos
trabalham e pagam os tributos aos senhores feudais. É um caso de falta de senso. É uma vergonha!