A Venezuela
parece continuar no impasse em que caíu no passado mês de Janeiro quando Juan
Guaidó se auto-proclamou presidente interino do país. São poucas as notícias
que chegam do país e a leitura da imprensa venezuelana, uma parte favorável a
Guaidó e outra parte favorável a Nicolás Maduro, não nos dá informações
suficientes. Parece, portanto, que está tudo como dantes, isto é, que há duas
venezuelas e que fracassaram as cinco vezes que a oposição liderada por Guaidó
anunciou “a ofensiva final” contra o regime de Maduro, provavelmente porque a
oposição não é melhor que o regime chavista.
Foi neste quadro
que Michelle Bachelet, a ex-presidente da República do Chile e antiga activista
contra a ditadura de Pinochet, que desde Setembro de 2018 exerce as funções de
Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos por escolha de
António Guterres, visitou a Venezuela durante três dias, em que se reuniu com o
governo e com a oposição. Segundo foi anunciado, Bachelet falou com toda a
gente, ouviu relatos de violação dos direitos humanos por parte dos corpos
policiais venezuelanos e outras queixas sobre a situação social no país.
Nicolás Maduro
disse que vai levar a sério as recomendações de Bachelet que, entretanto, salientou
que a situação humanitária do país se deteriorou de forma extraordinária, pediu
a libertação de cerca de 687 pessoas detidas por razões políticas e criticou a
repressão aos opositores do regime. No fim, Michelle Bachelet ouviu elogios de
todos os seus interlocutores e, até aqueles que a acusaram de um silêncio
cúmplice para com o governo de Maduro, a elogiaram. Naturalmente, ela pediu ao
governo e à oposição para se empenharem num diálogo e numa resolução negociada
das suas diferenças. Toda a imprensa venezuelana, designadamente o diário 2001
de Caracas, destacou a visita de Michelle Bachelet, tendo publicado a sua fotografia com Maduro e com Guaidó. Parece que, pelo menos a imprensa, ainda é livre na Venezuela.