quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A pirâmide invertida nas Forças Armadas

A notícia da edição de hoje do Jornal de Notícias é alarmante mas confirma as suspeitas que existem, desde há alguns anos, de que há cada vez menos praças nas Forças Armadas, designadamente no Exército e na Força Aérea.
Segundo refere a notícia, os efectivos das Forças Armadas são actualmente de 25.845 elementos, tendo havido uma redução de cerca de 25% nos últimos oito anos. No que respeita à classe de praças, no mesmo período, a redução foi superior a 40%. Actualmente o Exército tem 6265 praças, 3881 sargentos e 2976 oficiais, a Força Aérea tem 1930 praças, 2620 sargentos e 1944 oficiais, enquanto a Marinha tem 3714 praças, 2237 sargentos e 1985 oficiais. Esta "situação insustentável", segundo o CEMGFA, resulta sobretudo das opções políticas e dos constrangimentos orçamentais, mas também de uma atitude cultural do poder político.
Destes números pode concluir-se que a organização militar portuguesa tem uma pirâmide hierárquica invertida, certamente por corresponder a uma maior qualificação técnica dos seus elementos para os habilitar a dar resposta à sofisticação dos modernos equipamentos militares, mas também mostra um crescente desinteresse do poder político pelas suas Forças Armadas, provavelmente porque é grande o fosso existente entre os valores sociais dominantes e a cultura militar. A clássica opção apresentada há muitos anos por Paul Samuelson relativamente à utilização de recursos escassos na escolha entre canhões e manteiga, tem plena aplicação no caso português, porque a classe política que ocupa, ou quer ocupar o poder, se sustenta através do voto dos eleitores e estes estão mais interessados em manteiga do que em canhões.   
Porém, o problema da dimensão das Forças Armadas, do recrutamento de pessoal e da retenção dos militares qualificados não é apenas uma questão cultural porque é, sobretudo, uma questão de constrangimentos orçamentais que até é comum à maioria dos países europeus, como tantas vezes tem salientado o Donald. O facto é que o assunto é complexo e não pode deixar de ser estudado por quem saiba, porque assim as coisas não estão bem e, enquanto pilar do Estado democrático, as Forças Armadas têm que ser prestigiadas e dotadas dos meios adequados para cumprir as suas missões.

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