quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Portugal e a Galiza são uma Irmandade

Marcelo Rebelo de Sousa foi distinguido com o Prémio Fernández Latorre, que é considerado como um Prémio Nobel galego, tendo sido o primeiro chefe de Estado estrangeiro a ser distinguido com aquele prémio, que foi instituído há 60 anos pelo fundador do jornal La Voz de Galicia.
É sabido como o Presidente da República Portuguesa, na linha do que fizeram os seus antecessores, tem dedicado uma especial atenção à Espanha, o país a que nos unem fronteiras, interesses económicos e laços históricos e culturais que se têm intensificado, depois da Democracia ter sido adoptada nos dois países, com enormes vantagens para ambos. Por isso, a distinção premeia o homem e o trabalho que tem desenvolvido pela amizade com a Espanha e pela unidade ibérica. 
O Prémio Fernández Latorre foi este ano decidido por unanimidade dos membros do seu Conselho de Curadores e foi entregue a Marcelo Rebelo de Sousa pelo rei Felipe VI de Espanha, tendo sido atribuído “em reconhecimento da sua acção para a promoção das relações bilaterais entre a Espanha e Portugal”, mas também pelo seu contributo para que as relações transfronteiriças entre ambos sejam agora “um modelo de coesão” para a União Europeia.
Na cerimónia de entrega do prémio, houve discursos em português, em galego e em castelhano, mas os discursos do Rei de Espanha e do Presidente de Portugal, foram coincidentes nos elogios e nos afectos. Marcelo disse que “juntos somos mais fortes” e, de facto, assim é no estado actual da Europa.
Naturalmente, o jornal La Voz de Galicia dedicou uma edição especial a este evento a que deu o título “Irmandade”, em referência às afinidades luso-galegas e que, além disso, muito reforçou o prestígio internacional de Marcelo Rebelo de Sousa.
O prémio tem um valor de 10 mil euros que o premiado doou à Comunidade Vida e Paz, uma associação que luta pela integração de pessoas sem-abrigo. De aplaudir, também.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O Brasil escolheu e o Jair é que venceu

O Brasil escolheu ontem o seu 38º Presidente da República e o escolhido foi Jair Bolsonaro com 55% dos votos. Foi uma vitória expressiva e o discurso de vitória surpreendeu pela moderação, pelo anúncio da defesa da Liberdade e da Democracia e, naturalmente, pelo apelo à reconciliação nacional, depois de uma campanha eleitoral quezilenta que acentuou rivalidades e despertou ódios.
Todos os grandes jornais internacionais noticiaram a vitória de Jair Bolsonaro e o jornal espanhol ABC escolheu para título da sua primeira página a sugestiva frase “Brasil elege o seu Trump”. Portanto, a norte teremos o Donald e, a sul, vamos ter o Jair, enquanto entre eles estará o Maduro.
O futuro não vai ser nada fácil porque o país está dividido e Jair Bolsonaro não parece ter capacidade política, nem qualidades pessoais, nem tão pouco o carisma necessário para unir os brasileiros. Há 60 milhões de brasileiros que esperam grandes coisas do novo presidente, mas há 47 milhões de eleitores que não votaram em Bolsonaro e essa enorme massa de potenciais contestatários vai exigir muita prudência e muita habilidade política por parte do novo presidente, que vai ter enormes dificuldades para levar por diante as suas promessas. Significa que o discurso extremista da campanha eleitoral terá que ser atenuado e que muitas das ameaças feitas têm que ser esquecidas, em nome da paz social, da tolerância e do progresso. Nesta margem do Atlântico oriental, onde já vivem e trabalham tantos brasileiros, todos iremos torcer para que o Brasil ultrapasse rapidamente a difícil situação de crise política e social em que se encontra e possa ter êxito no combate à violência e à insegurança, à corrupção e à pobreza, que têm sido as marcas mais negativas  do país nos últimos anos.  Vamos esperar para ver.

sábado, 27 de outubro de 2018

A encruzilhada em que está o Brasil

Amanhã realiza-se a 2ª volta das eleições presidenciais brasileiras e o mais provável, segundo as sondagens que são conhecidas, é que o candidato Jair Bolsonaro seja o vencedor e o candidato Fernando Haddad seja derrotado. Porém, qualquer que seja o vencedor, o facto é que o Brasil está muito dividido e cada vez mais agitado, pelo que vai entrar num período de grande instabilidade política e social. As posições estão extremadas entre os que querem o fim da corrupção e da violência e se agarram a Bolsonaro, e os que temem o regresso da ditadura e da repressão e que se juntam a Haddad.  O que vai acontecer é que o futuro Presidente não vai ter uma base social de apoio suficientemente alargada para fazer o que tem que ser feito contra a corrupção e contra a violência que, só no último ano, deu origem a mais de 60 mil mortos, o que é uma vergonha para o Brasil e para toda a Humanidade. O combate aos males que afectam a sociedade brasileira precisa de um consenso alargado que não existiu antes e que agora se tornou mais difícil. O fosso entre o Brasil de Bolsonaro e o Brasil de Haddad aprofundou-se. E há, ainda, os problemas da geografia, isto é, os problemas e as tensões naturais num país de uma enorme dimensão, de grandes assimetrias sociais e regionais.
Hoje, a edição do semanário Expresso dedica grandes espaços às eleições brasileiras e publica uma ilustração da estátua do Cristo Redentor no morro do Corcovado, em que os braços abertos da paz estão substituidos pelo cano das armas. É certamente uma liberdade ilustrativa, porque ninguém pode pensar que a rivalidade e a agressividade políticas que hoje se vivem no Brasil se possam transformar noutra coisa qualquer. O que tem que valer é o título do jornal: ódio não!

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O continente americano está ameaçado

O mundo anda muito nervoso e quando esse nervosismo chega aos Estados Unidos, todos ficamos preocupados, como mostra o recente envio de explosivos para diversas personalidades da vida política americana por via postal. A capa do New York Post ilustra bem esse nervosismo.
Os Estados Unidos não são apenas o país mais rico do mundo e o país onde as questões de segurança são tidas como a prioridade primeira das autoridades, mas são também uma referência de estabilidade para meio mundo. Por isso, quando o terrorismo entra no mais poderoso país do mundo, seja nos ataques às Torres Gémeas, seja no envio de explosivos por via postal, a sociedade destabiliza-se e os cidadãos preocupam-se. Evidentemente que quem semeia ventos colhe tempestades e, por isso, o discurso agressivo e provocador do Donald tem criado o ambiente onde o terrorismo e o espírito de vingança têm condições para aparecer e prosperar.
Se a este ataque que foi dirigido a personalidades do Partido Democrático americano e que está a deixar os Estados Unidos nervosos, juntarmos a grave situação política que se antevê para o Brasil qualquer que seja o resultado das próximas eleições, mais a agitação social que já está nas ruas da Argentina, mais a gravíssima crise nacional na Venezuela e as revoluções sociais em marcha na Nicarágua e nas Honduras, então parece termos todo o continente americano muito agitado.
A presidência dos Estados Unidos deveria ter um papel pacificador no continente e com muita atenção aos ventos de mudança, o que implica muito diálogo e muita capacidade de conciliação, mas também muito apoio aos países do Centro e do Sul do continente. Não é com a gritaria do Donald, nem com muros na fronteira que se resolvem os problemas de um continente que está sob a "ameaça" dos pobres e dos injustiçados.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Um novo livro de Cavaco? Não, obrigado!

Aníbal Cavaco Silva lançou ontem um livro a que chamou Quinta-feiras e outros dias, mas os jornais não lhe deram qualquer importância, à excepção do jornal i que aproveitou a oportunidade para entrar no jogo do autor e para o ajudar a vender alguns livros. Porém, as imagens televisivas da sessão de apresentação mostram que Cavaco tem muitos admiradores, incluindo aqueles que gostam de aparecer e de ser vistos nestas coisas.
Eu não li, nem vou ler o livro porque, segundo observei num comentário crítico, são 500 e tal páginas “sem uma ideia, sem um pensamento sobre a situação e o futuro de Portugal “, mas também porque durante a sua leitura não me sairia da cabeça a figura auto-convencida e sempre angustiada do autor, ora a engolir bolo-rei, ora a espumar pela boca, ora a dizer aos portugueses que podiam confiar no BES. Além disso, um homem que uma vez afirmou que “nunca me engano e raramente tenho dúvidas” não merece o estatuto de académico que usa, nem que se perca tempo com a literatura de cordel a que parece ter-se dedicado. Por isso, limitei-me a ler algumas das críticas em que é salientado que “a vaidade paroquial do homem não tem medida”. Deve ser isso.
Na realidade, para quem tem um confortável gabinete no antigo convento do Sacramento, que foi preparado e é pago pelo Estado, não se esperava que produzisse literatura de tão desolador vazio. Tratando-se do político que mais tempo esteve no poder no Portugal democrático, o que se esperava dele era uma obra de reflexão sobre o mundo e sobre o nosso país, que apontasse caminhos e nos ajudasse a pensar o futuro em relação à economia, ao ambiente, à cultura e a tantos outros sectores, mas em vez disso, parece que o ex-presidente que veio de Boliqueime, se dedicou a um exercício de intrigalhada política e de exibição de vaidades pessoais.
O que nos interessa o que Cavaco pensa sobre Costa, sobre Passos ou sobre Portas? Se Eça de Queirós ou Almada Negreiros fossem vivos, bem teriam matéria inspiradora para recriar o Conselheiro Acácio ou um novo Dantas.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A pobreza e a caravana do desespero

No passado dia 13 de  Outubro na cidade hondurenha de San Pedro Sula, um grupo de centro-americanos desesperados pela sua condição de pobreza e pela violência nos seus países, decidiu espontaneamente constituir-se como uma caravana pacífica e iniciar uma marcha de quase três mil quilómetros em direcção aos Estados Unidos para pedir asilo, arranjar trabalho e ter melhores oportunidades de vida. Inicialmente seriam cerca de 160 pessoas, mas poucas horas depois da decisão da partida o grupo já teria cinco centenas de migrantes. Quando a já chamada caravana migrante ou caravana dos descamisados passou em Ciudad Tecún Umán, na Guatemala, já excedia as cinco mil pessoas. A passagem da Guatemala para o México tornou-se mais difícil e perigosa pois houve que atravessar o rio que serve de fronteira entre os dois países, tendo havido forte oposição da polícia mexicana. Entretanto as autoridades mexicanas, sob a pressão da administração americana, têm procurado deter a marcha dos desesperados, que já serão cerca de sete mil pessoas indocumentadas e ilegais e que se aproxima agora da cidade mexicana de Tapachula.
Não é a primeira vez que estas marchas acontecem na América Central. Porém, esta caravana tem uma dimensão como nunca tivera antes e acontece quando ocorrem situações semelhantes nas águas do mar Mediterrâneo e nas cidades espanholas de Ceuta e Melilla. A imprensa americana, caso do Washington Post, mostra-se preocupada com o que pode vir a acontecer quando a caravana migrante hondurenha chegar à fronteira americana, mas esta caravana mostra que estamos perante um fenómeno novo e de certa forma inesperado, que é uma revolta mundial dos desesperados e dos pobres contra um mundo de injustiça e de desumanidade.

domingo, 21 de outubro de 2018

A complexa e difícil gestão do Brexit

Um número estimado em meio milhão de pessoas agitando as bandeiras azuis e douradas da União Europeia participou ontem em Londres numa manifestação para exigir ao governo britânico a realização de um novo referendo sobre o Brexit. Não foi a primeira manifestação deste tipo porque no passado mês de Junho uma outra fôra realizada, então com cerca de 100 mil pessoas.
O que está em causa é o referendo que foi realizado no dia 23 de Junho de 2016, em que 51,8% dos 16 milhões de votantes britânicos escolheram sair da União Europeia, enquanto 48,2% escolheram permanecer. Este equilíbrio de posições revela que o Reino Unido estava dividido quanto a esta questão e que os dois anos já decorridos desde então, mostram que a divisão continua e que há muitas dificuldades políticas e económicas, mas também culturais, para ultrapassar. O governo de Theresa May tem mostrado muitas dificuldades na condução do processo e o seu governo tem mostrado alguma falta de coesão. A oposição trabalhista também tem insistido na necessidade de repensar o Brexit e, sobretudo, há novos sectores da população que parece estarem a acordar para uma realidade que a propaganda populista escondeu dos eleitores há dois anos. Aparentemente há agora mais britânicos a preferir a permanência britânica na União Europeia do que antes.
O jornal espanhol La Vanguardia destacou a grande manifestação de Londres na sua primeira página, mas nenhum jornal britânico destacou esta notícia, talvez por andarem demasiado atarefados com as notícias do Harry, o neto de Isabel II que anda a passear pela Austrália. As dificuldades de Theresa May são enormes e os observadores já se interrogam sobre se o Brexit vai por diante sem que haja eleições ou um novo referendo. O que parece não haver dúvidas é que, com ou sem Brexit, vão soprar ventos muito fortes nas ilhas Britânicas.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Há juízes que vivem para os tablóides

Nos últimos dias, após a tomada de posse da nova Procuradora-Geral da República, o juiz Alexandre tem-se desdobrado a dar entrevistas à RTP e ao jornal i, que depois têm sido amplificadas em outros orgãos da comunicação social.
Não é habitual que os juízes portugueses se deixem envolver na tabloidização das suas funções, que são muito importantes numa sociedade democrática e num Estado de Direito, mas este juiz que veio de Mação, parece ser a excepção à regra. Gosta de ser entrevistado, de revelar a sua vida pessoal, de exibir as suas raízes identitárias e de dar palpites sobre os processos em que está envolvido. Para satisfação desse seu apetite, há sempre uns amigos para abonarem as suas boas qualidades e uns estagiários disponíveis para fazer o papel de entrevistadores.
E o que se passou nos últimos dias nem aconteceu pela primeira vez e isso é preocupante para os cidadãos que confiam na Justiça.
O comportamento de quem julga deve ser reservado, discreto, atento e imparcial, para que possa comprender o problema em questão e o seu enquadramento social, de forma a tomar a decisão justa de acordo com a Lei. Com estas entrevistas ao estilo tablóide, o juiz Alexandre revela demasiados pré-conceitos e muitos preconceitos. Com este tipo de exposição mediática, comparável aos futebolistas, às artistas de telenovela ou a algumas locutoras da televisão, o juiz Alexandre dá um enorme contributo para a describilização da Justiça.
É uma tristeza assistir a estas entrevistas promocionais, feitas de encomenda e sem qualquer interesse jornalístico, em que os entrevistados nada de substantivo dizem e se mostram deslumbrados por aparecer nos tablóides, com fotografia e tudo.

A nova ponte sobre o rio das Pérolas

Foi anunciado pelo jornal hoje macau que, nove anos depois do início da sua construção, a nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau vai ser oficialmente inaugurada na próxima terça-feira, dia 23 de Outubro. Apesar da distância a que nos encontramos, esta obra desperta a nossa curiosidade devido à forte ligação histórica de Portugal com esta região do sul da China, onde em 1557 foi criado o estabelecimento de Macau e onde aconteceu uma intensa actividade dos mercadores portugueses e, em especial, as peregrinações e as aventuras de Fernão Mendes Pinto neste delta do Rio das Pérolas, que uma enorme ponte agora atravessa.
A inauguração vai ser, certamente, uma grande festa à maneira chinesa. Trata-se de uma notável obra de engenharia cujo custo atingiu 16 mil milhões de euros para servir esta região do sul da China com cerca de 60 milhões de habitantes e que se espera venha a impulsionar a sua economia que já é responsável por 9,1% do PIB e por 26% das exportações chinesas.
A ponte tem 55 km de comprimento e é a maior travessia sobre do mar do mundo, unindo as duas margens do delta do Rio das Pérolas, sendo constituída por três pontes suspensas, um túnel submarino e duas ilhas artificiais. Vai ligar Hong Kong, Zhuhai e Macau, numa região em que também se localizam as cidades de Guangzhou e Shenzen, permitindo ligar aquelas três cidades em 45 minutos, algo que até agora demorava entre 60 a 70 minutos de ferry boat e entre três a quatro horas de automóvel.
Enquanto obra de grande dimensão e tal como sempre acontece, a nova ponte ou travessia teve atrasos na construção, sobrecustos, suscitou dúvidas quanto aos seus efeitos ambientais, teve a denúncia de casos de corrupção e foi afectada por alguns graves acidentes.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Os dias da Lusofonia decorrem em Macau

Tiveram início em Macau no passado fim-de-semana as iniciativas que integram o programa da 10ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizada pelo Fórum Macau em coordenação com o Instituto Cultural e o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.
Nesse programa, que se desenvolverá até ao dia 4 de Novembro, estão incluídas exposições de pintura, peças de teatro, espectáculos musicais, uma feira artesanato, stands de apresentação dos produtos dos vários países lusófonos e, naturalmente, as habituais iniciativas gastronómicas.
Na sua última edição o jornal Tribuna de Macau dedicou um alargado espaço a esta Semana Cultural e apresentou muitos dos artistas e grupos que vão participar neste evento, onde aparecem representantes de pequenos países como São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Timor-Leste e até um grupo musical da antiga Índia Portuguesa.
Segundo informa aquele jornal, o interesse pela semana lusófona em Macau tem vindo a aumentar, assim como o número de visitantes, não apenas locais mas também turistas, o que constitui um bom incentivo para a organização e contribui para a promoção da cultura de raiz lusófona.
É, portanto, uma iniciativa que devia ter um forte apoio das autoridades portuguesas, não só em Macau, mas também noutras cidades onde há portugueses ou onde há quem goste de Portugal e da sua cultura.

sábado, 13 de outubro de 2018

Aproxima-se uma recessão económica?

O desenvolvimento das actividades económicas acontece por ciclos, isto é, verifica-se uma sucessão de períodos de rápido crescimento económico que alternam com períodos de relativa estagnação ou declínio. Esse facto foi reconhecido e estudado por muitos economistas, nomeadamente Nikolai Kondratiev, Joseph Schumpeter e Paul Samuelson, através da análise estatística dos desempenhos das economias e todos eles concluiram que os ciclos económicos oscilam entre a expansão e a recessão ou entre o chamado boom económico e a depressão económica.
Cada ciclo económico é caracterizado por um grande número de variáveis, a principal das quais é o crescimento do produto interno bruto, mas também considera outras variáveis como a evolução do desemprego e da inflação.
Segundo um estudo recentemente publicado nos Estados Unidos, em relação aos últimos 161 anos, está a verificar-se o segundo maior ciclo de expansão económica que já vai em 109 meses e que se aproxima do mais longo ciclo de expansão que se conhece que foi de 120 meses. Olhando friamente para  estes números verificamos que a recessão está à porta e que não depende deste ou daquele governo, mas principalmente da euforia dos consumidores que tudo querem (casas, carros, férias) e da ganância e da cegueira da banca que os alimenta. Porém, a economia não é uma ciência exacta e, por isso, estes números não nos fornecem qualquer evidência concreta da aproximação de uma recessão, mas sugerem que o ciclo económico se aproxima de uma contração ou de uma depressão económica, que alguns especialistas afirmam poder ser mais grave do que o habitual. Aliás, aqui mesmo, tratamos este assunto há dois dias a propósito do excessivo e preocupante recurso ao crédito para o consumo em Portugal e, na sua edição de hoje, foi o The Economist que, com um sugestivo grafismo, veio avisar da situação, até parecendo que se inspirou na Rua dos Navegantes.
Quem quiser que acredite. Eu acredito.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Os portugueses, o consumo e a poupança

Desde há alguns meses que o crédito ao consumo não pára de crescer em Portugal e esse facto está a começar a preocupar muita gente, sobretudo aqueles que sabem que não se pode consumir acima daquilo que se produz, através do recurso ao crédito. A fórmula “consuma agora e pague depois” regressou aos balcões da banca, parecendo que a banca e as autoridades financeiras se esquecem que, ainda recentemente, tiveram que ser os contribuintes, através dos impostos, que ir em socorro de uma banca gananciosa, incompetente  e impune quanto aos males que trouxe ao nosso país. Na primeira metade do ano, os bancos e as sociedades financeiras disponibilizarn perto de 3,7 mil milhões de euros em créditos ao consumo, o que constitui um novo máximo nacional segundo o Banco de Portugal, significando que, em média, os portugueses pediram mais de 20 milhões de euros por dia  em empréstimos desta natureza. Só no mês de Maio foram concedidos 667 milhões de euros em créditos ao consumo, um valor que representa um crescimento de 16% face ao mesmo período do ano passado.
Esse crescimento foi impulsionado pelo crédito para compra de automóvel que cresceu 15% e atingiu 288,8 milhões de euros. Nunca num mês tinha sido concedido tanto crédito para a compra de automóvel e aí está a razão porque as nossas estradas estão cheias de carros caros e novos.
Hoje o Jornal de Negócios destaca na sua primeira página que o “crédito ao consumo volta a criar alarme”, salientando que o crédito às famílias continua a aumentar e está em máximos de oito anos, parecendo estarem-se a repetir alguns excessos do passado. Mesmo sem ter acesso a estatísticas para conhecer exactamente a situação, também me parece que não se aprenderam as lições do passado.
Podia estimular-se a poupança e canalizá-la para o investimento produtivo, mas a banca está mais interessada no chamado crédito pessoal para compra de habitação, automóvel, férias, artigos para o lar e outros bens e serviços. Será que se aproxima uma bolha de crédito?

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Argentina é campeã mundial da inflação

O diário argentino Hoy é um tablóide de distribuição gratuita que se publica na cidade de La Plata, a capital da província de Buenos Aires, que se localiza a cerca de 56 km para sueste de Buenos Aires, a cidade autónoma que é a capital federal da Argentina.
É um jornal muito popular e estima-se que tenha cerca de 400 mil leitores. Na sua última edição o jornal trouxe para a sua primeira página a notícia de que, no ano de 2018 e segundo as previsões do FMI, a Argentina teria uma inflação de 40,5%, só superada no mundo pela inflação da Venezuela, Sudão do Sul, Sudão e Irão, isto é, a Argentina é o quinto país do mundo com mais inflação.
A inflação consiste no aumento incessante dos preços quando a procura supera a oferta e é um problema económico e social sério, porque corrói todo o ciclo económico e afecta sobretudo as pessoas de menores rendimentos. No caso argentino, a inflação em 2017 já atingira 24,8%, o que significa que o país está perante uma situação económica muito difícil.
A notícia foi objecto de uma ilustração original e muito criativa em que Mauricio Macri, o actual presidente da República Argentina, sobe ao pódio com a camisola amarela que simboliza o 1º lugar nesta competição da inflação e parece gritar: Somos campeones!
É caso para dizermos que, aqui neste canto ocidental da Europa que se chama Portugal, a inflação é coisa de que já não se fala há muito tempo e esse facto bem tem ajudado a que se vá vivendo na euforia consumista a que assistimos.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Montserrat Caballé e a união pela cultura

O último adeus a Montserrat Caballé deu origem a uma homenagem nacional e tornou-se num acontecimento político relevante, a mostrar que a democracia funciona até na Catalunha, apesar da existência de alguns dirigentes radicais catalães.
A morte da soprano espanhola de 85 anos de idade acontecida no passado sábado num hospital de Barcelona, a sua terra natal, consternou toda a Espanha porque ela era um dos símbolos da cultura espanhola contemporânea, com um currículo artístico singular em que fez mais de quatro mil apresentações em todo o mundo, entre óperas e recitais.
Num tempo em que as tensões têm subido de tom na Catalunha e pouco tempo depois do presidente da Generalitat ter incitado o povo a assaltar o Parlamento e de ter feito um ultimato ao governo espanhol, as cerimónias fúnebres juntaram alguns dos principais protagonistas do processo, a começar pela Casa Real representada pela Rainha Emérita Sofia de Espanha, mas também o primeiro ministro espanhol Pedro Sanchez, o presidente da Generalitat da Catalunha Quim Torra, o ministro da Cultura espanhol, o líder do Partido Popular e a presidente do Município de Barcelona. Gobierno e Govern unidos por Montserrat Caballé. A união pela cultura.
Todos os jornais publicaram a fotografia da cerimónia fúnebre. Embora todos tivessem reparado que Sanchez e Torra se limitaram a um mero cumprimento protocolar e que não trocaram palavra, a sua simples presença nesta cerimónia ao lado de apoiantes e de adversários da causa catalã, mostra que o diálogo é possível e que só esse caminho pode resolver o problema. Certamente que Quim Torra, tal como Carles Puigdemont, aprenderão que as suas legítimas aspirações independentistas não podem ser satisfeitas através de outra via que não seja a do diálogo.

Brasil escolherá Presidente na 2ª volta

O Brasil está em brasa com os resultados das eleições presidenciais, mas sobretudo está dividido e preocupado, porque os resultados da 1ª volta determinaram que Jair Bolsonaro com 46% dos votos e Fernando Haddad com 29% disputem a 2ª volta. Significa que as previsões apontadas pelas sondagens foram acertadas e, portanto, não houve grandes surpresas, pois confirmou-se a polarização da sociedade brasileira, entre a direita e a esquerda políticas ou entre a segurança a que uns aspiram e a justiça social que outros desejam. Nem Bolsonaro nem Haddad parecem ter o carisma que lhes permita mobilizar emocionalmente as multidões e, portanto, o voto dos brasileiros tenderá a seguir a razão e não a emoção. Não é fácil perceber à distância as razões que irão pesar nas escolhas dos eleitores brasileiros na 2ª volta que se realizará no dia 28 de Outubro. As sondagens indicam que Bolsonaro poderá vencer, mas as sondagens enganam-se muitas vezes. Agora que a campanha eleitoral se concentra nos dois candidatos mais votados, vai acontecer uma reflexão mais apurada dos eleitores e uma natural arrumação dos votos dos candidatos derrotados na 1ª volta e daqueles que nem sequer votaram. Os dois candidatos que se situam nas franjas eleitorais extremas da direita e da esquerda vão agora moderar o seu discurso para atrair os 25% de votos obtidos pelos candidatos moderados e vão procurar que os que não votaram não deixem de ir às urnas no dia 28. São mais de 20 milhões de votos que podem alterar todas as previsões.
Uma eleição destas não é um exercício matemático simples e, pelo contrário, é uma operação de sociologia política e de manipulação mediática muito complexa. Por isso, nem Bolsonaro tem a vitória garantida, nem Haddad já está condenado. Só que nem um, nem o outro candidato, afastam as preocupações dos brasileiros quanto ao seu futuro.

sábado, 6 de outubro de 2018

Brasil: eleições e muitas preocupações

A primeira volta das eleições presidenciais brasileiras realiza-se amanhã e os 147,3 milhões de brasileiros recenseados vão escolher o futuro Presidente da República Federativa do Brasil, mas se nenhum dos 13 candidatos obtiver mais de 50 por cento dos votos válidos, haverá uma segunda volta no dia 28 de Outubro em que participarão apenas os dois candidatos mais votados na primeira volta.
O Brasil é o maior país da América Latina, é o quinto maior país do mundo em território e é o sexto em termos demográficos. Mesmo que alguns amigos brasileiros não gostem de ouvir as verdades, o grande Brasil que tem mais de 15 mil quilómetros de fronteira terrestre, é obra de bandeirantes, diplomatas, missionários e militares portugueses, que souberam expandir as suas terras até à cordilheira dos Andes e mantê-las unidas e à margem dos interesses espanhóis.
Amanhã os brasileiros vão votar e, segundo as sondagens, o candidato Jair Bolsonaro terá 39% dos votos válidos enquanto o candidato Fernando Haddad ficará com 25%. A ser assim, esses mesmos candidatos disputarão a 2ª volta no dia 28 de Outubro. A escolha é difícil para o eleitorado brasileiro porque de um lado está o discurso da extrema-direita e de um certo apelo à ditadura, do racismo e da misoginia, com a promessa de mais segurança, enquanto do outro lado está a continuidade das políticas do PT, a corrupção e a insegurança nas ruas, com a promessa de mais justiça social. Poucos parecem apostar na democracia e muitos temem que ela seja suspensa. A leitura da imprensa europeia, como se vê por exemplo no Libération, mostra a grande preocupação por uma eventual vitória de Bolsonaro que, segundo se diz por cá, é uma cópia de Donald Trump, embora muito pior, mas o facto é que  está a seduzir o Brasil com o seu discurso radical e a garantia de segurança que vem oferecendo. Amanhã saberemos o que escolheram os brasileiros.

Há corvos e abutres a cercar o Vaticano

Para além dos aspectos religiosos que são um problema do foro íntimo de cada ser humano e que, portanto, não são aqui tratados, a Igreja Católica Apostólica Romana é também uma organização milenar e planetária cuja autoridade suprema é o Papa, Bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro. A comunidade católica conta com mais de mil milhões de crentes em todo o mundo, que representam cerca de um sexto da população mundial e daí a sua importância.
Ao longo do processo histórico a Igreja Católica tem dado um enorme contributo para o progresso da Humanidade através das suas missões, das suas escolas e dos seus padres e missionários, mas sem nunca ter estado isenta de crises e de cismas. Porém, nos tempos modernos, a Igreja tem procurado adaptar-se aos novos tempos, para uns de forma muito tímida e para outros de forma muito avançada. Aí começam os problemas em que  se confrontam as correntes progressistas e as correntes ultra-conservadoras da Igreja, em que as questões do património, da gestão financeira ou do comportamento do clero se transformam em grandes polémicas.
A Igreja Católica, tal como a cidade-estado do Vaticano, são governadas desde o dia 13 de Março de 2013, por Jorge Mario Bergoglio, o bispo argentino que, após a renúncia do Papa Bento XVI, foi escolhido pelos cardeais reunidos em conclave para o substituir e que adoptou o nome de Papa Francisco. Tem sido sobre esse homem, que procura gerir com equilíbrio as diferentes sensibilidades e até as tradições culturais, teológicas e litúrgicas da Igreja Católica, que pesa o desafio de procurar restituir a confiança nos católicos feridos pelos escândalos do clero e de levar à aceitação de uma Igreja missionária, mais próxima dos pobres e dos mais necessitados.
O Courrier International trata hoje deste assunto e a sua capa é bem sugestiva e fala por si.

O novo mundo dos smartphones

Uma das grandes transformações sociais dos últimos tempos está a ser a generalização dos smartphones, que está a dar origem ao aparecimento de um novo tipo de criatura que não vê, não escuta e não lê, mas que se limita a usar aquela pequena maquineta. Huawei, Samsung, Apple, Wiko e Nokia dominam o mercado e cada um destes nomes tem os seus seguidores pois que, tal como acontece com o automóvel e com os produtos de luxo, a marca e o modelo do smartphone também conferem status entre os jovens e os adolescentes
O smartphone entrou no quotidiano de quem o tem e de quem não o tem. Entramos no transporte público e toda a gente o devora, indiferente ao que o rodeia, uns para verem as notícias, outros para ouvirem música ou para fazerem jogos e, outros, ainda, para falarem pelo Skype ou pelo WhatsApp. O smartphone selecciona percursos, escolhe as estradas, gere as contas bancárias, escolhe restaurantes, leva-nos às lojas e reserva-nos os bilhetes. Faz quase tudo. Estamos perante uma smartmania que já se transformou num verdadeiro choque civilizacional, em que se está a perder a conversação em família que era a base da educação e, entre os amigos, que era o fundamento da sociabilidade e da solidariedade. Estamos, portanto, a entrar num novo mundo habitado por criaturas que, embora derivem do homo sapiens já não são aquilo que tinham sido os seus avós.
A revista alemã Der Spiegel foi estudar este assunto e com o título “O meu filho, o celular dele eu”, procurou encontrar caminhos para lidar com a geração-smartphone. O smartphone tornou-se uma espécie de segundo cérebro para muitos adolescentes e eles não conseguem imaginar a sua vida sem eles e sem a necessária cobertura de rede da internet. O estudo começou por verificar que os jovens levam em média o smartphone na mão 98 vezes por dia e que o chegam a utilizar 90 vezes. É realmente um mundo novo este dos smartphones.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Theresa May e o marketing político

Theresa May, a líder do Partido Conservador e primeira-ministra da Grã-Bretanha, falou ontem aos seus correlegionários em Birmingham, durante o congresso do seu partido, poucos minutos depois do deputado James Duddridge lhe ter apresentado a demissão do governo e de ter afirmado que ela não é pessoa certa para liderar o partido e o país.
Muitos observadores consideram que a atitude de Duddridge está em linha com as posições de Boris Johnson, que se demitiu do cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros e se prepara para se apresentar como alternativa à liderança dos conservadores.
Neste quadro de críticas e numa altura em que o ambiente é pesado e incerto no Partido Conservador e na Grã-Bretanha pela falta de acordo com Bruxelas relativamente ao Brexit, os congressistas estavam muito ansiosos para ouvir Theresa May num momento particularmente difícil. Porém, por vezes o marketing político pode fazer milagres e foi isso que aconteceu:
Theresa May subiu ao palco ao som de “Dancing Queen”, dos Abba, não deixando de exibir boa disposição e de ensaiar alguns passos de dança. Mesmo antes de falar, já tinha conquistado a plateia que a aplaudiu com entusiasmo. Os congressistas gostaram e os passos de dança de Theresa May encheram as redes sociais, enquanto toda a imprensa britânica os reproduziu em primeira página.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

O conflito catalão renasceu e está vivo

Os partidos e as organizações independentistas catalãs organizaram ontem em Barcelona uma manifestação para comemorar o primeiro aniversário do referendo de 1 de Outubro de 2017 (1-O). Esse referendo de 2017 tinha sido convocado pelo Governo Regional da Catalunha (Generalitat de Catalunya), mas tinha sido proibido pelo Tribunal Constitucional e pelo Governo de Espanha então chefiado por Mariano Rajoy, mas os independentistas compareceram nas urnas. Dos mais de 5 milhões de eleitores recenceados votaram 43% e, destes, houve 92% que responderam “sim” à pergunta "Quer que a Catalunha seja um estado independente em forma de república?”. Significa que, de acordo com os dados anunciados mas não verificados, houve 38% do eleitorado catalão que votou pela independência, mas nunca ninguém certificou estes resultados em que cada um votou as vezes que quis e nos locais que quis. Foi uma farsa em que ninguém acreditou. Porém, no dia 10 de Outubro, o então presidente da Generalitat Carles Puigdemont, declarou a independência catalã de forma unilateral, mas pediu que o efeito dessa declaração fosse suspenso durante algumas semanas para que se abrisse um diálogo. Entretanto, Puigdemont retitou-se para Bruxelas, a Catalunha serenou e recuperou a sua autonomia que lhe havia sido retirada por acção do artigo 155 da Constituição Espanhola.
Ontem os CDR (Comités de Defesa da Revolução), que foram criados em 2017 para defender os resultados de um referendo sem qualquer valor jurídico e sem reconhecimento internacional, com o apoio expresso de Quim Torra, o actual presidente da Generalitat, tentaram assaltar o Parlamento Catalão, como se estivessem em 1917 em frente do Palácio de Inverno em Moscovo, ou em 1989 em frente do Palácio de Ceausescu em Bucareste. A polícia catalã, os Mossos de Esquadra, impediram essa tentativa de invasão, mas os acontecimentos de ontem em Barcelona, que a imprensa relata e a televisão mostra, revelam que o conflito catalão vai continuar e que Quim Torra pode juntar-se brevemente a Carles Puigdemont ou a Oriol Junqueras, pelo seu expresso incitamento à desordem pública e à violência.