No passado dia 26
de Outubro o Parlamento da Catalunha elegeu Carme Forcadell para a sua
presidência e, no seu discurso de posse, a nova Presidente declarou que
“encerramos a etapa autonómica” e, sem nunca ter utilizado a palavra
independência, fez a apologia dos seus valores e terminou o seu discurso com
“Viva la democracia, viva el pueblo soberano y viva la república catalana”.
Naturalmente, as suas palavras geraram o aplauso apoteótico de uma parte do Parlamento
e um enorme silêncio da outra parte, significando que os independentistas não
desistiram, antes acentuaram a luta pela independência da Catalunha e a sua
separação da Espanha.
Uma vez mais, o
orgulho espanhol e as instituições tremeram face à determinação dos deputados
catalães e dos seus líderes, temendo pela unidade da Espanha. Por isso, houve
reacções, designadamente dos líderes dos dois maiores partidos espanhóis que
imediatamente se reuniram num almoço no Palácio de la Moncloa. Apesar de se irem
confrontar nas eleições gerais espanholas já marcadas para o dia 20 de
Dezembro, Mariano Rajoy (PP) e Pedro Sánchez (PSOE) deram público testemunho do
seu acordo quanto à unidade da Espanha e quanto à rejeição do processo
independentista catalão porque, como escreveu Camões em 1572 n'Os Lusíadas', “outros valores mais
altos se alevantam”.
Este acto é
exemplar e mostra que, mesmo em situação de acesa luta política e de disputa
eleitoral, os espanhóis encontram espaço para acordos em questões estratégicas,
como é a sua comum rejeição da aspiração independentista catalã.
Lamentavelmente em Portugal, ao longo dos anos, não tem havido espaço
para acordos de regime entre os dois maiores partidos portugueses e,
provavelmente, esse será um dos grandes problemas do país.