A capa da revista
alemã Der Spiegel é elucidativa da situação de repressão que se está
a viver na Turquia e, na sua última edição, assume que a democracia foi
suspensa e titula que “era uma vez uma democracia”. A numerosa comunidade turca
que vive na Alemanha justifica o interesse da imprensa alemã pelo que se passa
na Turquia, onde o Presidente Erdogan insiste na necessidade da reintrodução da
pena capital com o argumento de que se trata da vontade do povo. Depois de
militares, juízes, polícias e professores, a perseguição política tem sido
dirigida contra os jornalistas, ao mesmo tempo que se verificam despedimentos
em massa em muitas empresas. Independentemente da natureza do golpe de estado,
que aconteceu de facto ou que foi forjado pelas hostes de Erdogan, a imprensa
mundial vem denunciando a repressão e o aniquilamento da oposição, o que
significa o fim do regime democrático. A União Europeia já fez saber que uma
eventual entrada da Turquia na União Europeia está congelada.
Entretanto nada é
comentado sobre algumas importantes questões, como é o problema religioso,
porque o secularismo turco pode estar a ser ameaçado pelas forças islâmicas de
Erdogan. Da mesma forma, pouco tem sido comentado sobre a orientação estratégica
da Turquia em relação aos curdos, ao Estado Islâmico e à Síria, nem em relação
à NATO e à Rússia. Nem as autoridades turcas, nem a imprensa internacional têm
abordado essas questões, o que é muito preocupante. A realidade é apenas que a
Turquia de Erdogan está cada vez mais a afastar-se da democracia e a seguir um rumo
que ninguém sabe em que direcção vai.