Desde há alguns
dias que nos estão a chegar imagens de grandes manifestações populares e de confrontos
de rua em várias cidades do Irão e, ao contrário do Donald que se mostra
eufórico e que tratou logo de afirmar que “os regimes opressores não duram para
sempre”, eu fico muito apreensivo. Quando os americanos e os seus amigos se
atiraram aos regimes de Saddam Hussein e de Muammar Kadafi, exactamente porque
eram opressores e constituiam um perigo para o mundo, bem sabemos o que daí resultou. Na Síria o resultado acabou por não ser muito diferente. O facto é que as “primaveras
árabes” e as “revoluções islâmicas” têm dado em tragédia sempre que os
americanos e as suas coligações nelas se envolvem com dinheiro, serviços
secretos ou aviões. Por isso, era muito desejável que o Donald estivesse
sossegado, até porque os sinais que nos chegam do Irão são muito inquietantes. Eles que resolvam o seu problema.
Certamente, a
principal causa do descontentamento popular nas cidades iranianas é a crise
económica, com o desemprego, o aumento do custo de vida e a corrupção, mas também
com o dispendioso envolvimento iraniano no apoio ao regime sírio de Assad, às
forças do Hezbollh libanês, aos xiitas do Bahrein e aos hutis do Iémen. Esse
descontentamento está, naturalmente, a ser manipulado interna e externamente contra o moderado
Presidente Hassan Rohani, um académico que estudou na Escócia e que fala
inglês, alemão, francês, russo e árabe.
Internamente, os
ultraconservadores do regime, que estão na oposição, não toleram a postura
ocidentalizada de Rohani e querem afastá-lo do poder, enquanto externamente
haverá interesses americanos, israelitas e sauditas que, invocando a repressão
violenta do regime iraniano, que é o poder regional dominante e o maior adversário
de Israel, parecem apostar no seu enfraquecimento. Rohani é, por isso, um alvo
para todos.
O facto mais preocupante
é que o Irão, que se tornou uma potência central no
xadrez do Médio Oriente, está confrontado com uma situação que pode tomar
proporções internacionais, sobretudo se os líderes do tipo Donald se quiserem
intrometer. Não sei o que se passa no Irão, mas sei o que se passou com as
intromissões americanas e as suas coligações no Iraque, na Líbia e na Síria.
Hoje o diário francês Libération analisa o problema do
Irão e, com a propósito, fala no despertar do medo.