A expansão
marítima portuguesa foi pioneira no quadro da expansão europeia no Oriente e a
língua portuguesa tornou-se a língua franca naquelas regiões até ao século XIX,
daí resultando que muitas palavras portuguesas enriqueceram os vocabulários de
algumas línguas orientais, como o hindi, o concanim, o cingalês, o malaio, o
bahasa indonésio ou o tetum. Porém, a segunda metade do século XIX e, sobretudo
o século XX, impuseram definitivamente o inglês como a principal língua de
comunicação na Ásia do Sul e na Oceânia.
Apesar de ser a
língua oficial do Estado da Índia, de Macau e de Timor até meados do século XX,
o português nunca foi a língua de comunicação de corrente nesses territórios e só foi adoptado
pelas elites e por franjas minoritárias das sociedades locais, pelo que muitos
portugueses que no tempo colonial visitavam esses territórios se impressionavam
com a dura realidade de quase ninguém falar português.
Os tempos
mudaram. Timor tornou-se independente em 2002, adoptou o português como língua
oficial e, segundo afirmou recentemente José Ramos-Horta, se no tempo colonial
se estimava que existia 1% de falantes de português, “hoje, a estatística
oficial aponta para cima de 40%”. Em Goa tem sido feito um grande esforço, por
parte do Instituto Camões e da Fundação Oriente, para apoiar as escolas onde se
ensina português, que tem produzido bons resultados, embora não sejam conhecidas
estatísticas. Finalmente, foi ontem anunciado pelo jornal Tribuna de Macau, com base
nas estatísticas oficiais, que no corrente ano lectivo de 2021/2022, há em
Macau 8.800 alunos a estudar português no ensino secundário, quando nos três
anos anteriores tinham sido registados 6.700, 8.000 e 8.400 alunos. A mesma
fonte indica que 1.482 estudantes frequentam cursos em português na
Universidade de Macau.
Estes números
revelam um continuado aumento do interesse pela aprendizagem da língua
portuguesa, embora haja muitas interpretações a respeito desta realidade. A
mais lógica é a que se baseia na convicção de que o conhecimento do português “pode
abrir a porta” para um passaporte português, ou para maior facilidade em chegar
a Portugal, à União Europeia, ao Brasil ou aos países africanos de expressão
portuguesa.
Não são saudades, nem qualquer portuguesismo tardio, mas apenas o
interesse prático.