sábado, 31 de março de 2018

Foi suspensa a Barcelona World Race

A Barcelona World Race é uma grande competição vélica organizada pela FNOB (Fundação da Navegação Oceânica de Barcelona) que se realiza de quatro em quatro anos, na qual as embarcações monocasco de dois tripulantes saem de Barcelona e dão a volta ao mundo passando pelos três cabos – cabo da Boa Esperança, cabo Leeuwin e cabo Horn, terminando a prova em Barcelona.
Nas três primeiras edições da prova realizadas em 2007/2008, 2011 e 2015 os vencedores demoraram respectivamente 92, 93 e 84 dias a completar a volta ao mundo.
A 4ª edição desta corrida estava previsto ser iniciada no dia 12 de Janeiro de 2019 e tinha como novidade uma paragem obrigatória em Sydney, o que significava um primeiro troço de corrida desde Barcelona até Sydney (13.500 milhas) e um segundo troço de Sydney até Barcelona (12.500 milhas).
Porém, em face das dificuldades políticas e institucionais por que passa a Catalunha, não apareceram os patrocinadores privados necessários para garantir o financiamento de uma prova desta natureza, pelo que a FNOB decidiu suspender a corrida de 2019. No entanto, a FNOB já está em negociações com a IMOCA (International Monohull Open Classes Association), a associação que agrega os interesses de velejadores, construtores e organizadores, para preparar a edição de 2023 desta prova, por se tratar de um importante evento do calendário mundial dos monocascos de 60 pés e, também, pela sua importância para o turismo e para a imagem de Barcelona.
Alguns jornais espanhóis, nomeadamente o conservador ABC, aproveitaram para responsabilizar o independentismo por esta decisão, mas o facto é que a suspensão desta prova serviu de argumento tanto para os constitucionalistas como para os independentistas.

Goa tem o estatuto de “Europa da Índia”

O jornal hindustan times tem a sua sede em Nova Deli, é o segundo maior jornal da Índia e tem uma circulação superior a um milhão de exemplares.
A sua primeira página costuma ser vendida como suporte de publicidade e foi isso que aconteceu na sua edição de hoje, em que uma empresa denominada Provident Housing, uma subsidiária do grupo Puravankara que se considera como uma das maiores imobiliárias da Índia, comprou esse espaço para dizer aos seus leitores Go home to Goa ou, dito em português, vá para casa em Goa. O anúncio refere-se ao pré-lançamento de um grande empreendimento de apartamentos em condomínio que vai ser construído em Goa, junto a Chicalim e próximo do aeroporto de Dabolim e do porto de Mormugão. O anúncio foi ilustrado com uma fotografia de uma jovem ocidental na praia, deixando subliminarmente a ideia de que “Goa é a Europa da Índia” o que, de resto, é uma ideia que prevalece naquele país.
O empreendimento foi baptizado com o sugestivo nome de  Adora de Goa e, este nome, tal como a fotografia da jovem com vestes ocidentais, visam estimular o interesse dos indianos das classes médias emergentes para a aquisição de um apartamento em Goa, cuja descrição evoca a permanência dos portugueses durante 451 anos.
A curiosidade deste anúncio está apenas no facto da herança cultural portuguesa, visível em muitos aspectos do quotidiano goês, desde o património à língua e passando por muitas práticas culturais, estar a ser usada para atrair os pequenos investidores e o turismo interno indianos para a ocidentalidade, para as praias e para os monumentos de Goa.

As mentiras, o histerismo e a prudência

Eu não me esqueço do dia 16 de Março de 2003 quando George W. Bush, Tony Blair, José Maria Aznar e Durão Barroso se encontraram na Cimeira das Lajes e do início da intervenção militar americana no Iraque, que começou quatro dias depois. O pretexto foi acabar com Saddam Hussein e com as armas de destruição maciça que afinal não existiam, mas este caso serviu para a criação de uma versão mais actualizada sobre o poder da mentira, na linha de pensamento de Joseph Goebbels, a quem se atribui a frase que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Outros casos semelhantes têm acontecido desde então, quer no plano interno, quer no plano internacional, em que a mentira tem sido utilizada para enviezar a realidade, manipular a opinião pública e para produzir determinados efeitos.
O mais recente caso deste tipo de actuação é a expulsão de 23 diplomatas russos pelo presumível envolvimento do Kremlin de Moscovo no envenenamento em território britânico de um ex-espião russo e da sua filha, sem que ainda haja prova dessa acusação. O governo de Theresa May invocou a alta probabilidade das autoridades russas estarem envolvidas nesse caso e, dessa forma, desviou a atenção interna e internacional dos problemas que tem entre mãos. Donald Trump, que acabara de felicitar Putin pela sua reeleição, esqueceu o seu slogan “America first” e decidiu expulsar seis dezenas de diplomatas russos, porque viu estar aí uma forma de perturbar o crescente poder de Vladimir Putin e dar ânimo aos falcões americanos. Depois seguiram-se duas dezenas de países que, simbolicamente e numa solidariedade misturada com hipocrisia, expulsaram alguns diplomatas, casos por exemplo da Alemanha, França e Canadá (quatro cada), Espanha, Itália, Holanda e Dinamarca (dois cada) e Bélgica, Finlândia, Suécia, Hungria, Irlanda e Roménia, entre outros (um cada).
Portugal usou da prudência e foi solidário com os seus parceiros da NATO e da UE, mas não alinhou no histerismo daqueles que confundem a Rússia com a União Soviética e que apostam numa nova guerra fria para alimentar as suas indústrias de armamento. Tudo está por provar e não podem ser as políticas erráticas de Theresa May e de Donald Trump a condicionar a diplomacia portuguesa e a boa relação que o nosso país quer manter com a Rússia e com todos os povos do mundo. Significativamente, o importante Washington Post apenas dedicou uma pequena coluna a este assunto que, certamente, considerou um fait-divers da política internacional para desviar as atenções de outras situações.