sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Outros valores mais altos se alevantam

No passado dia 26 de Outubro o Parlamento da Catalunha elegeu Carme Forcadell para a sua presidência e, no seu discurso de posse, a nova Presidente declarou que “encerramos a etapa autonómica” e, sem nunca ter utilizado a palavra independência, fez a apologia dos seus valores e terminou o seu discurso com “Viva la democracia, viva el pueblo soberano y viva la república catalana”. Naturalmente, as suas palavras geraram o aplauso apoteótico de uma parte do Parlamento e um enorme silêncio da outra parte, significando que os independentistas não desistiram, antes acentuaram a luta pela independência da Catalunha e a sua separação da Espanha.
Uma vez mais, o orgulho espanhol e as instituições tremeram face à determinação dos deputados catalães e dos seus líderes, temendo pela unidade da Espanha. Por isso, houve reacções, designadamente dos líderes dos dois maiores partidos espanhóis que imediatamente se reuniram num almoço no Palácio de la Moncloa. Apesar de se irem confrontar nas eleições gerais espanholas já marcadas para o dia 20 de Dezembro, Mariano Rajoy (PP) e Pedro Sánchez (PSOE) deram público testemunho do seu acordo quanto à unidade da Espanha e quanto à rejeição do processo independentista catalão porque, como escreveu Camões em 1572 n'Os Lusíadas', “outros valores mais altos se alevantam”.
Este acto é exemplar e mostra que, mesmo em situação de acesa luta política e de disputa eleitoral, os espanhóis encontram espaço para acordos em questões estratégicas, como é a sua comum rejeição da aspiração independentista catalã. Lamentavelmente em Portugal, ao longo dos anos, não tem havido espaço para acordos de regime entre os dois maiores partidos portugueses e, provavelmente, esse será um dos grandes problemas do país. 

A Turquia já está ameaçada pela guerra

A instabilidade parece ser a característica principal da situação na Europa e nas suas vizinhanças e, como se já não houvesse tantos focos de justificada preocupação, os observadores internacionais estão agora a chamar a atenção para a Turquia e, como faz o Courrier International, pergunta se não estaremos perante uma nova Síria.
Durante muitos anos o Presidente Erdogan e o seu partido islamo-nacionalista AKP, adoptaram um modelo de democracia conservadora, aliando um capitalismo liberal com um islamismo moderado, fazendo crescer a economia e apostando na entrada na União Europeia. Porém, o que se tem passado nas suas vizinhanças e no próprio país alterou aquele quadro que aparentava estabilidade e progresso.
No próximo domingo, pela segunda vez este ano, os turcos vão às urnas para escolher o seu novo Parlamento numa altura em que o país está muito dividido e atravessa uma grave crise política e social, mas em que também está muito isolado no plano internacional por causa dos dossiers curdo e sírio. Muitos observadores não hesitam em classificar a situação de pré-guerra civil, com o Presidente Erdogan a reforçar o seu autoritarismo devido à sua obcessão com a questão curda e à perspectiva da criação de um Estado curdo nas suas fronteiras, mas também pela estagnação da economia, pelo peso dos refugiados e pelas graves dissensões internas do seu regime.
Além disso, as operações militares que tem desenvolvido contra o Estado Islâmico e contra os curdos, as manifestações da oposição ao seu regime e os violentos atentados que têm ocorrido, contribuem para um clima de grande tensão no país. Abandonada por americanos e russos, a Turquia parece à beira da implosão e o Courrier International pergunta se a Turquia não será a próxima Síria. Depois da Líbia, do Iémen, do Iraque e da Síria, iremos assistir ao colapso do Estado turco? Estaremos em vias de uma sirianização?