sexta-feira, 11 de novembro de 2016

R.I.P. Alfredo Bruto da Costa

Faleceu hoje com 78 anos de idade o Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa, um homem excepcional pela inteligência, pela cultura, pela bondade e pela generosidade. Era natural de Goa mas fixara-se em Portugal quando jovem estudante para frequentar o Instituto Superior Técnico, onde se licenciou em Engenharia Civil, embora já nessa época tivesse forte envolvimento nas causas e movimentos sociais que tanto marcaram a sua exemplar vida cívica e o seu continuado serviço à comunidade e à causa pública. Veio, por isso, a ser designado para o cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e, mais tarde, para exercer o cargo de Ministro dos Assuntos Sociais no V Governo Constitucional, presidido por Maria de Lurdes Pintasilgo.
Era doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Bath, no Reino Unido, com uma tese intitulada “O paradoxo da Pobreza – Portugal, 1980-1989”, sendo reconhecido como um especialista nessa área. Foi Presidente do Conselho Económico e Social eleito pela Assembleia da República e foi Conselheiro de Estado, mas ainda teve tempo para presidir à Comissão Justiça e Paz, à Direcção da Casa de Goa e para colaborar com o Conselho da Europa e com a UNESCO.
Alfredo Bruto da Costa era um homem de superior qualidade e um grande amigo, daqueles com quem se aprendia todos os dias, sobretudo pela sua coerência na defesa dos direitos humanos e, sobretudo, dos direitos dos mais pobres. Era um homem de fé, fiel a princípios e de uma enorme tolerância democrática. Homens como ele marcam uma época e são cada vez mais raros numa sociedade dominada pelo egoísmo e pelos valores materiais. Tive o enorme privilégio de com ele trabalhar e conviver e, nesta hora dolorosa, aqui lhe presto a minha mais sentida homenagem, ao mesmo tempo que apresento as minhas condolências à Vera, à Margarida e à Madalena, mas também a toda a sua Família que, tantas vezes, me acolheu como se eu dela fizesse parte. 

Angola nos 41 anos da sua independência

Há 41 anos, no dia 11 de Novembro de 1975, nasceu a República de Angola depois de quase cinco séculos de presença portuguesa no seu território. Nesse dia, também terminava o  império colonial português e o sonho que alguns alimentaram de uma pátria repartida pelo mundo, quando o último alto-comissário português em Angola, o Almirante Leonel Cardoso, procedeu ao arriar da bandeira portuguesa do Palácio do Governo. Poucas horas depois, em nome do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o presidente Agostinho Neto proclamava solenemente e em nome do povo angolano, “perante a África e o mundo a independência de Angola”. No seu histórico  discurso, Agostinho Neto deixou claro que "a nossa luta não foi nem nunca será contra o povo português" e acrescentava que, "a partir de agora, poderemos cimentar ligações fraternas entre dois povos que têm de comum laços históricos, linguísticos e o mesmo objectivo: a liberdade". Nesse mesmo dia, os partidos rivais da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) de Jonas Savimvi e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) de Holden Roberto também proclamaram a independência, respectivamente no Huambo e no Ambriz, embora só a proclamação do MPLA viesse a ser reconhecida pela comunidade internacional.
Não foram fáceis os tempos para a nova república, com continuadas e muito violentas guerras com os movimentos de libertação rivais e os seus aliados, alguns bem poderosos, que só terminaram em 2002.
Desde então, a República de Angola iniciou uma caminhada de desenvolvimento e de progresso, em que muitos portugueses têm participado ao lado dos angolanos, ambos irmanados por uma história e uma língua comuns. Embora as relações entre Portugal e Angola nem sempre tenham sido as melhores, o facto é que hoje não há quaisquer traumas entre os dois países e que os governos de Lisboa e de Luanda são aliados nas grandes questões internacionais, como se viu na recente eleição do novo secretário-geral das Nações Unidas.
Hoje é um dia de festa para os angolanos, mas também para os portugueses.