terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A Ucrânia e o passo em frente do Vladimir

Vladimir Putin anunciou o reconhecimento da independência das chamadas repúblicas rebeldes de Donetsk e Lugansk, situadas no leste da Ucrânia, o que significa um passo em frente no conflito que se vem desenvolvendo entre a Rússia e os Estados Unidos, no qual a Europa deveria ter um papel decisivo mas que se limita a um seguidismo dos seus falcões, que estão subordinados aos interesses americanos. De imediato, as novas repúblicas pediram o apoio russo e Putin mandou avançar os seus tanques como forças de manutenção da paz para a bacia de Donbass, que é a maior região industrial do país e que tem uma área semelhante a metade de Portugal, com quase cinco milhões de habitantes.
A Ucrânia está no centro da Europa e, em vez de ser olhada como parte da Rússia ou como parte da Europa Ocidental, deveria ser tratada como o país multicultural e multireligioso, cujo destino seria a moderação dos apetites históricos, tanto dos russos, como dos ocidentais. A ideia de levar a NATO para a Europa oriental, que já Henry Kissinger condenara, tem sido uma provocação para o orgulho russo. O antigo secretário de Estado americano assinou em 2014 um artigo no The Washington Post, intitulado “How the Ukraine Crisis Ends”, em que afirma que ”a Ucrânia faz parte da Rússia há séculos” e, de facto, o país só é independente há 23 anos, na sequência da queda do império soviético e da humilhação que foi feita aos russos.
E agora? A incerteza é completa sobre o que se vai passar. Hoje, as televisões vão encher-se de comentadores a criticar a iniciativa russa que foi precipitada, pois ainda havia muito espaço para a diplomacia, mas também vão fazer os seus prognósticos. Haverá confrontos militares entre russos e ucranianos? Os russos limitar-se-ão apenas ao controlo do Donbass ou tenderão a ocupar o leste da Ucrânia, onde se encontra o porto de Mariupol, para se ligarem ao território da República Autónoma da Crimeia? Etc, etc.
O certo é que vêm aí tempos muito difíceis, porque “Putin orders troops to Ukraine’s East”, como hoje destaca The Wall Street Journal.