Eu não me esqueço
do dia 16 de Março de 2003 quando George W. Bush, Tony Blair, José Maria Aznar
e Durão Barroso se encontraram na Cimeira das Lajes e do início da intervenção
militar americana no Iraque, que começou quatro dias depois. O pretexto foi
acabar com Saddam Hussein e com as armas de destruição maciça que afinal não
existiam, mas este caso serviu para a criação de uma versão mais actualizada
sobre o poder da mentira, na linha de pensamento de Joseph Goebbels, a quem se
atribui a frase que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Outros casos
semelhantes têm acontecido desde então, quer no plano interno, quer no plano internacional,
em que a mentira tem sido utilizada para enviezar a realidade, manipular a
opinião pública e para produzir determinados efeitos.
O mais recente caso
deste tipo de actuação é a expulsão de 23 diplomatas russos pelo presumível envolvimento do Kremlin de
Moscovo no envenenamento em território britânico de um ex-espião russo e da sua
filha, sem que ainda haja prova dessa acusação. O governo de Theresa May invocou a alta probabilidade das autoridades
russas estarem envolvidas nesse caso e, dessa forma, desviou a atenção interna
e internacional dos problemas que tem entre mãos. Donald Trump, que acabara de
felicitar Putin pela sua reeleição, esqueceu o seu slogan “America first” e
decidiu expulsar seis dezenas de diplomatas russos, porque viu estar aí uma
forma de perturbar o crescente poder de Vladimir Putin e dar ânimo aos falcões americanos. Depois seguiram-se duas
dezenas de países que, simbolicamente e numa solidariedade misturada com hipocrisia, expulsaram alguns diplomatas, casos por
exemplo da Alemanha, França e Canadá (quatro cada), Espanha, Itália, Holanda e
Dinamarca (dois cada) e Bélgica, Finlândia, Suécia, Hungria, Irlanda e Roménia,
entre outros (um cada).
Portugal usou da
prudência e foi solidário com os seus parceiros da NATO e da UE, mas não
alinhou no histerismo daqueles que confundem a Rússia com a União Soviética e
que apostam numa nova guerra fria para alimentar as suas indústrias de
armamento. Tudo está por provar e não podem ser as políticas erráticas de
Theresa May e de Donald Trump a condicionar a diplomacia portuguesa e a boa
relação que o nosso país quer manter com a Rússia e com todos os povos do mundo.
Significativamente, o importante Washington Post apenas dedicou uma
pequena coluna a este assunto que, certamente, considerou um fait-divers da política internacional para desviar as atenções de outras situações.
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