Vai terminar o
seu mandato o mais impopular presidente da democracia portuguesa e alguns
milhões de cidadãos vão sentir-se aliviados depois de um longo tempo
presidencial marcado pelo sectarismo, pela arrogância, pela insensibilidade
social, pelo novo-riquismo e pela pequenez cultural e mediocridade cívica.
A impopularidade do
filho do Teodoro de Boliqueime vinha de longe, quando falava com a boca cheia
de bolo-rei e quando criou a doutrina do bom aluno, da submissão a Bruxelas e
do deslumbramento pelos milhões dos fundos comunitários, que gerou a euforia
cavaquista que o catapultou da Travessa do Possolo para o Palácio de Belém. Aí,
Aníbal deslumbrou-se completamente e começou por abdicar da dignidade do seu
salário para se encostar às suas pensões. Encheu-se de assessores, rodeou-se de
gorilas e fartou-se de viajar. Nunca foi capaz de fazer um discurso cultural,
nem soube revelar preocupações com a pobreza ou com a desigualdade. Distinguiu um agente da PIDE e ostracizou Salgueiro Maia. Falou das
cagarras das Selvagens, das vacas que sorriem e do sabor da banana da Madeira.
Lamentou-se pela reforma da mulher, faltou ao funeral de Saramago, disse que o BES
não corria riscos e nunca se cansou de dizer, sobre tudo e mais alguma coisa,
que já tinha avisado.
Durante cerca de
dez anos optou por não ser o Presidente de todos os portugueses e ninguém
esquece o seu discurso de posse, vingativo, sectário e divisionista. Não
percebeu a sua função de garante da unidade e da coesão nacionais, assistiu
passivamente à intervenção da troika e não teve uma palavra de conforto para as
vítimas da austeridade, nem para os milhares de jovens que foram obrigados a
emigrar.
Recentemente, Aníbal
empunhou a bandeira do seu partido e fez tudo para não empossar o actual
Primeiro-Ministro, mas o experiente e inteligente António Costa decidiu
convidá-lo para simbolicamente presidir a um Conselho de Ministros. Fez bem,
mas não deixou de ser uma valente bofetada de luva branca.
Aníbal acumulou
fortuna e não vai regressar a Boliqueime porque tem agora uma nova mansão na
famosíssima Praia da Coelha, enquanto em Lisboa vai ocupar um gabinete novo no Convento
do Sacramento, sem se saber para quê. Aníbal foi um mau sonho que passou. Não vai deixar saudades
nenhumas e, provavelmente, também não vai ter um lugar na História.