O dia 4 de
Janeiro é o Dia dos Mártires da Repressão Colonial em Angola e, na sua edição
de ontem, o Jornal de Angola prestou tributo às vítimas dos acontecimentos
que ficaram registados na história como o “massacre da Baixa do Cassange”.
Aconteceu que nos
primeiros dias do ano de 1961 os trabalhadores agrícolas das plantações
algodoeiras da Companhia Geral de Algodões de Angola (Cotonang), uma sociedade
luso-belga com actividade na Baixa do Cassange, um território localizado entre
os distritos de Malange e da Lunda-Norte, decidiram protestar contra as suas
condições de trabalho, armaram-se de catanas e canhangulos e desafiaram as
autoridades portuguesas, destruindo plantações, casas e pontes. A reacção dos
colonos portugueses foi violenta e teve apoio militar, designadamente da Força
Aérea Portuguesa, que bombardeou a região e provocou baixas entre os
manifestantes.
Controlada pela censura, a imprensa
portuguesa da época não noticiou estes acontecimentos, mas houve quem tivesse
estudado o assunto e publicado (Revista
Militar, nº 2517, Outubro, 2011). Esse estudo conclui que “teria havido
entre duzentas e trezentas mortes entre os revoltosos, muitos das quais
poderiam ter sido evitadas se não fosse a histeria inicial de que estavam
imbuídos e cerca de uma centena de feridos, tratados no Hospital de Malange”.
Porém, o MPLA tem
aproveitado estes acontecimentos para condenar o regime colonial, para justificar a
sua luta de libertação e para fortalecer a unidade nacional do país. Assim, instituíu
o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, afirmando que “o heróico feito de 4 de janeiro de 1961 deve ser transformado em fonte
de inspiração para todos os cidadãos, de Cabinda ao Cunene” e considerando que “o exército
colonial matou milhares de camponeses”. Porém, parece que em boa verdade, o
condenável massacre colonial da Baixa do Cassange, que aconteceu há 64 anos, atingiu algumas centenas e não milhares de trabalhadores.