sábado, 22 de junho de 2019

Na Venezuela está tudo como dantes

A Venezuela parece continuar no impasse em que caíu no passado mês de Janeiro quando Juan Guaidó se auto-proclamou presidente interino do país. São poucas as notícias que chegam do país e a leitura da imprensa venezuelana, uma parte favorável a Guaidó e outra parte favorável a Nicolás Maduro, não nos dá informações suficientes. Parece, portanto, que está tudo como dantes, isto é, que há duas venezuelas e que fracassaram as cinco vezes que a oposição liderada por Guaidó anunciou “a ofensiva final” contra o regime de Maduro, provavelmente porque a oposição não é melhor que o regime chavista.
Foi neste quadro que Michelle Bachelet, a ex-presidente da República do Chile e antiga activista contra a ditadura de Pinochet, que desde Setembro de 2018 exerce as funções de Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos por escolha de António Guterres, visitou a Venezuela durante três dias, em que se reuniu com o governo e com a oposição. Segundo foi anunciado, Bachelet falou com toda a gente, ouviu relatos de violação dos direitos humanos por parte dos corpos policiais venezuelanos e outras queixas sobre a situação social no país.
Nicolás Maduro disse que vai levar a sério as recomendações de Bachelet que, entretanto, salientou que a situação humanitária do país se deteriorou de forma extraordinária, pediu a libertação de cerca de 687 pessoas detidas por razões políticas e criticou a repressão aos opositores do regime. No fim, Michelle Bachelet ouviu elogios de todos os seus interlocutores e, até aqueles que a acusaram de um silêncio cúmplice para com o governo de Maduro, a elogiaram. Naturalmente, ela pediu ao governo e à oposição para se empenharem num diálogo e numa resolução negociada das suas diferenças. Toda a imprensa venezuelana, designadamente o diário 2001 de Caracas, destacou a visita de Michelle Bachelet, tendo publicado a sua fotografia com Maduro e com Guaidó. Parece que, pelo menos a imprensa, ainda é livre na Venezuela.

A crise do Golfo e o uso de PlayStations

Na passada quinta-feira os Guardas da Revolução Iraniana anunciaram ter abatido um drone ou avião não-tripulado da Marinha americana que, alegadamente, violava o seu espaço aéreo na área do estreito de Ormuz. Em tempo de grande tensão entre os Estados Unidos e o Irão, este incidente deu origem a mútuas acusações, a ameaças, à convocatória do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a muitas declarações dos líderes mundiais pedindo contenção às partes.
O drone de modelo RQ-4C Triton foi fabricado pela Northrop Grumman, tem o aspecto de um pequeno avião com 14 metros e meio de comprimento, pode voar durante 24 horas a altitudes superiores a 16 mil metros e tem um alcance operacional de 8200 milhas. Cada uma destas unidades custa mais de cem mil dólares. Como retaliação, o presidente Donald Trump declarou que a acção iraniana foi um erro e terá aprovado um ataque ao Irão, mas à última hora cancelou a sua decisão porque entendeu que os 150 mortos previstos nesse ataque eram desproporcionados em relação ao abate do drone, mas também porque os líderes do Congresso lhe pediram cautelas. O Irão não se ficou e veio declarar que também detectou um avião tripulado americano em violação do seu espaço aéreo mas que poupou a vida aos seus 35 ocupantes, isto é, os Estados Unidos não quiseram matar 150 iranianos e o Irão não quis matar 35 americanos.
O assunto é sério e é evidente que nestas coisas entram demasiadas variáveis e que muitas delas são fabricadas e mentirosas, mas cada vez mais parece que os conflitos bélicos do nosso tempo tendem a ser resolvidos com PlayStations, em que os computadores de uns lutam com os computadores dos outros. O jornal Khaleej Times, que se publica no Dubai, foi um dos poucos jornais mundiais que deram destaque de primeira página ao abate do drone americano, provelmente porque a sua base era nos Emirados Árabes Unidos.