A imprensa turca
destaca nas suas edições de ontem o encontro havido entre Vladimir Putin e
Recep Tayyip Erdoğan,
que se reuniram à margem da cimeira asiática em Astana, a capital do Cazaquistão,
com a generalidade dos jornais turcos a publicar a fotografia dos dois líderes.
Segundo os relatos publicados, Putin propôs ao seu homólogo turco que o gás
russo possa vir a ser exportado através da Turquia, que poderia tornar-se num
grande centro de distribuição, isto é, “a Turquia é a mais confiável rota para o
gás destinado ao mercado europeu”, como titula a edição inglesa do diário Daily
Sabah.
Este facto mostra
claramente que a guerra também é um pretexto para fazer negócios, não só na
venda de armamento em larguíssima escala, mas também em muitas outras áreas,
como a distribuição de gás, em que até os países ibéricos se mostram
interessados.
No actual
contexto de guerra, de tragédia humanitária e de enorme destruição, que
alimentam a inflação, geram a recessão global e provocam o retrocesso
civilizacional do mundo, as conversas entre Putin e Erdoğan, que preside a um
país fundador da NATO, mostram que é possível o diálogo, bem como uma rápida saída para
o conflito. Em Julho, foi exactamente Erdoğan que, em parceria com as Nações
Unidas, conseguiu o acordo que permitiu que fosse retomada a exportação de
cereais ucranianos. Em Setembro, também a mediação diplomática turca levou à
troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia. Agora, Putin e Erdoğan encontraram-se
e, certamente, também discutiram a saída para esta guerra. Porém, no mesmo
dia, vimos e ouvimos Jens Stoltenberg (pela NATO) e Josep Borrell (pela União
Europeia) a assumirem-se como os mais agressivos e ameaçadores falcões do
ocidente e adversários do regime russo.
Entretanto, torna-se
evidente que a Ucrânia e Volodymyr Zelensky são, cada vez mais, os pretextos que
estão a ser usados para um confronto de interesses mais global.