segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O património que pertence às ex-colónias

A última edição do semanário Expresso destacou como manchete que o governo vai fazer uma lista de património a devolver às ex-colónias, porque tem havido alguns movimentos de opinião em diversos países, sobretudo africanos, que reivindicam que o seu património arqueológico ou etnográfico, que foi retirado por estados estrangeiros, seja devolvido. Na realidade, os grandes museus europeus como o British Museum (Londres), o Louvre (Paris), o Neues Museum (Berlim) e o Museu do Vaticano (Roma) têm nos seus acervos as maiores colecções de peças arqueológicas do mundo, que normalmente resultaram de pilhagens, feitas nos territórios coloniais ou em países sob domínio militar, embora também haja muitas aquisições por compra e muitas doações. Ao longo do processo histórico, desde os vikings aos exércitos de Hitler, passando pelos soldados de Napoleão, a pilhagem de peças arqueológicas, de escultura e de pintura, foi prática corrente nos territórios das antigas civilizações do Egipto, da Turquia, do Iraque e um pouco por todo o mundo.
O assunto é pertinente e, embora muitas das peças desse património estejam devidamente preservadas nos museus onde se encontram, é legítimo que alguns países reivindiquem a sua devolução, como é legítimo que o Estado português elabore uma lista de património a devolver às ex-colónias. Porém, essa lista pouco será diferente de um conjunto vazio, isto é, parece não ter havido pilhagens de património nas ex-colónias portuguesas, como se pode observar nos nossos museus. Quem conheceu o Portugal de além-mar sabe que, por razões diversas, as eventuais operações de pilhagem ou transferência de património para fins museológicos ou outros, se existiu foi absolutamente marginal.  
Claro que há mobiliário, estatuária, cerâmica e muito artesanato com origem nas ex-colónias, mas todo esse património não chegou a Portugal por pilhagem ou outra forma ilegal. 
Em Portugal não há património relevante que deva ser devolvido às ex-colónias. Faça-se a lista, para que não fiquem dúvidas.