quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O nervosismo que perturba a Catalunha

Na última semana do passado mês de Setembro um juiz espanhol determinou a prisão de sete independentistas catalães porque, supostamente, planeavam acções violentas que iriam coincidir com o anúncio da sentença do procés. A detenção foi concretizada através da Operación Judas e os detidos pertenceriam às Equipos de Respuesta Táctica (ERT), uma nova organização derivada dos Comités de Defensa de la República (CDR), que activamente lutam pela independência da Catalunha por via violenta. A decisão do juiz baseou-se na acusação de que aqueles indivíduos pertenciam a uma organização terrorista, que possuiam ou preparavam a fabricação de explosivos e que preparavam diversas acções violentas contra esquadras da polícia e até a ocupação do Parlamento.
Passou-se mais de um mês e ontem, a poucos dias das eleições legislativas espanholas, foram divulgados alguns vídeos em que alguns dos detidos confessaram ligações com dirigentes políticos e outros actores do processo independentista, incluindo o presidente Quim Torra e o seu antecessor Carles Puigdemont, insinuando que eles apoiavam a sua mais sonhada acção que era a ocupação do Parlamento catalão durante uma semana. Embora Quim Torra se tivesse apressado a negar aquela acusação e a afirmar que os detidos falaram sob pressão policial, a sua simpatia pelos CDR é do domínio público, até porque neles milita activamente a sua filha. Os jornais espanhóis de referência tratam hoje desse episódio, sobretudo o conservador ABC que lhe dá um destaque de primeira página. Porém, a questão fundamental, para além de uma evidente preocupação pelo aparecimento na Catalunha de qualquer coisa semelhante à ETA, é saber a razão porque esta notícia aparece antes das eleições e que efeito terá no eleitorado. Até parece o nosso “caso Tancos” que, enquanto fake new, tanto perturbou as nosssas eleições legislativas.

A pirâmide invertida nas Forças Armadas

A notícia da edição de hoje do Jornal de Notícias é alarmante mas confirma as suspeitas que existem, desde há alguns anos, de que há cada vez menos praças nas Forças Armadas, designadamente no Exército e na Força Aérea.
Segundo refere a notícia, os efectivos das Forças Armadas são actualmente de 25.845 elementos, tendo havido uma redução de cerca de 25% nos últimos oito anos. No que respeita à classe de praças, no mesmo período, a redução foi superior a 40%. Actualmente o Exército tem 6265 praças, 3881 sargentos e 2976 oficiais, a Força Aérea tem 1930 praças, 2620 sargentos e 1944 oficiais, enquanto a Marinha tem 3714 praças, 2237 sargentos e 1985 oficiais. Esta "situação insustentável", segundo o CEMGFA, resulta sobretudo das opções políticas e dos constrangimentos orçamentais, mas também de uma atitude cultural do poder político.
Destes números pode concluir-se que a organização militar portuguesa tem uma pirâmide hierárquica invertida, certamente por corresponder a uma maior qualificação técnica dos seus elementos para os habilitar a dar resposta à sofisticação dos modernos equipamentos militares, mas também mostra um crescente desinteresse do poder político pelas suas Forças Armadas, provavelmente porque é grande o fosso existente entre os valores sociais dominantes e a cultura militar. A clássica opção apresentada há muitos anos por Paul Samuelson relativamente à utilização de recursos escassos na escolha entre canhões e manteiga, tem plena aplicação no caso português, porque a classe política que ocupa, ou quer ocupar o poder, se sustenta através do voto dos eleitores e estes estão mais interessados em manteiga do que em canhões.   
Porém, o problema da dimensão das Forças Armadas, do recrutamento de pessoal e da retenção dos militares qualificados não é apenas uma questão cultural porque é, sobretudo, uma questão de constrangimentos orçamentais que até é comum à maioria dos países europeus, como tantas vezes tem salientado o Donald. O facto é que o assunto é complexo e não pode deixar de ser estudado por quem saiba, porque assim as coisas não estão bem e, enquanto pilar do Estado democrático, as Forças Armadas têm que ser prestigiadas e dotadas dos meios adequados para cumprir as suas missões.