terça-feira, 9 de agosto de 2011

Os boys e as girls nas nossas embaixadas

Agora que o cinto orçamental se aperta, há quem se interrogue sobre o futuro de uma centena de boys e girls que estão encaixados nas embaixadas portuguesas.
O jornal i calcula que quase 40% dos postos nas embaixadas portuguesas estão ocupados por pessoas que não são diplomatas de carreira, mas que são colocados nos postos diplomáticos na sequência de uma anterior proximidade com o poder político mas, também, em bastantes casos, com base em carreiras que se limitam aos atributos partidários, familiares ou outros, dos colocados. São tarefeiros de luxo.
Porém, eles adquirem um estatuto equiparado a conselheiros de embaixada e o vencimento de algumas dessas pessoas, muitas delas antigos jornalistas, varia entre 10 mil euros e 15 mil euros, acrescidos de alguns subsídios. Algumas são bem conhecidas da opinião pública e estão colocadas em cidades como Bruxelas, Nova York ou Paris, mas não tenho notícia de que algumas estejam colocadas em Luanda, em Maputo ou em Bissau.
Existem actualmente 264 funcionários diplomáticos no estrangeiro de todas as categorias em todos os postos, mas existem 103 que estão nomeados no regime de pessoal especializado. Por isso se diz que, melhor do que ser boy em Portugal é, seguramente, ser um boy expatriado e, naturalmente, numa grande cidade europeia ou americana.
O problema é muito grave, porque a nossa diplomacia não pode estar tão dependente de biscateiros que, em muitos casos, se estão a servir, em vez de servirem o país. No entanto, também é necessário que os diplomatas de carreira estejam verdadeiramente ao serviço do país, o que nem sempre acontece, sendo exactamente as suas fraquezas de desempenho que abriram as brechas por onde esta gente tem entrado.



Londres já está a arder!

No passado sábado registou-se uma violenta desordem em Tottenham, no norte de Londres, que rapidamente alastrou por outros bairros da cidade e, depois, a cidades como Birmingham, Liverpool, Bristol e Leeds. Como denominador comum aos incidentes e à violência, estão jovens de cara tapada com lenços, alguns deles trajando de negro, que incendeiam e pilham numa escala de grande intensidade, num toca e foge difícil para as forças policiais.
A polícia de Londres descreveu a violência registada durante a noite de segunda para terça-feira como “a pior noite de sempre” na capital britânica e os jornais londrinos dão grande destaque a palavras como lawless e anarchy, enquanto as televisões mostram a a brutal violência dos acontecimentos.
As verdadeiras causas deste protesto social, que alastra rapidamente, são complexas mas têm contornos semelhantes, quer ocorram em Londres ou em Paris, agravando-se em tempos de crise económica, de desemprego, de austeridade desigualmente repartida, de indignação perante a injustiça e de crescente corrupção.
As novas gerações estão descontentes e desiludidas com o futuro que o actual modelo económico e o sistema político lhes oferecem e, à medida que as regalias do Estado e do modelo social vão minguando, cresce a decepção e a revolta contra a sociedade, tantas vezes egoísta e distraída. Muitos dos indignados são emigrantes de todo o mundo, desenraizados e desorientados, para os quais não tem havido políticas de integração nem perspectivas de vida, para além da exploração da força do seu trabalho, pelo que são facilmente instrumentalizados.
Hoje em Londres, tal como ontem em Paris, vive-se em insegurança e os acontecimentos estão a mostrar mais uma vez como são difíceis os tempos actuais e como a governação deve ser prudente e inteligente. A Europa é uma sociedade multicultural e é necessário que não se deixe contaminar pela crise económico-financeira, nem pelos excessos, quer dos explorados, quer dos exploradores.