terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Os novos ventos que sopram no Chile

O eleitorado chileno elegeu no passado domingo como Presidente da República do Chile o candidato Gabriel Boric, um antigo dirigente estudantil de 35 anos de idade.
Gabriel Boric é natural de Punta Arenas, a cidade mais meridional do Chile, que é a capital da região de Magalhães e Antártica Chilena, uma das dezasseis regiões do país, pelo que o jornal local El Pinguino escolheu o sugestivo título “Magallánico Boric a La Moneda”, isto é, ao Palácio Presidencial.
O presidente eleito é membro da Câmara de Deputados desde 2014 e candidatou-se à Presidência da República como representante de uma alargada coligação de partidos de esquerda. Embora liderasse as sondagens, veio a perder na primeira volta por 150 mil votos a favor do candidato José António Kast, representante da extrema-direita e admirador confesso do antigo ditador Pinochet. Para a segunda volta, Boric seguiu as normas das campanhas eleitorais, moderou-se na linguagem e nas atitudes, cortou o cabelo e escondeu as tatuagens, acabando por conquistar o eleitorado que lhe deu 55,8% dos votos. Vai ser o 66º presidente da República do Chile e também o mais jovem presidente que o país alguma vez teve.
A América Latina e o mundo olham para o Chile com muita curiosidade. Gabriel Boric surge como um herdeiro de Salvador Allende, o primeiro presidente socialista a chegar democraticamente ao poder em toda a América Latina, mas que foi deposto em 1973 por um sangrento golpe de estado liderado pelo general Augusto Pinochet. Agora há a expectativa de saber se as forças conservadoras golpistas chilenas e os seus aliados aceitam a presidência de Boric, mas também a expectativa de saber como vai o Tio Sam conviver com os regimes que nada lhe são subservientes, como sucede com os regimes dirigidos por Nicolas Maduro (Venezuela), Pedro Castillo (Perú), Luis Arco (Bolívia) e Alberto Fernández (Argentina), a que se junta a presidência de Gabriel Boric (Chile) e, lá para Outubro, talvez também a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. 
O tempo do autoritarismo militar latino-americano do século XX está a dar lugar à democracia e à cidadania, esperando-se que traga mais progresso e menos desigualdade para aquele subcontinente.