O Independente (edição de 7 de Fevereiro de 1992) |
A campanha
eleitoral para as eleições europeias de 26 de Maio já começou, bem como a luta
pelos 21 assentos e respectivas mordomias do Parlamento Europeu que cabem aos
portugueses. Como é costume na luta política em Portugal, as campanhas eleitorais
apoiam-se em promessas mentirosas e em casos, reais ou fictícios, e só
raramente tratam dos programas e intenções dos partidos concorrentes e dos seus
candidatos.
É nessa linha que
sido desenvolvida uma campanha suja contra o governo, a que até o Cavaco se
associou bem como alguns jornalistas rafeiros, em que têm sido tratados com
insistência os casos das nomeações familiares para os gabinetes ministeriais.
Já no passado dia
28 de Março aqui tínhamos escrito que o arranjo de lugares “para maridos,
mulheres, filhos e filhas, genros e noras, enteados, sogros, primos e primas,
amigos e amigos dos amigos e por aí adiante”, sempre foi uma prática política
em Portugal. No governo, nas autarquias e, durante muitos anos, nas empresas
públicas. O que agora
acontece pode ou não ser criticável, mas não é novo.
Assim, aconteceu
um efeito bumerangue e não tardou que
a campanha maliciosa se virasse contra os acusadores, ao ser revelado que
fizeram exactamente a mesma coisa que agora criticam sem qualquer pudor, como
revelou o jornal O Independente, então dirigido por esse estadista de plástico
que é o Paulo Portas, quando dedicou a sua edição de 7 de Fevereiro de 1992
exactamente a esse tema, quando Cavaco era primeiro-ministro. E lá estão os nomes e as fotografias de alguns
dos que agora têm criticado o Costa, com o pequeno LMM à cabeça. Depois, até o próprio Cavaco nomeou a cunhada
para assessora da sua Maria que, tanto quanto sabemos, não tem direito a
assessoras pagas pelos contribuintes. E, pasme-se, depois de dois mandatos, a
dita cunhada até teve direito a ser condecorada com um alto grau da Ordem do
Infante D. Henrique. Que vergonha para um ex-presidente ter feito o que fez e
vir agora acusar os outros. Não sei se é amnésia, se é descontrolo psíquico ou
se é um caso de pequenez. Que falta nos faz Almada Negreiros para nos escrever
uma nova versão do seu Manifesto Anti-Dantas.