quarta-feira, 11 de março de 2015

Os interesses tomaram conta dos jornais

A comunicação foi sempre o suporte da vida em sociedade ao permitir a circulação das ideias e das notícias, mas esse processo tem sido sempre evolutivo. Desde a comunicação interpessoal de base oral das sociedades primitivas foi percorrido um longo percurso que, em meados do século XX, chegou à comunicação de massas em que a informação se expande instantaneamente e à escala global. Os meios de comunicação de massas adaptaram-se às realidades e definiram os seus territórios, isto é, “a Rádio anuncia, a Televisão mostra e a Imprensa explica e comenta”. Porém, nos últimos tempos o mundo mudou, sobretudo devido ao aparecimento da internet, dos jornais digitais e das redes sociais. Os meios de comunicação tradicionais entraram em situação de dificuldade económica, sem leitores, sem anunciantes e sem jornalistas qualificados.
Foi então que, em maior ou menor grau, os interesses dos grupos económicos e dos agentes políticos tomaram conta dos meios de comunicação, que passaram a prestar-se a toda a espécie de manipulação dos ouvintes, dos telespectadores e dos leitores, que também são eleitores e consumidores. Os escândalos e o sensacionalismo passaram a encher os noticiários televisivos e as primeiras páginas dos jornais, moldando a percepção que os leitores ou os telespectadores têm da realidade, dizendo ou omitindo o que querem e manipulando a verdade em nome dos seus interesses. As verdadeiras notícias tendem a misturar-se com os discursos ideológicos, as mensagens publicitárias e a acção política, sobretudo o ataque aos adversários políticos. São os chamados pasquins mas, para nosso sossego, ainda havia os jornais de referência...
Estas considerações resultam do facto dos principais jornais portugueses terem aparecido hoje nas bancas com um visual diferente do habitual, que quase confundia os leitores. Todos eles adoptaram o vermelho nas suas primeiras páginas e utilizaram a frase publicitária “A Fibra de Última Geração Vodafone está a mudar o país”, como se fosse uma notícia. Chamando a atenção e suscitando o interesse.
Significa que, por motivos de ordem económica os jornais se prestaram a esse serviço publicitário à marca Vodafone, quase se confundindo com os folhetos publicitários do Pingo Doce, do Continente ou do Lidl. É caso para perguntar a que outros serviços se prestam e a quem os prestam.