domingo, 31 de maio de 2015

Os impasses da democracia espanhola

As recentes eleições autárquicas e regionais espanholas deram uma escassa vitória ao partido Partido Popular (PP) por apenas 27% dos votos. O PP perdeu a larga maioria que detinha e perdeu o poder em algumas regiões importantes, enquanto o PSOE conseguiu sobreviver ao aparecimento do Podemos e do Ciudadanos. O mapa político espanhol alterou-se como consequência da reacção do eleitorado à crise económica e ao desemprego, mas gerou um certo impasse político em muitas situações onde o radicalismo pré-eleitoral dificulta agora a obtenção de acordos pós-eleitorais.
O caso da Comunidade Autónoma da Extremadura é ilustrativo dessa situação. Com uma área de cerca de 41 mil quilómetros quadrados (quase metade de Portugal) e um pouco mais de um milhão de habitantes, tem a sua capital em Mérida e inclui 387 municípios nas províncias de Badajoz (165) e Cáceres (222). Nas eleições autárquicas de 24 de Maio registou-se uma participação de 73% de eleitores, tendo havido uma bipolarização em torno do PSOE (42,08%) e do PP (36,75%). Dos 3350 mandatos que estavam em disputa, o PSOE obteve 1642 e o PP conseguiu 1295, enquanto os outros partidos e coligações obtiveram 413 mandatos.
Porém, uma semana depois das eleições, o jornal Hoy de Badajoz, revela que há 70 municípios ou alcaldias, que correspondem a 18% do total da comunidade estremenha, que estão pendentes de acordos entre os diversos partidos políticos para terem governo municipal. São 70 impasses da democracia espanhola. As combinações não são fáceis. O PP defende que deve governar o partido mais votado, enquanto o PSOE está disposto a coligar-se à esquerda. Veremos… e, sobretudo, aprendamos.

A insólita reeleição de Joseph Blatter

Apesar da tempestade que atingiu a FIFA, na passada sexta-feira Joseph Blatter foi reeleito para fazer o seu quinto mandato como presidente da organização que governa o futebol mundial, depois de ter ocupado o cargo durante 17 anos, de não ter evitado a enorme corrupção que agora foi denunciada e de já ter 79 anos de idade. A imprensa internacional continuou a ocupar-se desta estranha e surpreendente eleição e, no dia seguinte, a capa do Der Spiegel é apenas um exemplo da atenção que o tema mereceu. Mesmo no meio da tempestade que criou ou que não foi capaz de dominar, Joseph Blatter venceu com facilidade. As 209 federações nacionais inscritas na FIFA ainda tiveram que realizar uma segunda volta do escrutínio pois Blatter não conseguiu os dois terços de votos necessários para assegurar a vitória na primeira ronda. O apoio da generalidade das federações europeias, dos Estados Unidos, do Canadá e da Nova Zelândia ao príncipe jordano Ali bin Hussein não foram suficientes para derrotar Blatter.
O mundo admirou-se pelo facto de 133 federações nacionais terem apoiado Blatter, depois do que se passou nos últimos dias. Porém, o presidente da FIFA soubera conquistar esses apoios ao longo dos anos com a oferta de frequentes viagens a Zurique para reuniões e worshops, com alojamento nos mais luxuosos hotéis da cidade, com o pagamento de prémios por presença nessas reuniões, além de outras quase irresistíveis mordomias.    
Em comunicado enviado à imprensa a Federação Portuguesa de Futebol condenou a recondução de Blatter na presidência da FIFA que, segundo ela, deveria ter sido adiada e é uma prova de que Luís Figo tinha razão quando desistiu da sua candidatura por não querer caucionar este processo. Às vezes, no meio das tempestades, sabemos tomar as atitudes correctas.