As coisas da
governação não têm corrido bem àquela malta e, recentemente, foi dito que “o país está a ser
destruído” e que, assim, iremos afundar-nos. Porém, o governo decidiu dramatizar
e teatralizar a situação e tem pretendido passar a mensagem de que não há
alternativa política ao actual rumo e tem procurado contrariar a realidade com
a falsa ideia de que tudo tem corrido bem (até ao chumbo do Tribunal
Constitucional). Assim, a entrevista de Mário Soares ao jornal i é mais um sinal de lucidez a denunciar “o tremendo
desastre que está realmente em curso” e o que por ele foi dito, com a sua experiência
e sabedoria, é realmente para ser levado em conta.
Perante a grave
crise da União Europeia e do euro, Mário Soares considera que é necessário
começar por “repor os mercados usurários a obedecer aos estados, e não o
contrário”. Por isso, critica a subserviência do governo em relação à troika,
que vem operando e ameaçando com arrogância e que tem sido aceite passivamente “como se fosse dona de Portugal”.
Na realidade, a troika devia ser uma representante do projecto europeu de
solidariedade e de progresso partilhado, mas comporta-se como um verdadeiro bando de
abutres que, através de condições muito severas e de juros especulativos, vem
atentando contra a dignidade nacional de um estado-nação que é o mais velho da
Europa. O que, provavelmente, nem a troika nem os seus luso-interlocutores, sabem.
Mas a crítica de
Mário Soares também se dirige ao homem do leme que “se permite passar uma
semana na Colômbia e no Peru” e que não tem consciência da gravidade da crise
que se vive no país. E, recorrendo à História, recorda o que se passou há 105 anos,
em que “por muito menos que isto foi morto o rei D. Carlos”. São apenas algumas das reflexões
de Mário Soares.