domingo, 5 de janeiro de 2025

Baixa do Cassange: massacre há 64 anos

O dia 4 de Janeiro é o Dia dos Mártires da Repressão Colonial em Angola e, na sua edição de ontem, o Jornal de Angola prestou tributo às vítimas dos acontecimentos que ficaram registados na história como o “massacre da Baixa do Cassange”.
Aconteceu que nos primeiros dias do ano de 1961 os trabalhadores agrícolas das plantações algodoeiras da Companhia Geral de Algodões de Angola (Cotonang), uma sociedade luso-belga com actividade na Baixa do Cassange, um território localizado entre os distritos de Malange e da Lunda-Norte, decidiram protestar contra as suas condições de trabalho, armaram-se de catanas e canhangulos e desafiaram as autoridades portuguesas, destruindo plantações, casas e pontes. A reacção dos colonos portugueses foi violenta e teve apoio militar, designadamente da Força Aérea Portuguesa, que bombardeou a região e provocou baixas entre os manifestantes.
Controlada pela censura, a imprensa portuguesa da época não noticiou estes acontecimentos, mas houve quem tivesse estudado o assunto e publicado (Revista Militar, nº 2517, Outubro, 2011). Esse estudo conclui que “teria havido entre duzentas e trezentas mortes entre os revoltosos, muitos das quais poderiam ter sido evitadas se não fosse a histeria inicial de que estavam imbuídos e cerca de uma centena de feridos, tratados no Hospital de Malange”.
Porém, o MPLA tem aproveitado estes acontecimentos para condenar o regime colonial, para justificar a sua luta de libertação e para fortalecer a unidade nacional do país. Assim, instituíu o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, afirmando que “o heróico feito de 4 de janeiro de 1961 deve ser transformado em fonte de inspiração para todos os cidadãos, de Cabinda ao Cunene” e considerando que “o exército colonial matou milhares de camponeses”. Porém, parece que em boa verdade, o condenável massacre colonial da Baixa do Cassange, que aconteceu há 64 anos, atingiu algumas centenas e não milhares de trabalhadores.