Nos últimos dias
e em especial na passada segunda-feira, o território de Ceuta mas também o território
de Melilla, foram alvo de uma invulgar entrada de migrantes ilegais
provenientes de Marrocos.
Ceuta e Melilla
são duas cidades espanholas encravadas no território marroquino e são as duas
únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África. O seu historial como
centros de atracção de imigração ilegal foi sempre muito importante, mas o que
aconteceu agora não tem precedentes, pois cerca de oito mil pessoas, a nado ou
a pé, atravessaram a fronteira, sem que a polícia marroquina as travasse como
era seu dever.
Acontece que, por
motivos humanitários, em finais de Abril a Espanha recebeu Brahim Gali, o líder
da Frente Polisário e presidente da República
Árabe Sarauí Democrática, para ser tratado pois fora infectado por covid-19. Marrocos não
gostou e resolveu retaliar, tendo “organizado” esta “invasão” provocatória. Donald
Trump tinha reconhecido a soberania marroquina sobre o território do Sara
Ocidental, contrariando a posição oficial da ONU que o define como “um
território não autónomo pendente de descolonização”. Desde então, a pressão marroquina
sobre a União Europeia e sobre a Espanha, intensificou-se para que sigam o
exemplo norte-americano.
Segundo as
autoridades espanholas, cerca de 70% dos “invasores” foram imediatamente repatriados
para Marrocos sem levantar quaisquer dificuldades, o que sugere que tinham sido
contratados para esta acção. Entretanto, como mostrou hoje o jornal El
Pueblo de Ceuta, a população de Ceuta organizou grandes manifestações
de protesto e de espanholismo, pois teme que as acções dos últimos dias sejam um
ensaio para outras acções que, em último grau, visariam a expulsão espanhola
daqueles enclaves.