sexta-feira, 22 de junho de 2012

Viva o futebol! A crise pode esperar...

Não tenho quaisquer pretensões futebolísticas a não ser gostar muito de ver futebol, de preferência no conforto doméstico e com a repetição das melhores jogadas. A barafunda que é o trajecto para os estádios, o eco dos insultos entre os dirigentes e a agressividade verbal das claques não me atraem. Tenho pouca apetência para ser treinador de bancada e devo saber pouco da matéria, que cada dia é mais embrulhada e rebuscada em discursos pretensamente tácticos e estratégicos. Provavelmente, tudo isso é uma reacção pessoal complexada de quem gostaria de ter sido um bom jogador, mas não ter passado de um medíocre praticante. Apesar de ter uma formação futebolística adquirida ao longo de muitos anos, através dos ensinamentos de grandes comentadores de referência como Alves dos Santos e Gabriel Alves e, mais recentemente, Rui Santos, apenas posso dizer que ontem vi o Portugal-República Checa e fiquei encantado. Não vi defeito táctico nem erro de opção estratégica. Foi um grande jogo. Entusiasmei-me. Fiquei eufórico com o jogo e com o resultado. A televisão mostrou o povo sofredor a festejar. A nossa imprensa destacou o grande jogo e a fotografia do Cristiano Ronaldo apareceu nas primeiras páginas da imprensa internacional. Assim, é caso para dizer:
Viva o futebol. A crise pode esperar...
Porém, este enorme sucesso da selecção nacional e dos jogadores que tanto anima a nossa auto-estima colectiva, não me faz retirar nenhuma das críticas que fiz ao circo, ao endeusamento prematuro dos jogadores, ao exibicionismo novo-riquista e à verdadeira anestesia com que a comunicação social nos tem brindado.  

Há mais estrelas no céu

Entre os dias 9 e 17 de Junho decorreu a 76ª edição da Volta à Suiça em bicicleta, na qual participaram 160 ciclistas que tiveram que trepar muitas montanhas ao longo das nove etapas da prova. Apenas 92 desses atletas chegaram ao fim, significando que houve mais de 40% de abandonos, o que evidencia a grande dureza e dificuldade da corrida.
O vencedor desta prova chama-se Rui Alberto Faria da Costa. É natural da Aguçadora, nas proximidades da Póvoa de Varzim, tem 25 anos de idade e corre pela equipa espanhola da Movistar. Deixou nos lugares secundários alguns ciclistas de nomeada como o luxemburguês Frank Schleck e o americano Levi Leipheimer, enquanto o outro português em prova, o vice-campeão olímpico Sérgio Paulinho, se classificou no 45º lugar.
Rui Costa é, portanto, um grande campeão.
Há cerca de três anos emigrou para Espanha e apostou numa carreira ciclista internacional. Em 2011 venceu o Grande Prémio Ciclista de Montreal, a Volta à Comunidade de Madrid e a 8ª etapa da Volta à França. O seu triunfo na Volta à Suiça é a primeira vitória de um ciclista português numa prova por etapas do circuito ciclista internacional. Desportivamente, é um feito notável. Porém, obcecada com o futebol, a nossa imprensa desportiva que tanto promove futebolistas de terceira categoria, quase ignorou Rui Costa e o seu feito, como se o nosso desporto apenas tivesse estrelas futebolísticas. Lamentável.

A festança continua na RTP

Na sua função de regulador da vida da comunidade, o Estado indemniza algumas empresas pelos serviços que prestam ao público. Na primeira linha desses apoios empresariais estão as empresas de transportes que são compensadas pelo facto de praticarem tarifas abaixo do preço de custo em benefício dos utentes e em especial, das classes trabalhadoras e dos reformados.
Agora o Jornal de Notícias veio anunciar que o valor das indemnizações pagas pelo Estado aos transportes urbanos de Lisboa e Porto – Carris, STCP e os Metropolitanos das duas cidades –  caiu um terço em relação a 2011 e que, conjuntamente, as quatro empresas vão receber apenas 90 milhões de euros. É um sinal dos tempos e do aperto que, directa ou indirectamente, cai sempre sobre os mesmos. Porém, o mesmo jornal também informa que a RTP recebe tanto como essas quatro empresas, o que nos deixa absolutamente pasmados porque, enquanto essas quatro empresas são essenciais para a nossa vida, a RTP não nos serve para nada. Vendam-na já, por favor. É um luxo que dispensamos. Temos dezenas de outros canais e a RTP limita-se a servir-nos uma programação quase sempre de baixa qualidade, frequentemente esbanjadora e, muitas vezes, excessivamente foleira e brejeira, para não citar a informação produzida por repórteres por vezes mal preparados, que se passeiam por todo o lado a gastar o nosso dinheiro. Ninguém tem mão naquilo. No meio desta desgraça, as furtados, os malatos e outros que tais, lá continuam a encher os bolsos à custa dos contribuintes. A festança continua na RTP. É uma enorme tristeza!