sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Os submarinos garantem a soberania e a autoridade do Estado

O jornal inglês The Guardian destaca hoje em primeira página as preocupações britânicas quanto ao novo submarino nuclear HMS Astute, que se previa ser a mais sofisticada unidade alguma vez construída para a Royal Navy, mas que está a revelar muitas falhas de construção e a levantar dúvidas quanto aos seus futuros desempenho e segurança, para além de não atingir a velocidade contratada, exibir muitas corrosões e ter demasiadas infiltrações de água. Os submarinos são um meio de defesa e de dissuasão das grandes potências marítimas, mas também são frequentemente considerados como a “arma dos pobres”.
Nesta perspectiva, a posse de submarinos não é um luxo, mas um factor de dissuasão e de afirmação do Estado. Porém, enquanto em Portugal se discute muitas vezes a necessidade de haver dois submarinos que custaram 500 milhões de euros cada um - todas as nações marítimas da Europa de média dimensão têm frotas de submarinos bem mais numerosas - no Reino Unido discute-se se o primeiro dos sete submarinos nucleares da classe Astute satisfazem ou não as especificações de uma encomenda no valor de 9,75 mil milhões de libras (12,15 mil milhões de euros), ao preço unitário de 1,75 mil milhões de euros.
No caso de Portugal, cujas águas jurisdicionais são a 11ª área marítima mais extensa do mundo e a maior da Europa, maior por exemplo do que as da Índia ou as da China, é a Marinha que assegura a autoridade do Estado, a defesa militar, a segurança e o apoio à exploração económica e científica do mar, através das suas estruturas e dos seus meios, entre os quais estão apenas dois submarinos.

A austeridade não é para os amigos

A edição do Diário de Notícias noticia hoje em primeira página que “1500 nomeados pelo Governo receberam subsídio de férias”, acrescentando que esse número é mais de dez vezes superior ao que foi revelado em Setembro passado. Nessa altura foi anunciado que tinham sido apenas 131 os assessores e especialistas dos gabinetes ministeriais admitidos pelo Governo que receberam subsídio de férias em 2012, mas agora foram acrescentados mais 1323 nomes de pessoas que foram nomeadas para outros organismos do Estado e que também receberam subsídio de férias. São os famosos boys! Assim, segundo o Diário de Notícias, “o total dos boys que beneficiaram desta excepção ao cumprimento do OE 2012 ascende a 1454”, isto é, houve quase 1500 pessoas nomeadas pelo actual governo que receberam subsídios de férias em 2012, contrariamente ao que aconteceu com a generalidade dos trabalhadores da Função Pública, apesar da proibição decretada no Orçamento do Estado. Pode ser uma habilidade e não uma ilegalidade, mas é seguramente uma vergonha! Muitos destes assessores e especialistas são jovens recentemente saídos das universidades que nunca trabalharam, que se anicharam na Administração Pública sem concurso, que se instalaram nos gabinetes ministeriais com o seu cartão partidário para obterem a sua primeira experiência profissional, com salários da ordem dos três e quatro mil euros mensais e outras regalias. O Governo invocou que o subsídio pago era um direito adquirido em 2011. É caso para perguntar se os funcionários públicos e os pensionistas não tinham também esse direito adquirido muito antes de 2011? Lá se foram cerca de 765 mil euros dos nossos impostos. Como se vê, o ofício de assessor é um grande emprego e a austeridade não é para os amigos. É só para os outros.

A Europa em agonia

O dia 14 de Novembro ficou assinalado por um protesto que, pela primeira vez, teve uma dimensão europeia e revelou que as políticas de austeridade que estão a ser adoptadas na maioria dos países, são altamente responsáveis pela profunda crise que atravessamos e pelas marchas, greves e paralisações havidas em duas dezenas e meia de países.
 A edição de hoje do Jornal i, com base nas estimativas do Eurostat ontem publicadas, alerta para a complexa situação europeia ao titular: “Europa em agonia. França e Alemanha à beira da recessão”. Na realidade, a economia da Zona Euro mergulhou em recessão pela segunda vez em quatro anos, reflectindo a crise do sistema financeiro e da moeda única, os excessos do seu modelo social, o desemprego, a perda de competitividade e o impacto das políticas de austeridade. Há uma acentuada desaceleração ou mesmo recessão em algumas economias, casos da Espanha, Holanda, Itália, Áustria e França, mostrando que, ao contrário do que por vezes se pensa, as dificuldades não estão apenas na Grécia, na Irlanda e em Portugal, mas que se estendem a outros países europeus, incluindo a Alemanha. Como muita gente diz desde há muitos anos, a velha e gorda Europa está numa crise estrutural, não tem líderes prestigiados e está rendida aos especuladores.
Tão grave quanto esta triste realidade é o facto de muito dependermos desta Europa em agonia. Acontece que durante a campanha eleitoral de 2011, foi repetido pelo nosso primeiro e pelos seus conselheiros, que o nosso problema não tinha nada a ver com a crise internacional e que era apenas uma questão de afastar o pinto de sousa e de cortar as gorduras do Estado. Lembram-se? Pois chegaram ao poder, rasgaram as promessas eleitorais e agora não navegam: estão à deriva numa Europa em agonia.