Não tenho quaisquer pretensões futebolísticas a não ser gostar muito de ver futebol, de preferência no conforto doméstico e com a repetição das melhores jogadas. A barafunda que é o trajecto para os estádios, o eco dos insultos entre os dirigentes e a agressividade verbal das claques não me atraem. Tenho pouca apetência para ser treinador de bancada e devo saber pouco da matéria, que cada dia é mais embrulhada e rebuscada em discursos pretensamente tácticos e estratégicos. Provavelmente, tudo isso é uma reacção pessoal complexada de quem gostaria de ter sido um bom jogador, mas não ter passado de um medíocre praticante. Apesar de ter uma formação futebolística adquirida ao longo de muitos anos, através dos ensinamentos de grandes comentadores de referência como Alves dos Santos e Gabriel Alves e, mais recentemente, Rui Santos, apenas posso dizer que ontem vi o Portugal-República Checa e fiquei encantado. Não vi defeito táctico nem erro de opção estratégica. Foi um grande jogo. Entusiasmei-me. Fiquei eufórico com o jogo e com o resultado. A televisão mostrou o povo sofredor a festejar. A nossa imprensa destacou o grande jogo e a fotografia do Cristiano Ronaldo apareceu nas primeiras páginas da imprensa internacional. Assim, é caso para dizer:
Viva o futebol. A crise pode esperar...
Porém, este enorme sucesso da selecção nacional e dos jogadores que tanto anima a nossa auto-estima colectiva, não me faz retirar nenhuma das críticas que fiz ao circo, ao endeusamento prematuro dos jogadores, ao exibicionismo novo-riquista e à verdadeira anestesia com que a comunicação social nos tem brindado.