No século XVI,
segundo escreveu Luís de Camões, os portugueses andaram “por mares nunca de
antes navegados e passaram ainda além da Taprobana”. Passados cinco séculos de
convivência luso-asiática, as marcas dessa passagem ainda são observáveis em
vários países e regiões da Ásia do Sul, do Sudoeste Asiático e da Ásia
Oriental, tanto nos seus patrimónios materiais, como imateriais.
Macau é,
porventura, o maior símbolo dessa realidade. Depois de 442 anos de
administração portuguesa, o território regressou à soberania chinesa em 1999 e
tornou-se a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da
China que, de acordo com a famosa Declaração Conjunta Sino-Portuguesa de 1987,
conservará durante 50 anos o seu modo de vida e as suas especificidades
culturais, resultantes do longo período em que o território foi administrado
por Portugal.
Hoje, a marca
portuguesa em Macau não é tão forte como muitos desejariam, mas também não é
tão fraca como muitos acusam. Um facto revelador da força da memória portuguesa
em Macau aconteceu em 2005, quando a Unesco inscreveu o Centro Histórico de
Macau na sua World Heritage List, como
“testemunho único do encontro de influências estéticas, culturais, arquitectónicas
e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”. Nesse território, a que estão
emocionalmente ligados muitos milhares de portugueses e onde existem três
jornais diários em português, também os 50 anos do 25 de Abril vão ser
comemorados, como anuncia na sua edição de hoje o diário hojemacau.
Naturalmente,
ocorre-nos o título concedido à cidade em 1654 pelo rei D. João IV, como
recompensa à lealdade da população portuguesa da cidade durante a ocupação
filipina: Cidade do Santo Nome de Deus de
Macau, Não Há Outra Mais Leal.