sábado, 15 de outubro de 2022

Turquia, Erdoğan e os esforços pela paz

A imprensa turca destaca nas suas edições de ontem o encontro havido entre Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdoğan, que se reuniram à margem da cimeira asiática em Astana, a capital do Cazaquistão, com a generalidade dos jornais turcos a publicar a fotografia dos dois líderes. Segundo os relatos publicados, Putin propôs ao seu homólogo turco que o gás russo possa vir a ser exportado através da Turquia, que poderia tornar-se num grande centro de distribuição, isto é, “a Turquia é a mais confiável rota para o gás destinado ao mercado europeu”, como titula a edição inglesa do diário Daily Sabah.
Este facto mostra claramente que a guerra também é um pretexto para fazer negócios, não só na venda de armamento em larguíssima escala, mas também em muitas outras áreas, como a distribuição de gás, em que até os países ibéricos se mostram interessados.
No actual contexto de guerra, de tragédia humanitária e de enorme destruição, que alimentam a inflação, geram a recessão global e provocam o retrocesso civilizacional do mundo, as conversas entre Putin e Erdoğan, que preside a um país fundador da NATO, mostram que é possível o diálogo, bem como uma rápida saída para o conflito. Em Julho, foi exactamente Erdoğan que, em parceria com as Nações Unidas, conseguiu o acordo que permitiu que fosse retomada a exportação de cereais ucranianos. Em Setembro, também a mediação diplomática turca levou à troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia. Agora, Putin e Erdoğan encontraram-se e, certamente, também discutiram a saída para esta guerra. Porém, no mesmo dia, vimos e ouvimos Jens Stoltenberg (pela NATO) e Josep Borrell (pela União Europeia) a assumirem-se como os mais agressivos e ameaçadores falcões do ocidente e adversários do regime russo.
Entretanto, torna-se evidente que a Ucrânia e Volodymyr Zelensky são, cada vez mais, os pretextos que estão a ser usados para um confronto de interesses mais global.