quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um dirigente que alterna

Na minha galeria de cromos apresento hoje alguém cuja profissão se desconhece, mas que umas vezes actua como dirigente sindical e outras vezes como dirigente partidário, isto é, alterna.
A lusitana apetência por poleiro e este duplo poleiro dão-lhe uma importância televisiva, mas cria-lhe um grande problema.
- Como dirigente partidário obedece ao seu partido, que aprova o Orçamento do Estado, que exige reformas, emagrecimento da despesa e sempre muitos cortes e mais cortes.
- Como dirigente sindical da Função Pública opõe-se e combate toda a espécie de reformas, rejeita todos os cortes e exige sempre mais direitos e mais regalias.
Com este gosto para montar dois cavalinhos, o nosso cromo vive no meio deste paradoxo. Que vida difícil!
Porém, tem sobrevivido a esta já tão longa duplicidade de vida a alternar. Com o seu estilo habitual de professor de ciências ocultas, com tiques elitistas e sobranceiros, il Duce ou il condottiero utiliza sempre um discurso redondo para falar sem nada dizer, para empatar o jogo, para ocupar o terreno ou para mastigar sem engolir. Quando abre a boca, já se sabe que não pensa. Canta. Discursa. Os seus sindicalizados são um mero instrumento que usa para se colar ao seu partido e atacar o partido rival.

O despertar do mundo árabe

O mundo árabe está a acordar, como diz o The Economist. Aqui bem perto, na orla sul do Mediterrâneo, há uma incontrolável onda de contestação que começou na Tunísia, se estendeu ao Egipto e a outros países, estando agora com grande intensidade na Líbia.
Os telejornais vão mostrando preocupantes imagens e os especialistas aparecem às dezenas nas televisões, a comentar, a esclarecer e a informar. Eu não sabia que havia em Portugal tantos especialistas destas coisas!
A contestação parece ser uma reacção aos modelos políticos, ao autoritarismo prevalecente, à desigualdade social e à falta de emprego. Ninguém pode prever o rumo dos acontecimentos, nem a dimensão ou direcção do risco de contágio, mas a margem norte do Mediterrâneo não pode deixar de estar atenta. E os refugiados? E o petróleo e o gás? E o vento?
Nos últimos anos, Portugal tem apostado muito nesta região, tendo aumentado as suas exportações e os seus investimentos. Hoje há muitas empresas portuguesas ou com capitais portugueses nesta região, que estão seriamente ameaçadas. Estamos perante um mero acidente de percurso? Uma derrota? Uma oportunidade? Como irá ser o futuro desta aposta lusitana?

1808

Só agora tive oportunidade de ler “1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil“, da autoria do jornalista brasileiro Laurentino Gomes.
É um livro leve, atraente e de escrita fluente, que embora trate de História, não é um livro de História. É um livro de não-ficção, que se lê com muito entusiasmo.
Para os especialistas, o livro é provavelmente demasiado ligeiro e não traz qualquer contributo para o conhecimento histórico da presença da Família Real portuguesa no Brasil, porque é uma compilação de outros livros especializados, mais ou menos conhecidos.
Por isso, o livro originou alguns comentários negativos emitidos por historiadores, como “é um péssimo livro”, é “um produto do marketing”, “não vale a pena ser lido” ou, ainda, é “uma escrita de encomenda”.
Como não especialista, discordo destes pontos de vista e, repito, o livro lê-se com muito entusiasmo e certamente desperta o interesse pelos temas históricos. Os especialistas e os historiadores nem sempre são os melhores divulgadores da História.