O antigo ministro
Arnaut, que também foi secretário-geral do partido que nos governa, acaba de
ser nomeado para o conselho consultivo internacional do banco americano Goldman
Sachs, uma assembleia de 18 consultores especializados em relações promíscuas e
contratos especulativos com alguns governos, conforme um filme recente bem
evidenciou. Foi óptimo para ele, mas também para nós porque nos livramos das suas
aparições televisivas a transpirar de vaidade.
Esta nomeação
acontece quando está em curso um programa de privatizações que o governo tem
seguido desde 2011 com vista à redução da dívida pública, mas também para
cumprir uma orientação ideológica que visa afastar o Estado da actividade
económica. Nessas privatizações destacou-se o escritório de advogados CSM Rui
Pena & Arnaut e o seu sócio J. L. Arnaut, que estiveram envolvidos em todas elas,
além de terem contado com o lobbying feito
nas televisões pelo mesmo Arnaut, embora disfarçado de comentador. Arnaut começou por
estar na privatização da EDP, seguiu-se a privatização da REN (para onde foi depois
nomeado administrador) e depois a privatização da ANA (onde fez aconselhamento
jurídico à empresa francesa Vinci e onde passou a ser presidente da Assembleia
Geral). Esteve depois na falhada privatização da TAP (onde fez assessoria
jurídica) e, depois na venda em bolsa dos CTT, em que a Goldman Sachs se tornou
o seu maior accionista.
Arnaut é um
exemplo da promiscuidade entre o interesse público e o interesse privado. Uma
vezes esteve com o Estado, outras vezes com as empresas vendidas e outras,
ainda, com as entidades compradoras. Esteve sempre com quem lhe pagou melhor.
Sempre em completa confusão entre política e negócios. Sem o mínimo pudor. Representou os interesses de bancos como o
Goldman Sachs e o JP Morgan nas negociações com os swaps, foi contratado pelo governo português para assessorar a
emissão de dívida pública e
acusou os
juízes do Tribunal Constitucional de quererem manter privilégios. Tudo isto está escrito nos jornais. Todos esses
serviços foram agora premiados com a sua nomeação para o conselho dos abutres.