Aníbal Cavaco
Silva lançou ontem um livro a que chamou Quinta-feiras
e outros dias, mas os jornais não lhe deram qualquer importância, à
excepção do jornal i que aproveitou a oportunidade para entrar no jogo do
autor e para o ajudar a vender alguns livros. Porém, as imagens televisivas da
sessão de apresentação mostram que Cavaco tem muitos admiradores, incluindo
aqueles que gostam de aparecer e de ser vistos nestas coisas.
Eu não li, nem
vou ler o livro porque, segundo observei num comentário crítico, são 500 e tal
páginas “sem uma ideia, sem um pensamento sobre a situação e o futuro de
Portugal “, mas também porque durante a sua leitura não me sairia da cabeça a
figura auto-convencida e sempre angustiada do autor, ora a engolir bolo-rei, ora
a espumar pela boca, ora a dizer aos portugueses que podiam confiar no BES. Além
disso, um homem que uma vez afirmou que “nunca me
engano e raramente tenho dúvidas” não merece o estatuto de académico que usa,
nem que se perca tempo com a literatura de cordel a que parece ter-se dedicado.
Por
isso, limitei-me a ler algumas das críticas em que é salientado que “a vaidade
paroquial do homem não tem medida”. Deve ser isso.
Na realidade, para
quem tem um confortável gabinete no antigo convento do Sacramento, que foi
preparado e é pago pelo Estado, não se esperava que produzisse literatura de
tão desolador vazio. Tratando-se do político que mais tempo esteve no poder no
Portugal democrático, o que se esperava dele era uma obra de reflexão sobre o mundo
e sobre o nosso país, que apontasse caminhos e nos ajudasse a pensar o futuro
em relação à economia, ao ambiente, à cultura e a tantos outros sectores, mas
em vez disso, parece que o ex-presidente que veio de Boliqueime, se dedicou a
um exercício de intrigalhada política e de exibição de vaidades pessoais.
O que nos
interessa o que Cavaco pensa sobre Costa, sobre Passos ou sobre Portas? Se Eça
de Queirós ou Almada Negreiros fossem vivos, bem teriam matéria inspiradora
para recriar o Conselheiro Acácio ou um novo Dantas.
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